AUTOR: Guilherme Queiroz

DATA: 18.01.2022

DURAÇÃO: ...

 

Hoje recuamos a Argel, verão de 1969. 7 anos volvidos sobre a independência, vitória frente ao colonialismo francês, a capital argelina organiza o primeiro Festival Cultural Pan-Africano. A 21 de julho de 1969, um dia depois de o Ocidente celebrar o primeiro passo de Armstrong, Argel celebrava o futuro possível, o futuro real que se ia desenhando sobre um continente recém libertados. Todos os países africanos independentes foram convidados e enviaram representações, e público. A excepção foi o African National Congress, em representação de uma África do Sul sob Apartheid, e os movimentos de libertação FRELIMO, MPLA e PAIGC. À data, Portugal era o único país que mantinha dominação colonial sobre territórios do continente africano. Quando o festival foi realizado, somavam-se já 8 anos de guerra colonial.

O filme que documenta o festival, realizado por William Klein, abre precisamente com uma frase do ditador português – “Afrique N’Existe Pas”. 

Pois durante uma semana, foi uma África inteira que vibrou sob as ruas de Algers. Os eventos desdobravam-se pelos teatros e praças da cidade. Em todo o lado viam-se grupos de dança tradicional, teatro experimental, manifestações políticas, sessões de cinema africano. Toda a diversidade desse vasto continente se fazia sentir, dos coros ancestrais etíopes aos novos ritmos do Gana, da performance de arma em punho da FRELIMO às ramificações transatlânticas com o jazz e o soul norte-americano. E depois de um gigantesco desfile de mais de 200.000 pessoas, a noite explodiu num verdadeiro festival no teatro principal, com nomes como Manu Dibango, Archie Shepp, Nina Simone, Miriam Makeba, Marion Williams, e mais tantos e tantos grupos de música tradicional.

No programa de hoje mergulhamos o possível no Festival Pan Africano de Argel em 1969. Ao longo desta hora ouvimos Archie Shepp, Nina Simone, Marion Williams, Miriam Makeba, e as vozes de Agostinho Neto, Mário de Andrade e Amílcar Cabral. Dois anos depois de um Woodstock de peace and love, um verdadeiro festival de futuro, experimentação, e mudança que inspirou gerações, e cuja memória incendeia e merece ser mantida viva. “A cultura africana será revolucionária ou não será” – assim termina o filme documentário sobre o primeiro Festival Cultural Panafricano de 1969 em Argel.

Tracklist:

  1. Algeria: Touaregh (Ritmi i Strumenti Africani Vol. 3)
  2. Archie Shepp – We Have Come Back (live)
  3. Miriam Makeba – Ampampondo (live)
  4. Tanzania Ballet (Ritmi i strumenti Africani Vol. 2)
  5. Agostinho Neto (entrevista)
  6. Mário Pinto de Andrade (entrevista)
  7. Marion Williams – When The Saints Go Marching In (live)
  8. Amílcar Cabral (entrevista)
  9. Upper Volta: Xylophone, Drums, Rattles, Whistle and Voices (Ritmi i Strumenti Africani Vol. 1)
  10.  Nina Simone – Revolution (live)