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Gonçalo Quadros: “Aceleração da mudança é brutal e o essencial passa-nos ao lado e não devia acontecer”

Segundo o cofundador da Critical Software, no futuro, espera-nos uma sociedade distópica com grandes desigualdades, em que serão muito poucos a deter os lucros produzidos pela Inteligência Artificial, o conhecimento que fará a diferença também estará a ser controlado por esses poucos

A capacidade da máquina processar dados a uma grande velocidade e de os interpretar dar-lhe-á em breve vantagem na resolução de problemas em relação ao ser humano.

Desta vez, o impacto da tecnologia, já não será setorial como no passado, será transversal e haverá um problema de desqualificação.  Com a Inteligência Artificial (IA) muito do trabalho vai poder ser feito por qualquer pessoa sem formação especializada, alertou Gonçalo Quadros.

“Regulação e governação” são elementos necessários mencionou esta manhã na Faculdade de Letras da Universidade da Universidade de Coimbra (FLUC), o chairman da Critical Software, Gonçalo Quadros.

No final, à margem da conferência, voltou a reafirmar as principais preocupações em relação “à revolução em curso”.

Gonçalo Quadros apelou à Inteligência coletiva dos cidadãos para aprofundar o conhecimento do que vai ser “a aceleração da mudança brutal em curso” e que nos está a passar ao lado.

A discussão e as decisões sobre o impacto da Inteligência Artificial nas nossas vidas não acompanha a velocidade como esta evolui. “Os timings de resposta são simplesmente desadequados”, disse.

O cofundador da Critical Software quer mais debate sobre os desafios que a Inteligência Artificial coloca. Um dos assuntos a ser decidido tem a ver com a “ética” que as máquinas devem seguir.

Regulação e Governação é o necessário disse na sessão. Há dimensões éticas que não se colocam aos humanos como o direito à privacidade de cada um. Depois de definida a ética que as máquinas devem seguir há uma segunda questão.

A corrida a estas tecnologias é feita por grandes ‘players’ internacionais como a China e os Estados Unidos. A competição geopolítica, económica e tecnológica não é colaborativa e impõe a lógica de cada um a tentar “chegar mais à frente primeiro”.

A IA e o Jornalismo

Para Daniel Catalão, jornalista da RTP, outro dos convidados da conferência, uma das formas de manter critérios e deontologia jornalística prende-se com a estratégia de passar as decisões editoriais pela mão humana. Conhecer a IA e aprender a dominá-la, é “o grande desafio do jornalismo”, disse.

Se nos deixarmos dominar pelos sistemas de Inteligência Artificial, cujo conteúdo pode ser “falso”,  então, “o jornalismo morre”, alertou o jornalista da RTP.

Sobre os desafios que se colocam à imprensa regional e aos pequenos semanários locais, Daniel Catalão deu o exemplo dos Açores em que por vezes existe um só jornalista na redação que faz a publicação e tudo o resto. “Temos de olhar para a realidade da IA e sermos pragmáticos”, afirmou.

Uma das consequências da introdução nas redações da IA será “o despedimento de jornalistas, as fusões de órgãos de informação, à medida que a indústria tenta cortar custos e agregar valor”. Ainda assim, para Daniel Catalão,  a aprendizagem pelos profissionais do que é a IA “é essencial” e apesar de “não ser uma ferramenta normal”, podemos “tirar partido dela” .

O debate “Os impactes da Inteligência Artificial no jornalismo e na democracia” foi promovido pelo Sindicato dos Jornalistas e Secção de Jornalismo e Comunicação da FLUC.

Para além de Daniel Catalão e de Gonçalo Quadros, participaram Ernesto Pedrosa, CEO da “Automaise”, uma empresa do Consórcio Inteligência Artificial Responsável, Portugal, e Carlos Camponez da FLUC.

A sessão foi moderada por Ana Isabel Costa, vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas.

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