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Amplifest 2024 – Feliz Aniversário, Amplificasom!

No fim de semana de 8, 9 e 10 de Novembro, a Rádio Universidade de Coimbra fez a viagem até ao Porto para celebrar o 18º aniversário da Amplificasom, na 10ª edição do Amplifest – numa edição que não só está de parabéns, mas será para recordar. Pelo terceiro ano consecutivo tivemos o prazer de […]

No fim de semana de 8, 9 e 10 de Novembro, a Rádio Universidade de Coimbra fez a viagem até ao Porto para celebrar o 18º aniversário da Amplificasom, na 10ª edição do Amplifest – numa edição que não só está de parabéns, mas será para recordar.

Pelo terceiro ano consecutivo tivemos o prazer de poder ir presenciar aquela que é uma das experiências ao vivo mais intensas do panorama nacional de festivais. Depois da edição do ano passado, à qual também deixamos a nossa crónica, criou-se alguma expectativa sobre o que daí viria para esse fim de semana no Hard Club. À medida que se iam sabendo de confirmações, começou-se a notar que seria uma edição igualmente eclética como a Amplificasom nos tem habituado sempre. Desde o black metal mais atmosférico, ao próprio Pop desconstruído, tivemos o habitual gauntlet de concertos, surpresas, reuniões e conversas às quais nos dá tanto prazer reviver na cidade invicta.

O Porto continua a ser este ponto de encontro de várias pessoas de todos os cantos do mundo durante estes dias. Apesar da dificuldade que alguns tiveram a chegar ao local do festival, seja por causa de problemas infraestruturais da própria cidade seja por outros motivos, não foi o suficiente para nos fazer faltar este ano. A diversidade do público, a possibilidade de poder falar com os artistas que também se integram no público do festival, a proximidade com outros cantos da cidade, tudo isto faz parte da atmosfera do Amplifest – e tudo se alinhou ao aniversário que se celebrava. 18 anos.

As festividades começam já no dia 8 de Novembro, entre o Bolhão, Serralves e o Ferro Bar, onde se pode assistir a Velho Homem, Okkyung Lee e John Cxnnor nesses respectivos lugares, com o acréscimo de uma sessão de audição ao novo trabalho dos The Body e o DJ Set de No Joy. É um pouco diminutivo tratar este dia como apenas um aquecimento, dado a qualidade e a importância destes momentos no quadro total do festival – é destas experiências que fazem o Amplifest aquilo que ele é, algo que transcende as muitas vezes paredes concretas de um evento. Ficou, claro, o sentimento de chegada e de começo para o resto do fim de semana, que se localizava diretamente para o habitual Hard Club, ao qual já conhecemos os quatro cantos da casa.

Dia 9 de Novembro, Sábado

O sol aquece as ruas do Porto. Dos Aliados à Praça Infante D. Henrique vê-se um mar de pessoas. Entre elas, algumas munidas já de camisolas das suas bandas favoritas, fazem a caminhada até ao Hard Club, aproveitando os raios solares e aquele próprio calor específico de Novembro.

Chegados ao local, via-se pessoas já sentadas na esplanada com o seu grupo de amigos. Vemos as bancas de merchandising, música e outras coisas a encherem as mesas com o seu material. Vê-se caras conhecidas, dão-se abraços, fala-se sobre o que se espera deste dia. Ouve-se muito falar de expectativas para a edição corrente do festival, sobre outras edições, partilham-se referências e gargalhadas. E preparam-se as pernas e as costas para os concertos.

No Büro Stage ouve-se já Insect Ark a começar o seu espetáculo, e começa-se a encher a sala – uma ótima maneira de começar o festival. De todos os concertos que presenciamos, estes são aqueles que nos marcaram mais:

Os portugueses Avesso, cujos membros não são de todo desconhecidos nem do Amplifest nem do Hard Club, nem da cena musical portuguesa, deram perto de 50 minutos de um concerto que misturava na perfeição todas as “cenas” onde cada membro cresceu musicalmente. Desde o post-metal a momentos mais progressivos, a energia e o carisma em palco eletrizou o resto do público (que por sinal, encheu por completo o Dois Corvos Stage) cujas palmas ecoaram no final da performance. Tivemos oportunidade de falar com eles sobre o encontro, o passado, o presente e o futuro.

