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Luís Amado recomenda urgência no cessar-fogo entre Ucrânia e Rússia

Mesmo sem acordo de paz definitivo e ainda que o governo de Putin permaneça, “é preciso congelar o conflito” até outubro, disse o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa Nacional

O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa Nacional português foi convidado pela Associação Académica de Coimbra e pela Universidade de Coimbra para a conferência “ONU: Problemas e Desafios”. Decorreu esta manhã na casa da Lusofonia.

À margem da conferência explicou porque considera ser necessário “forçar o cessar-fogo”, mesmo sem uma paz definitiva e sem humilhar as partes envolvidas.

Para Luís Amado, no futuro o Mundo vai voltar a dividir-se em dois blocos de países: um bloco ocidental e um bloco euro-asiático. Com a saída do território russo das empresas e marcas ocidentais e o facto de os cientistas deixarem de circular, a Rússia vai deixar de ser ocidental. Uma nova cortina de ferro está a instalar-se entre o Mar Negro e o Ártico. Quem definiu esta lógica de Blocos foram os Estados Unidos da América, lembrou.

Sobre o papel que a China tem tido no conflito entre a Rússia e a Ucrânia, o ex-ministro lembrou a grande dependência da China dos mercados Europeus e Americano o que pode explicar a “cautela” da política externa chinesa. No entanto, Luís Amado não exclui a possibilidade de a China assumir um papel mais forte como negociador de um compromisso entre as partes beligerantes.

A sensibilidade histórica que os povos da Europa de leste viveram, “há muito pouco tempo”, com a história da Rússia, tem “limitado muito a possibilidade de um compromisso entre uma Europa continental ou Atlântica e uma Europa Central e de Leste”, no entendimento do orador. Em muitos casos  há uma componente pessoal, que tem impedido uma posição conjunta na relação Europa-Rússia. Por exemplo a primeira-ministra da Estónia viu a família próxima ser vítima do Gulag, confidenciou o ex-ministro.

Enquanto governante o orador assistiu à “disfuncionalidade” do processo europeu que gerou uma enorme dificuldade em estabilizar a relação estratégica com a Rússia após o fim da Guerra Fria. De acordo com o conferencista, mesmo em 2007, o governante russo “tinha uma visão das relações com o ocidente muito diferente da que tem hoje”.

“Putin passou a uma fase de introspeção histórica, quase mística, perigosamente messiânica” depois de 2014 com a queda do governo de Viktor Yanukovych que lhe era favorável, esclareceu. Entretanto, na sua opinião, a Europa ocidental “perdeu o pé”.

Segundo o ex-ministro português, o Reino Unido e os Estados Unidos têm sabido usar a dificuldade de entendimento europeu em relação à Rússia para explorarem objetivos que seguem uma agenda própria. Para Luís Amado, na última década, a visão de que é preciso afastar a Rússia do mercado europeu de gás e do petróleo “estava latente”.

A conferência “ONU: Problemas e Desafios” – contou com intervenções do vice-reitor da UC para as Relações Externas e Alumni, João Nuno Calvão da Silva, e do presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), João Pedro Caseiro. O presidente da DG/AAC congratulou-se com a iniciativa que vai abordar o funcionamento da ONU a ter início no próximo ano letivo. A conferência da Casa da Lusofonia iniciou o processo.

Foi também apresentado o livro “O Mundo Não Tem de Ser Assim – Biografia de António Guterres”, por um dos coautores da obra, Filipe Domingues de que vamos falar na próxima rubrica Livros Para Que Vos Quero.

A iniciativa pretendeu ser lançamento da AAC Model United Nations, uma simulação do funcionamento da Organização das Nações Unidas, que a Associação Académica de Coimbra vai promover no próximo ano letivo, em setembro-outubro.

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