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Num encontro entre dois guitarristas contemporâneos, celebrou-se o Homem dos Mil Dedos
No dia em que se assinalaram os cem anos do nascimento de Carlos Paredes, 16 de fevereiro, vivemos quase um momento full circle. Em Coimbra, cidade que o viu nascer, Six Organs of Admittance e Norberto Lobo apresentaram as suas criações inspiradas no Homem dos Mil Dedos.
Albergados pelos altos tetos da Sala D. Afonso Henriques, no Convento São Francisco, os dois guitarristas – Six Organs of Admittance (Ben Chasny) e Norberto Lobo – surgiram por entre as paredes brancas, acompanhados pelas suas guitarras.
Este não era um concerto com interpretações literais do trabalho de Paredes, e isso rapidamente se fez notar. Por entre a guitarra de Chasny e a de Lobo, foram invocadas as doze cordas de Carlos Paredes. São dois artistas que vivem e respiram a influência deste génio da guitarra portuguesa e, talvez por isso, tenham sido os escolhidos para a residência artística que deu origem a este espetáculo. Norberto Lobo dedica o seu trabalho de estreia, Mudar de Bina (2007), a Carlos Paredes, sentindo-se sempre uma forte presença do mesmo no trabalho de Lobo. Já Chasny dedica Lisboa, tema que encerra School of the Flower (2005), a Paredes. Promoveu também a reedição de trabalhos de Carlos Paredes, como Guitarra Portuguesa (1967) e Movimento Perpétuo (1971).
Imersos nas melodias criadas pelos dois artistas, perdemos a noção de quantas cordas estavam a ser dedilhadas. A reinvenção da guitarra por Chasny e Lobo, cada um à sua maneira, é trazer Paredes e a sua influência para o meio do palco. Os holofotes brancos que iluminavam cada um dos artistas uniam-se na parede de fundo e criavam um espaço comum. Esta intercepção das luzes funciona como uma metáfora visual para a junção dos dois músicos e da criação que dali surgiu. E no meio dela, vive a mestria de Paredes.
Por entre a melancolia, o folk americano e a experimentação, a intensidade do concerto foi sendo construída, alcançando-se a harmonia entre os dois artistas. Durante praticamente uma hora de concerto, assistimos ao equilíbrio conseguido entre as duas guitarras mas, mais perto do final, cada um de nós conseguiu testemunhar Chasny e Lobo a brilhar, cada um deles com um momento a solo.
Mudar de Vida foi o tema escolhido para fechar este concerto. Apesar de uma reinterpretação, o sentimento e significado continuam bem presentes, como no original. Nestes cem anos que passaram, a vida mudou e a guitarra também, mas o que permanece vivo e inalterado é o génio de Carlos Paredes e a sua mestria. Em ano de centenário do nascimento de Paredes, multiplicam-se as actividades para o homenagear, lembrando-nos que o Homem dos Mil Dedos vive nas cordas das guitarras.
Fotografia: Câmara Municipal de Coimbra – Catarina Gralheiro
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