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06.05.2025POR Beatriz Sousa

Liberdade Musical e Inovação Eletrónica na 4ª edição do Sónar Lisboa

De 11 a 13 de abril, Lisboa deixou-se embalar pelo espírito irreverente e amplo da música eletrónica. A Rádio Universidade de Coimbra pôde presenciar o fim de semana dos ‘bpms’ criativos e únicos do Sónar Lisboa. 

A quarta edição lisboeta deste festival, tipicamente barcelonense, ouviu-se no coração da cidade, mais precisamente no Parque Eduardo VII, onde, sob três palcos, ecoou a música eletrónica nacional e internacional, pautada pela sua inovação e experimentação. Num fim-de-semana onde a chuva ameaçava causar faísca, o Sónar Lisboa abriu as portas para o seu cartaz promissor. Os nomes em destaque nesta quarta edição foram Richie Hawtin com Dex EFX X0X, Underworld e Jeff Mills, a pautarem-se pelos valores do techno. No cenário desta veia palpitante da música eletrónica pôde-se contar com outros nomes de referência, que apontaram e acertaram no que se espera num set para hard clubbing, energia, surpresa e muita dança.

A tarde de sábado, dia 12 de abril, contou com dois ‘takeovers’ promissores. No palco SonarVillage, contámos com o coletivo LGBTIQA+ lisboeta, Dengo Club. Nomes como Banu, Saint Caboclo, líderes deste movimento e projeto, mostraram a essência da Dengo e da energia queer, afirmando que a música é um ato cultural inerentemente político e ativista. A este momento, juntaram-se Lua de Santana, artista galego-brasileira, e San Farafina, membro indispensável do coletivo moonshine. O takeover deste palco externo do Sónar, guiou-se pelos valores da liberdade, política e reivindicação, com bastante funk, house, kuduro à mistura. Criando o ambiente ideal para dançar e celebrar a liberdade de ser.

No outro lado do recinto do Sónar, o palco SonarPark foi assolado pela junção de forças entre a editora lisboeta, Príncipe, e a editora colombiana TraTraTrax. A primeira já pinta o cenário musical lisboeta há 15 anos, mantendo o seu estatuto de apelar entre o encontro da música eletrónica com as cadências rítmicas angolanas. A segunda, conta com um estatuto promissor dentro da música eletrónica da latina. Os nomes que brilharam neste palco foram Dj Narciso e Dj Lycox, da Príncipe, que entregaram dois sets animados e sedutores, seguidos de Bitter Babe, que tomou as rédeas dos beats latinos e do funk, com bastante eletrónica à mistura, algo habitual da TraTraTrax, e Lomalinda, seguindo firme com o legado. A grande novidade neste palco foi indubitavelmente o back-to-back entre Nick Léon e Dj Firmeza. Um crossover entre duas gravadoras e editoras que apanhou os seguidores de ambos desprevenidos. Sem promessas feitas para além de um bom set, neste perdurou a química, o inesperado e o inigualável. Entre dois djs com sonoridades distintas, no entanto com as suas grandes similaridades, o expectável foi deixado à porta e a mistura de energias foi a grande convidada na pista de dança. 

O terceiro palco deste segundo dia de Sónar, contou com grandes nomes como King Kami com Joao Parente AV e OR:LA, que reforçaram a aura de misticidade do techno típico do SonarClub. A festa diurna transpôs-se para a noite, com o segundo e último dia do Sónar By Night, mantendo viva a cultura de ‘clubbing’ ao som de techno e hard techno, destoando das batidas rítmicas do dia.

 O último dia do Sónar fez-se ao som de jungle, dembow, breaks, funk, techno tribal, hardcore e house. O palco SonnarVillage foi ocupado pela editora Enchufada que apresentou nomes como Mu540, Hagan, Pedro da Linha, Quant e Rita Vivian. O destaque vai para os ritmos de baile funk, do trap, do afro house e do r&b com o jazz. Entre a fusão do fado com o r&b e do rap, ao eletro-kuduro e ao eletro-funk, que fechou este palco do Sónar. Mu540 apresentou um set memorável com vários momentos entre o funk, o trap e ritmos mais nostálgicos, o fim das celebrações eletrónicas neste palco fez-se com este produtor que as tomou como a cereja no topo do bolo. 

Já no palco SonarPark, contamos com um takeover dos ritmos de jungle, DnB, dembow, tribal e ritmos de funk, desde Maki, que abriu este palco, e Juliana Huxtable, que o encerrou. O destaque e animo desta tarde pode ser atribuído ao duo parisiense, Amor Satyr & Siu Mata, que explodiram a pista do Sónar com os seus ritmos e beats homónimos. Após a sua atuação, que teve direito a uma conversa com a RUC, Clementaum pisou e brilhou, com os ritmos jersey e do baile funk, delineando a restante parte da sua atuação.  

Com esta diversidade de batidas e de ritmos se concretizou mais uma edição do Sónar, que apelou pela criatividade e espírito da música eletrónica. A participação de duas editoras portuguesas cruciais para diversos movimentos e comunidades, que procuram afirmar o seu espaço na sociedade, demonstrou a cultura diversa e rica que coexiste dentro dos demais artistas. Comprovando que a música é inerentemente politica e que ainda há muito por conquistar e descobrir no contexto musical português.

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