Semana à Sexta: Alterações climáticas e transição energética em debate na RUC
Numa altura em que a crise energética domina a discussão no espaço público, António Carvalho, Paulo Coelho e Mariana Lourenço estiveram na Rádio Universidade de Coimbra (RUC) para discutir alterações climáticas e alternativas energéticas.
O programa Semana à Sexta do dia 28 de outubro contou com a participação do investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, António Carvalho, do professor do Departamento de Engenharia Civil, Paulo Coelho e da ativista da Greve Climática Estudantil, Maria Lourenço.
Os três convidados concordam que a guerra na Ucrânia estimulou o debate em torno da transição energética. Segundo Paulo Coelho, a crise climática e a necessidade de se ter alternativas energéticas são questões importantes que se tornaram mais urgentes com a guerra. O professor aborda as diferenças em termos energéticos dos carros elétricos e dos carros a diesel e explica que, ao se fazer uma análise do ciclo de vida dos dois tipos de veículo, não é claro qual dos dois é mais sustentável.
O engenheiro critica a publicidade que apresenta os carros elétricos como 0% emissores de dióxido de carbono, esclarecendo que é apenas “quase verdade” no momento em que o veículo está completamente carregado até a bateria descarregar. A produção de energia elétrica necessária para o carregar, é gerada muitas vezes de forma não sustentável e não renovável. Paulo Coelho aponta o lítio, usado nas baterias nos automóveis, como sendo problemático, estando este limitado à escala global numa ótica de transição energética. A sua produção exige mais mineração, o que resulta num impacto ambiental forte. O engenheiro acrescenta que um carro a diesel pode poluir menos se o condutor praticar uma condução sustentável.
António Carvalho tem estudado a forma como os diferentes coletivos se posicionam perante a questão das alternativas energéticas. O investigador explica que a maneira como a transição energética é idealizada e pensada, difere consoante as partes interessadas. Se, para o governo, a transição energética pode ser vista como um “motor de desenvolvimento”, na perspetiva dos interesses privados como as empresas, integrar preocupações de sustentabilidade na forma como operam e como se apresentam no mercado, permite-lhes alcançar uma potencial “modernização capitalista”.
No que diz respeito ao uso do hidrogénio verde como uma alternativa mais sustentável, Paulo Coelho indica que a sua produção é dispendiosa visto que consome muita energia, acarretando repercussões ambientais significativas. António Carvalho rejeita a ideia de olhar para o hidrogénio verde como um recurso milagroso: o investigador recorda que em Portugal já teve recursos naturais como o urânio, crendo-se que levaria o país a ultrapassar a carência de energias fósseis.
Quanto ao impacto da guerra na Ucrânia, Maria Lourenço crê que a atenção foi desviada para a guerra e não para a necessária transição energética. A ativista afirma haver um problema estrutural que os jovens não conseguem resolver, o que leva a Greve Climática Estudantil a agir para culpabilizar e pressionar o governo e as empresas a mudarem a forma como encaram o problema.
A estudante partilhou com a RUC a sua opinião relativamente aos recentes protestos, alguns deles consistindo em atirar sopa a obras de arte. A ativista percebe a forma de protesto e defende que se deve tratar a emergência climática como tal. No entanto, Mariana Lourenço reconhece que há melhores formas de protestar, não esmorecendo o mérito da ação.
Paulo Coelho condena a perceção de que para se ser mais sustentável deve-se usar menos recursos de energia e, consequentemente, perder qualidade de vida. O professor refere que o problema que fica por resolver é como manter a qualidade de vida, usando os recursos de forma razoável. O entrevistado explica que uma casa bem isolada tem efeitos no uso de energia. Paulo Coelho defende a implementação de uma ajuda financeira que passe também pela explicação do processo, destinada ao desenvolvimento de projetos de isolamento térmico para garantir uma maior poupança energética no futuro.
Pode ouvir o programa completo acima.
Fotografia: empreendedor.com