AUTOR: Guilherme Queiroz E Gaspar Cohen

DATA: 19.10.2021

DURAÇÃO: ...

“O desenvolvimento é uma viagem
com mais náufragos do que navegantes.”

Eduardo Galeano

 

Falamos de Vilarinho da Furna, desaparecida em 1971, um dos últimos exemplos perfeitos de um comunitarismo que outrora se estendia a toda a península. Quando em 1948 o etnólogo Jorge Dias escreveu o seu detalhado retrato de Vilarinho da Furna, o futuro estava ainda povoado de incertezas e esperanças – o que será do comunitarismo face à marcha imparável do progresso? 

“É possível que a própria guerra e o pós-guerra venham a orginar uma tendência que, a acentuar-se, provocará a crise que marcará o fim da vida comunitária. Se a ambição do lucro individual despertar, os rebanhos atingirão rapidamente a saturação e, com a insuficiência de pastos, nascerá a discórdia, que conduz à individualização da propriedade. O serrano de Vilarinho não tem, em geral, bem nítido o sentido da riqueza individual, como o citadino moderno. (…) Para eles, viver é o quotidiano, o pão nosso de cada dia. (…) Os pastos de Vilarinho têm até hoje alimentado os gados de todos, porque se ão desenvolveu entre eles o espírito individualista, acompanhado da ambição que lhe é peculiar, pois nesse dia a organização comunitária esá seriamente ameaçada.” [Jorge Dias, in Vilarinho da Furna 1948]

Quando em 1971 António Campos estreia o documentário Vilarinho da Furna, qualquer futuro era já inexistente. A marcha do progresso chegou sob a forma de onda, que para alimentar as turbinas da barragem inundou para sempre a aldeia secular, suas histórias, seus costumes, seu exemplo de como há outras vidas a viver.

“Vilarinho da Furna não existe mais: não declinou por abandono dos habitantes, mas porque uma barragem a meteu debaixo da água que submeriu leiras e casas e até o cemitério situado na parte mais alta da aldeia. Nem os mortos escaparam, e dos vivos ninguém cuidou: pagas as indemnizações irrisórias, cada um se manhou como pôde, enriquecendo-se o país de eletricidade, atirando para as incertezas da vida os seus vizinhos. E, no entanto, estas aldeias comunitárias viviam numa nobre pobreza, onde os habitantes se sentiam efetivamente senhores do que cultivavam e colhiam, e geriam em comum os seus interesses coletivos.” [Orlando Ribeiro, in Vilarinho da Furna (prefácio), 2ª ed. 1981]

Temas:

  1. (Recolha de) Michel Giacometti – Alvorada
  2. Som do documentário “Vilarinho da Furna” (1971) de António de Campos
  3. (Recolha de) Michel Giacometti – Grito de Escatilhar
  4. José Mário Branco – Poder
  5. José Afonso – Arcebispada
  6. Miguel Torga – Santa Teresa
  7. Filarmónica Fraude – Devendo à terra
  8. Som da entrevista da RTP a António de Campos, 1971
  9. Som do filme “Trás os Montes” (1976) de António Reis e Margarida Cordeiro
  10. Sétima Legião – Com estas mãos
  11. José Mário Branco – Ser Solidário