Há Vida(s) Nesta Cidade!
sábados (14h00)
A ditadura da actualidade deixa para trás histórias de vida(s) de pessoas e instituições. A Rádio também se faz de pequenos momentos de intimidade em que as almas se abrem aos outros. Há Vida(s) Nesta Cidade propõe-se dar a conhecer gente que não pisa a ribalta da “espuma dos dias”.
UM PROGRAMA DE:
Isabel SimõesTeresa Cravo realizou o programa em que estiveram como convidadas três investigadoras do Centro de Estudos Sociais (CES) para uma conversa sobre “Violência, resistência e paz na Palestina”.
A mais recente escalada de violência na Palestina e em Israel já provocou, desde 7 de outubro de 2023:
- 26 000 mortes palestinianas, das quais 10 000 crianças em Gaza
- 370 mortes palestinianas na Cisjordânia, incluindo 99 crianças
- 8000 palestinianos estão desaparecidos em Gaza
- 63 740 palestinianos feridos em Gaza e mais de 4250 na Cisjordânia
- 6225 palestinianos da Cisjordânia detidos desde 7 de outubro
- 1139 mortes israelitas e 8730 feridos
- 132 reféns israelitas
Os bombardeamentos de Israel em Gaza já causaram a destruição de:
- 360 000 residências: mais de metade das residências em Gaza
- 378 edifícios escolares
- 221 locais religiosos
- 122 ambulâncias
- Apenas 16 dos 35 hospitais estão a funcionar parcialmente
Numa população de 2.3 milhões, e das quais 47% são crianças, neste momento 85% da população está deslocada internamente, 1.7 milhões vive em campos de refugiados, que estão frequentemente sob ataque e a crise alimentar é gravíssima: mais de meio milhão de pessoas enfrentam uma situação qualificada de fome catastrófica.
Neste episódio do podcast CES-RUC, intitulado “Violência, resistência e paz na Palestina” é importante dizermos que estamos a gravar a 25 de janeiro de 2024. Porque os números que acabei de referir, já de si trágicos e avassaladores em apenas 111 dias de guerra, estão em permanente atualização.
Israel enfrenta uma acusação de genocídio interposta pela África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça – onde pende igualmente um pedido para medidas urgentes que protejam os palestinianos de “danos irreparáveis”. Prevê-se que este apelo a uma atuação provisória mas imprescindível tenha resposta por parte do Tribunal esta sexta-feira, dia 26 de janeiro.
Os dados são desde 7 de outubro, mas esta violência que nos entra pelas televisões a dentro não começa em 2023. Passaram setenta e cinco anos desde a Nakba, a “catástrofe” na qual 15.000 pessoas foram mortas e mais de 750 mil foram deslocadas, marcando o início do que é conhecido como um dos mais longos conflitos armados na história, envolvendo Israel, a Palestina, e os seus vizinhos árabes.
Mesmo em períodos em que a sua expressão bélica mais aguda fica de fora dos meios de comunicação ocidentais, os níveis de violência que caracterizam a ocupação e a colonização do território por Israel são muito elevados e constantes. A guerra de narrativas, cada vez mais polarizada, não é alheia à hierarquia do sistema internacional – e o seu eco nos media nacionais e internacionais – que desvaloriza umas vidas em função de outras.
A discussão é urgente, e para nos ajudar a tê-la numa altura tão crucial, tivemos hoje no nosso programa a Shahd Wadi, a Marta Araújo e a Moara Crivelente.
Este foi o trigésimo terceiro programa de uma colaboração com o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Acontece no último sábado de cada mês, a partir das 14 horas.
Algumas notas biográficas das convidadas de hoje:
Shahd Wadi é palestiniana e investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra (UC). É doutorada pelo Programa de Doutoramento em Estudos Feministas da Faculdade de Letras e do CES. A primeira a receber este grau em Portugal. A sua tese serviu de base ao livro “Corpos na trouxa: histórias-artísticas-de-vida de mulheres palestinianas no exílio” (editada pela Almedina). É também tradutora e escritora. Na sua investigação aborda as narrativas artísticas no contexto da ocupação israelita da Palestina e considera as artes um testemunho de vidas. Também da sua.
Marta Araújo é Investigadora Principal do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e atualmente Vice-Presidente do seu Conselho Científico. É doutorada pelo Instituto de Educação da Universidade de Londres. O seu trabalho de investigação tem abordado duas linhas complementares: a história pública e escolar, focando nas narrativas sobre o (anti-)colonialismo e a escravização; e as políticas públicas, discurso político e igualdade étnico-racial. Integra o Observatório das Políticas de Educação e Formação (CeiED/CES) e o Grupo de Trabalho Educação e Ciência Cidadã (CES). É também consultora académica sobre discriminação e igualdade étnico-racial.
Moara Assis Crivelente é estudante do Doutoramento em Relações Internacionais: Política Internacional e Resolução de Conflitos, um programa conjunto da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra do Centro de Estudos Sociais. É investigadora júnior do CES, no projeto Mediatized discourses on Europeanization and their representations in public perceptions. Integra a Direção Executiva do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (CEBRAPAZ). Os seus interesses de pesquisa focam-se nos movimentos de libertação nacional, numa perspetiva crítica do Direito e usando abordagens do Materialismo Histórico, assim como a Análise Crítica do Discurso e o Jornalismo para a Paz.
O programa contou com locução e edição de Isabel Simões.
Músicas:
- Ana Tijoux – Somos Sur ft. Shadia Mansour
- انا دمي فلسطيني $$ محمد عساف Mohammed Assaf