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30.08.2023POR Gonçalo Pina

Jornada 4: “O futuro será fantástico”

Este foi apenas o quarto episódio de uma série que se antevê longa e cujo final ainda é cedo para perspetivar. Embora o desenlace não seja o melhor, fica a ideia de que o argumento tem potencial.

O empate da Briosa no reduto do Oliveira do Hospital podia ser mais um história triste para os anais do clube. Acredito que, se a ouvirem de outra boca que não a minha, é mesmo isso que vão ouvir – as histórias são muito isso, versões de acontecimentos contados por alguém, tomam as perceções dessa pessoa e moldam-se à sua visão do mundo. Mas a história que vos venho contar (e que Tiago Moutinho corrobora em conferência de imprensa) não é essa, é apenas um episódio da longa série que estamos a começar a ver. Um episódio conturbado, é certo, que surge ainda numa fase muito inicial da trama, mas que nos deixa otimistas e a querer continuar a ver onde isto vai dar.

Os últimos capítulos

Quem acompanhou as últimas temporadas da novela “Briosa” sabe bem onde estamos: um clube que tenta sair de um complicado aperto financeiro e desportivo compete na terceira liga portuguesa de futebol, mas a ideia é regressar ao topo o mais rapidamente possível. A última temporada terminou numa tónica predominantemente positiva com a introdução de Tiago Moutinho, novo personagem que promete ser central no regresso da série, mas o caminho foi complicado e nova descida de divisão chegou mesmo a ser equacionada. Com a renovação para 2023/2024 mantiveram-se alguns dos protagonistas, mas fizeram-se algumas alterações do elenco, de forma a tentar de forma mais incisiva a luta pelos lugares cimeiros. Para surpresa de muitos, nos primeiros três capítulos a equipa conseguiu não perder (uma das vezes até ganhou, num dos episódios mais imprevisíveis da saga), mas, embora sejam notórias as melhorias progressivas, não convenceu.

Um início diferente

Pela primeira vez desde o início da temporada, o treinador escolheu alterar a disposição dos nossos protagonistas no relvado. Se até agora iam alinhando em 4-4-2 (formação que tão bem tinha resultado aquando da chegada do técnico à comitiva), a escolha recaía agora sob o 4-3-3, relegando para o banco o nosso anti-herói Hugo Seco e o recém-chegado João Victor. Nada mais acertado: nos primeiros 30 minutos, a Briosa esteve indiscutivelmente por cima. Ao minuto 33, por intermédio de Vasco Gomes, os forasteiros passaram para a frente no resultado com um golo que só podia mesmo ter sido resultado de ensaios sem fim até à perfeição – isto porque, sendo esta série gravada com audiência ao vivo (e que bonita era a moldura humana presente em Tábua), os jogadores só têm direito a um take.

Mas esta é uma série que se define pelo pormenor e que faz por nunca ficar aborrecida. Prova disso é que, aos 38 minutos, quem não se lembrava foi fatalmente relembrado de que os argumentistas já tinham presenteado Aílson com um cartão amarelo no início do jogo. A lembrança foi, claro está, um segundo cartão que rapidamente mudou de cor e que deixou a formação da Briosa reduzida a dez unidades. Sobre o lance em que o brasileiro é expulso há poucas dúvidas: o árbitro é vilão e quis estragar a vida à personagem principal – assim o dizem Tusso (“O árbitro não colaborou”) e Tiago Moutinho (“Houve decisões contra a Académica”). Num momento em que parecia que tudo podia parecer poder ficar resolvido, João Pinho quis ter parte ativa na história e definiu o plot para a segunda metade.

Golpe de teatro com resposta à altura

No início da segunda parte, o jogo tomou contornos de dramatismo exacerbado, qual novela mexicana dos anos 90. Sabem quando um dos personagens se deixa afetar pel@ ex-namorad@ e faz algo de que rapidamente se vem a arrepender? Embora Miguel Rodrigues não tenha tido grande controlo sobre a bola que cruzou a área academista a meia altura, o infeliz golpe que resultou em auto golo assemelha-se muito a esses momentos. O ex-central do Oliveira do Hospital ainda só tem quatro jogos pela equipa de Coimbra, mas o primeiro golo de losango ao peito foi mesmo a favor da antiga equipa – eu sei que não foi de propósito, mas sabe um bocadinho a traição.

Já com novos nomes em campo para tentar colmatar a inferioridade numérica, Tiago Moutinho parecia estar a preparar-se para jogar na retranca e para tentar segurar a vitória. O empate não caiu bem e a Briosa teve então de correr atrás do prejuízo (tarefa que, atendendo às condicionantes, cumpriu com distinção). A resposta da Académica satisfez, as prestações de homens como Francisco Ferreira, Vasco Gomes ou do mais recente reforço Djé D’Avilla encheram o olho e ficou a clara sensação de que os conimbricenses tinham mais argumentos para (não fosse o tal malvado homem do apito) levar os três pontos de Tábua. Que não fique a ideia de que vencemos pela vitória moral, mas antes essa que nenhuma.

Emmys

Como em todos os espetáculos deste género, devemos sempre apreciar as prestações individuais dos artistas em foco. Os jovens em destaque podem ser dois e estão ambos na linha defensiva: com apenas 37 anos combinados (o Pepe já tem 40 e mesmo assim ainda tem muito que aprender com estes senhores, pelo menos na classe demonstrada no relvado), o capitão Stitch e o colega Tusso são ambos apostas ganhas neste plantel e dão um perfume diferente ao futebol praticado pela Académica. Sem ser tão jovem mas ser claro merecedor de destaque temos, como não podia deixar de ser, Francisco Ferreira, o novo menino bonito dos adeptos. Uma autêntica mota pelo corredor lateral, potentíssimo no corpo a corpo – o MVP RUC ficaria muito bem nas mãos deste homem, não fosse a atuação brilhante do enorme Vasco Gomes (juntando o bom trabalho do príncipe de Elvas David Teles, que acabou sacrificado devido à expulsão de Aílson, já contamos quatro homens com passagens pelo Bolão, o que reforça a tese de Tiago Moutinho – “o futuro será fantástico”). Do quarteto defensivo, nota negativa apenas para Miguel Rodrigues, que não arrancou a temporada com o pé direito e que várias vezes se atrapalha com a bola, comprometendo a ação da equipa. Com menção honrosa para Tiago Veiga e para João Silva, que não levando nenhuma distinção também não estiveram mal, fecha-se a ronda de galardões com o prémio de melhor ator cómico a ser atribuído a Carlos Alves, tal o grau de loucura e insanidade daquela saída a jogar até ao meio campo, como se estivesse a humilhar o adversário num qualquer jogo de FIFA.

 

(Fotografia: Rui Rodrigues)

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