Mizmor, uma das bandas mais esperadas do festival, aquece o Büro Stage com o seu black metal misturado com momentos mais atmosféricos e etéreos e sempre com os seus riffs mais carregados de doom, tendo na sua setlist uma viagem pelos três aclamados álbuns Yodh, Cairn e o mais recente Prosaic, de 2023. Uma performance maravilhosa marcada pelo poder da voz de A.L.N. e a coesão palpável entre os restantes membros em palco.

Logo após isto, tivemos o prazer de ver uma das surpresas do festival com a estreia de Cinder Well em palcos portugueses (e também o início da sua tour europeia) no Dois Corvos Stage. Cinder Well que apresentou faixas do seu aclamado álbum Cadence, cujo Folk trás inspiração da música popular americana do sul dos Estados Unidos, da Appalachia a Califórnia. Tivemos também algumas covers, alguma conversa com o público, e no final tivemos a chance de poder falar com a artista sobre as suas inspirações, e sobre o Porto. Certamente um dos melhores concertos desta edição.

Russian Circles, no Büro Stage foi um concerto intensíssimo – não só a nível do volume que já por si é alto, mas também pela atmosfera que os americanos criam com a sua música. O retorno destes gigantes do post-rock/metal que apresentou o recente álbum Gnosis trouxe aos nossos ouvidos naquela sala também faixas dos seus primeiros trabalhos sem nunca perder fôlego nem peso. Conseguia-se ouvir cada nota, cada batida, cada vibração, sem hesitações nem medos durante uma hora e quinze minutos, sensivelmente, que pediam para ser mais.

E já noite dentro tivemos o prazer de voltar a receber nos palcos portugueses os italianos Ufomammut, os gigantes do doom que fizeram um concerto igualmente altíssimo e delirante, com uma energia palpável até mesmo fora do Büro Stage – os fãs do género certamente ficaram deleitados com os riffs e o peso que saíam daqueles amplificadores. A banda italiana também falou conosco sobre as suas influências, o seu começo e aquilo que (ainda) lhes dá prazer.

De barriga cheia (salvo seja), o cansaço apodera-se e faz-se a caminho a casa para poder descansar devidamente – o dia seguinte prometia ser tão ou mais intenso que este.


Dia 10 de Novembro, Domingo

Ao contrário do dia anterior, acordamos com chuva, que nos acompanha no caminho até ao Hard Club. Já não se vê as mangas curtas, mas sim um mar de guarda-chuvas e casacos, mas ainda assim todos os caminhos vão dar ao mesmo sítio, com chuva ou com sol. Os concertos começam cedo, e é importante chegar a tempo.

Tal como no dia anterior, todos os concertos foram fantásticos, mas estes aqui são o nosso destaque:

O concerto de Inter Arma foi uma ótima maneira de reaver os espíritos e a energia que pudesse estar ainda um pouco em baixo – sem um único momento para respirar, o ataque direto dos americanos ao público pareceu uma parede a ser destruída por uma bola de demolição. Conseguimos ouvir algumas faixas do novo trabalho, New Heaven, e ainda passamos pelo resto da discografia sem misericórdia nenhuma por quem ainda estava, se calhar, a acordar naquele dia, ali no Büro Stage. No final do concerto tivemos a chance de falar com a banda – precisamente sobre como é tocar para uma sala cheia ao início da tarde, sobre as inspirações para New Heaven, e sobre Oranssi Pazuzu, que seria também uma banda que os próprios estavam desejosos de ver.

