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Isabel SimõesA Assembleia da República aprovou na última sexta-feira, dia 2 de dezembro, com o voto contra do Chega, um voto de saudação apresentado pelo presidente do parlamento pelo centenário do escritor José Saramago.
O texto apresentado por Augusto Santos Silva mereceu voto favorável de todas as restantes bancadas e deputados.
O voto recorda que se assinalaram em 16 de novembro os cem anos do nascimento de Saramago, “ocasião para saudar e evocar a memória de um dos maiores escritores da língua portuguesa, o único, até hoje, a quem foi atribuído o Nobel da Literatura”.
O voto do presidente da Assembleia da República recorda o percurso biográfico de José Saramago – que morreu em junho de 2010 – , referindo que o escritor, por dificuldades financeiras, teve de abandonar os estudos secundários e frequentar o curso técnico.
“O seu primeiro emprego foi como serralheiro mecânico. Em casa, não havia livros, tendo adquirido o seu primeiro livro aos 19 anos, com dinheiro emprestado de um amigo. Na Biblioteca Municipal de Lisboa, que começara a frequentar no horário noturno, alimentava o seu desejo de saber e de instrução literária”, refere Santos Silva.
O voto refere que o escritor tinha 25 anos quando publicou o seu primeiro romance, Terra do Pecado, tendo, nas décadas seguintes, sido “funcionário público, tradutor e crítico literário na Seara Nova, publicou poemas e foi jornalista, no Diário de Lisboa e Diário de Notícias, onde exerceu as funções de diretor adjunto”.
A partir do momento em que se torna “escritor a tempo inteiro”, publicou, em 1980, Levantado do Chão, em 1982, Memorial do Convento, em 1984, o Ano da Morte de Ricardo Reis, e, dois anos mais tarde, Jangada de Pedra.
Em 1989, publicou História do Cerco de Lisboa, e, em 1991, o Evangelho Segundo Jesus Cristo, “obra que foi incompreensivelmente excluída do Prémio Literário Europeu pelas autoridades, motivando o protesto magoado de Saramago, que mudou de residência para Lanzarote, em Espanha”, recorda o voto.
Em 1995, Saramago escreve Ensaio Sobre a Cegueira, seguindo-se Todos os Nomes (1997), A Caverna (2000), O Homem Duplicado (2002), Ensaio Sobre a Lucidez (2004), As Intermitências da Morte (2005), A Viagem do Elefante (2008) e Caim (2009).
O voto de Santos Silva recorda também “as suas convicções e militância política, como membro do Partido Comunista Português desde antes do 25 de Abril”.
“Não por acaso, são centrais em Saramago o tratamento das pessoas comuns como sujeitos, assim como um questionamento da religião, da nossa cultura e da própria história, bem como da forma como o indivíduo se relaciona com a sociedade. Esta capacidade de questionar, invertendo os termos, contrariando os pressupostos, é essencial na leitura da obra saramaguiana”, refere.
José Saramago recebeu múltiplas distinções ao longo da vida, em Portugal e no estrangeiro, destacando-se entre aqueles a atribuição, em 1998, do Nobel da Literatura, por, como explicou a Academia Sueca, “com parábolas portadoras de imaginação, compaixão e ironia tornar constantemente compreensível uma realidade fugidia”.
“A Assembleia da República, reunida em sessão plenária, evoca o escritor José Saramago, saudando, na data em que se comemora o centenário do seu nascimento, a sua memória, bem como a grandeza e a singularidade da sua obra”, lê-se na parte resolutiva do voto.
Com Agência Lusa
Fotografia: Site da Assembleia da República