Radio Baldia
Que não é vista como cultivável, por cultivar, usada colectivamente. Ruína de espectros passados, o lugar da arquitetura transitória, espaço especulativo. Entre a desmaterialização do som e a materialização das formas de resistência, abrem-se brechas sonoras para existências constrangidas na paisagem mediática. Baldia é rádio de possíveis, ruído nas conversas etéreas do oceano da informação.
Em memória de Alvin Lucier, que nos deixou no passado dia 1 de dezembro.
O coletivo regressa ao centro da Rádio Baldia, na figura da Sonic Arts Union.
Inspirados pelo trabalho de David Tudor e John Cage, quatro jovens músicos decidem juntar-se em coletivo. Os quatro jovens eram Alvin Lucier, David Behrman, Gordon Mumma e Robert Ashley. O objetivo, deles, dos coletivos, é sempre o mesmo – a revolução. Por muito diferente que seja a escala de Richter que se almeje.
Tudo começou a 22 de abril de 1965, quando Alvin Lucier convida Behrman, Mumma e Ashley para se apresentarem numa performance para a qual fora convidado na Universidade Brandeis em Boston. A partir de então, decidiram continuar o método, e nasce a Sonic Arts Union. Partilhando equipamentos, recursos, viagens e datas, não só se tornava mais fácil e rentável como entusiasmante apresentar-se ao vivo. Ao todo, foram mais de mil concertos e um disco – Electric Sound – até à separação formal, de ordem estética e logística, 10 anos depois.
Antes de o DIY existir como termo, os quatro decidiram virar costas aos sintetizadores que viravam moda e construir do zero os seus próprios instrumentos, muitas vezes utilizando materiais inusitados, desde puro entulho a restos de material bélico. Dizia Mumma que “A atração da aceitação comercial e académica fácil asfixiou as aspirações de muitos músicos, que sucumbiram a usar a tecnologia eletrónica com o intuito de imitar os sons e a cultura musical dos instrumentos acústicos, em vez de explorar as possibilidades musicais indígenas aos recursos eletrónicos”.
Ainda que sempre porosa, aberta a espaços para outros músicos como Pauline Oliveros ou Takehisa Kosuga, a Sonic Arts Union acabou por ser sempre um projeto a quatro. Cada concerto apresentava uma peça de cada um dos quatro membros. “Mais que uma banda, éramos uma antologia” – diz Behrman. “Partilhávamos equipamento e skills de gestão de palco, mas nunca fizemos nenhuma peça em grupo. As personalidades eram sempre distintas.” Mumma concorda, dizendo “Gostávamos muito de cada um, e gostávamos da música de cada um, gostávamos das diferenças da música de cada um – e essa frase é fundamental”
Hoje, recordamos o poder da coletividade com a Sonic Arts Union de Lucier, Behrman, Mumma e Ashley. Deles serão as próximas composições, que nos acompanharão até bem perto das 2h da manhã nos 107.9 FM da RUC.
Alinhamento:
1. Alvin Lucier – I’m Sitting In a Room (excerpt) (1969)
2. Gordon Mumma – Mesa (1986)
3. Robert Ashley – Love Is A Good Example (1987)
4. Alvin Lucier – The Duke Of New York (1971)
5. David Behrman – Runthrough (1968)