AUTOR: Isabel Simões

DATA: 25.11.2021

DURAÇÃO: ...

Pode alguém apaixonar-se pelo cineasta Ingmar Bergman e escrever uma biografia romanceada? A resposta é sim, e pode até ver a sua obra premiada.

Foi o que aconteceu ao livro “Ingmar Bergman – O Caminho contra o Vento”, escrito por Cristina Carvalho. Ganhou o Grande Prémio de Literatura Biográfica Miguel Torga. Uma organização da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e da Associação Portuguesa de Escritores.

A cerimónia de entrega do galardão teve lugar hoje, ao final da manhã no Salão Nobre dos Paços do Concelho. A galardoada falou com a RUC sobre a importância do prémio.

No livro, “uma mulher fala em nome de um homem, um octogenário resmungão e maníaco que dá pelo nome do grande artista que foi, mas não tem já a mesma potência criadora”, contou na cerimónia a presidente do júri, Cristina Robalo Cordeiro. “Talvez estejamos perante um auto, hetero retrato, da velhice personificada. Da velhice de um rei que se despoja dos bens da terra”, mencionou a também professora na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

À semelhança de Carlos V quando renunciou ao Império também “Bergman desde 1960, com apenas 42 anos se retirou para a ilha Fårö, renunciando ao mundo sem no entanto renunciar à sua arte”, lembrou a presidente do júri que atribuiu o prémio. Em 2018, Cristina Carvalho decidiu escrever sobre o cineasta sueco.

Filha dos escritores Natália Nunes e António Gedeão – pseudónimo de Rómulo de Carvalho. A escritora, lembrou a coincidência de receber o galardão no mesmo dia em que o pai nasceu, 24 de novembro. Autora de 21 obras de ficção e ensaio, o género romance biográfico tem a preferência da autora.

Cristina Carvalho viveu em Coimbra desde os três meses de vida até aos sete anos de idade, quando o pai foi professor no antigo Liceu D. João III, agora José Falcão. “Foi uma solitária mas feliz”, disse. A filha de escritores cresceu e viveu sempre no meio dos livros, pelo que, teria sido difícil fugir de ser escritora.Incapaz de escrever sobre os biografados “sem pisar” os lugares que eles pisaram. Falou-nos do refúgio de Ingmar Bergman. O cineasta sueco morreu em casa na ilha de Fårö aos 89 anos. De acordo com familiares de forma tranquila. Na ilha recebia os amigos e concebia as suas obras mas não era um eremita.

A escritora vai publicar em breve uma biografia do sueco August Strindberg. Em abril do próximo ano desloca-se à Irlanda para visitar os sítios em que viveu o Nobel de Literatura de 1923, Yeats.

Técnica a cargo de Pedro Cardoso

Fotografia: CMC