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Livro de João Moreira analisa pensamento e ação de três Intelectuais “num país em transformação”
A obra, propõe uma reflexão sobre o pensamento de três intelectuais no período que vai de 1968 a 1986: António José Saraiva, Eduardo Prado Coelho e João Martins Pereira.
“Intelectuais Portugueses e a Ideia de Esquerda num tempo de transição” – o livro escrito por João Moreira foi apresentado ontem sábado, dia 7 de junho, na Livraria Almedina do Estádio Cidade de Coimbra.
Segundo o autor, a escolha recaiu sobre os três intelectuais devido à sua influência significativa no espaço público no período da história recente portuguesa.
Embora dois deles, António José Saraiva e Eduardo Prado Coelho, sejam mais conhecidos do grande público, João Martins Pereira é destacado como um pensador importante nas esferas culturais e políticas, em especial antes e depois do processo revolucionário.
João Moreira lembra a participação de João Martins Pereira em duas publicações que marcaram o tempo antes da queda do Estado Novo.
Secretário de Estado da Indústria no IV Governo Provisório, João Martins Pereira, teve um papel fundamental no processo de nacionalizações. Foi, ao longo do tempo, uma referência constante da esquerda — uma esquerda “à esquerda do PS”.
Pontos de contacto e divergência
Os três intelectuais partilhavam um ponto de partida comum: todos, em 1968, pertenciam à oposição democrática ao Estado Novo. Mostravam interesse pelas potencialidades do marxismo, não apenas como doutrina política, mas como ferramenta de análise da realidade portuguesa. No entanto, os seus caminhos divergiram com o tempo.
António José Saraiva e Eduardo Prado Coelho tiveram vínculos diretos ao Partido Comunista Português. Ambos acabaram por se afastarem do PCP.
Já João Martins Pereira, apesar de nunca ter sido militante comunista, participou ativamente na transformação política do país e representou uma via marxista alternativa.
Onde estão hoje os intelectuais?
Quando questionado sobre a existência de intelectuais com impacto semelhante no panorama contemporâneo, o orador traçou um diagnóstico sombrio.
“Vivemos hoje num tempo marcado pelo imediatismo, pelas redes sociais e pelo domínio do neoliberalismo nos meios de comunicação”, afirma.
João Moreira considera que “já não há tempo lento” para a reflexão ou espaço para as humanidades, e isso mina a emergência de intelectuais com visibilidade e influência política e cultural.
No entanto, esclarece que nomes como José Gil ou Eduardo Lourenço ainda constituem exemplos de pensamento profundo e dialogante com o país. Ou seja, são exceções num panorama marcado pela desvalorização do pensamento crítico.
E quanto ao futuro?
O interesse de João Moreira centra-se agora nas organizações da esquerda radical que surgiram no final do
Estado Novo e durante o PREC – Processo Revolucionário em Curso.
Para o autor grupos como o MES (Movimento de Esquerda Socialista), a LCI (Liga Comunista Internacionalista) e outros foram fundamentais na introdução de novas agendas no espaço público — sexualidade, ecologia ou democracia direta.
Com a próxima obra em mente, o autor pretende mapear esse “outro lado” da história política portuguesa: não o das grandes formações partidárias, mas o dos movimentos que, embora marginais, trouxeram inovação, energia e alternativas ao debate dominante.
“Intelectuais Portugueses e a Ideia de Esquerda num tempo de transição”, tem como origem a tese de doutoramento de João Moreira distinguida pela Fundação Mário Soares EDP e pelo Prémio Vítor de Sá de História Contemporânea.
A obra publicada pela Edições Afrontamento foi apresentada por Ana Mónica Fonseca docente no ISCTE e pelo historiador Rui Bebiano docente aposentado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
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