Menace Ruine e Spurv tocaram no Dois Corvos e Büro Stage, respectivamente, logo de seguida ao concerto de Inter Arma. Concertos lindíssimos que nos deram tempo para degustar dois géneros de música diferentes mas que se encaixavam perfeitamente no cartaz deste dia. No entanto, é preciso destacar o concerto de Mary Jane Dunphe. Foi o concerto mais surpreendente do festival inteiro, e mesmo dizer isto assim parece não dar o devido reconhecimento. Primeiramente, se existe um cartaz que permite estes choques frontais de géneros musicais em Portugal de uma maneira coerente e certa, é o Amplifest. Depois, a performance da Mary Jane Dunphe foi completamente elétrica, desde a dança aos vocais, à maneira como ela desaparecia do palco quando se jogava ao chão – e os sons de pop avant-garde estavam perfeitamente colocados para um público que talvez não estivesse preparado para aquele choque. Entristece-nos a quantidade de pessoas que saíram da sala enquanto o concerto estava a decorrer, mas não podemos ficar muito tempo presos a esta memória – porque quem ficou (e se a memória não falha ainda encheu a sala) levou este concerto no coração para sempre.

Logo de seguida, no Büro Stage, tocam The Body e Dis Fig, no seu último concerto da tour europeia a tocar o disco Orchards of a Futile Heaven. Para quem acompanha o colossal trabalho dos americanos The Body, mestres do powereletronics, noise e doom sabe que quando há um concerto é preciso ir preparado a parede de sonoridade eletrónica, a bateria gigante e os gritos estridentes – mas Dis Fig não ficou atrás a nível de qualidade. Aliás, quem não soubesse distinguir os artistas diria que eram um único corpo artístico. A performance foi como o que se esperava, extremamente intensa e desgastante, cada batida parecia um murro no estômago. Uma fantástica experiência principalmente para quem nunca teve contacto com um espetáculo de ambos. E ainda tivemos o prazer de poder ter partilhado tempo na esplanada a falar com Chip King e a Dis Fig sobre onde The Body começa e Dis Fig acaba, sobre a importância de colaborar entre artistas, e sobre música pop.

Um dos nomes mais celebrados aquando de ser anunciado era Chelsea Wolfe. Com um álbum novo, She Reaches Out To She Reaches Out To She, e já com algum tempo desde a última vez que a presença dela esteve em terras lusitanas, não surpreende que o Büro Stage tenha enchido por completo para a ver. Um concerto belíssimo que tocou temas dos seus últimos trabalhos incluindo alguns de trabalhos mais antigos, que de certo agradou todos os fãs das diversas eras musicais da Chelsea. Já perto do final do concerto, tivemos a surpresa de um dueto com Emma Ruth Rundle, que este ano acompanhava Cinder Well pelo Porto e que estava no Amplifest como público. Foi algo inesperado, dado que as próprias informaram em palco que foi uma decisão à última da hora, e que iriam tocar Anhedonia, uma faixa que ambas já não tocavam juntas há um bom tempo.

Mais tarde, ainda no Büro Stage, vimos o concerto que para nós fechou a edição do festival com chave de ouro – Oranssi Pazuzu. Os finlandeses não deram hipótese ao cansaço instalado depois de todos os outros concertos. A mistura de black metal e sintetizadores ecoa por todos os cantos da sala e infiltra-se nos ouvidos de uma maneira igualmente imersiva e implacável, de forma a que os corpos acabaram eles próprios por dançar juntamente com a música. Desde as faixas do novo trabalho Muuntautuja ao clássico Valonielu mal houve tempo para respirar em conforto. E do nosso lado, de onde nós estávamos, tínhamos também a Emma Ruth Rundle perto de nós a ver o concerto, e tínhamos a certeza que os restantes artistas também estariam por perto a presenciar o mesmo. Porque é isso que ao final do dia o Amplifest é – uma experiência onde público e artistas partilham o mesmo espaço para o mesmo fim.

Com isto, bebe-se a última cerveja, dizem-se os últimos adeus a amigos e caras conhecidas, e faz-se caminho para o descanso devido. Deixa-se no Hard Club a promessa de voltar… outra vez.

Parabéns Amplificasom! Parabéns Amplifest!

Fotos por Vera Marmelo.

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