AUTOR: Matilde Sabino

DATA: 23.12.2022

DURAÇÃO: ...

Nesta quadra natalícia, a Banda Sinfónica da Filarmónica União Taveirense já atualizou as suas partituras para os temas de Natal. No dia 23 decorreu o concerto em Coimbra que assinalou esta época mágica, na cidade. A RUC acompanhou um dos ensaios da banda no início do mês de dezembro, onde o maestro João Paulo Fernandes antecipou um concerto de natal plural estilísticamente.

Fundada a 21 de abril de 1869, pelas mãos do Padre João Pessoa Godinho e do Visconde de Taveiro, D. Duarte Melo, a Filarmónica, originalmente filha de uma monarquia, soube desprender-se das amarras e, hoje, quem reina é ela. Do sopro à percussão a sinfonia faz-se ouvir nesta casa que, apesar de velha, não deixa que os anos passem por ela. A Filarmónica União Taveirense é a mais antiga coletividade da vila e a sua banda sinfónica transporta a cada serviço o valor cultural da música e a união dos taveirenses em torno de um mesmo objetivo: partilhar com todos o amor à música. Filipe Teixeira deu os seus primeiros passos na instituição a tocar saxofone e hoje é o atual presidente da Filarmónica. Para o saxofonista o ensino e a divulgação da música são a missão desta casa que já é considerada embaixadora cultural de Taveiro.

A banda juvenil é onde os mais novos têm o primeiro contacto com a música. Com a ajuda dos colegas mais velhos da Escola da Música, esta mini orquestra prepara-se para um dia brilharem na banda principal da Filarmónica de Taveiro e integrarem as conservatórias. A associação não carece de atratividad,  é pois a escolha predileta de muitos aprendizes instrumentistas. Filipa Freire toca flauta transversal na Banda Sinfónica. Estuda música na Escola Superior de Música de Lisboa, mas é no Baixo Mondego que gosta de ensaiar as suas competências musicais.

O membro mais novo da Banda Sinfónica chama-se Gustavo Pancas, é percussionista e tem apenas 12 anos. Seguiu as pisadas dos irmãos, também músicos na Filarmónica, e é de baquetas na mão que projeta o seu futuro. Se o reportório original desta Filarmónica conquista os membros mais velhos, também o jovem Gustavo destaca a originalidade das produções.

Se a Filarmónica União Taveirense atrai os jovens a envolverem-se na música, os seus pais ou avós já se mostram mais reticentes a se juntarem à instituição. Em 2019 foi lançado um Coro de Adultos para incluírem todas as gerações naquela que é a casa da música de Taveiro, mas com o surgimento da pandemia, o projeto caiu por terra. Filipe Teixeira acredita que apesar de assistirem a algumas tentativas de adultos sem formação musical integrarem a filarmónica, as pessoas mais velhas não partilham as mesmas facilidades de aprendizagem que as crianças.

Com apenas um ensaio semanal e para que tudo flua da melhor forma possível, muito suor e trabalho são a chave para o sucesso. Uma visão partilhada pelo presidente da instituição e Álvaro Serrano, antigo membro da banda onde tocava trombone e eufônio e atual membro da direção da Filarmónica. Entrou na associação com 7 anos porque queria aprender música e anos depois ainda faz questão de participar ativamente na Casa.

Os projetos diferenciados da Filarmónica União Tavirense não passam despercebidos no panorama nacional. O programa Coreto da Antena 2, realizado pelo maestro Jorge Costa Pinto, atribuiu a 1ª edição do Prémio de Mérito Coreto à Banda Sinfónica da Associação Filarmónica União Taveirense pela qualidade apresentada na gravação do álbum que assinalou os 150 anos da Casa.

Anualmente a filarmónica recebe múltiplos convites para tocar em festas e em romarias, porém a sua direção defende que os serviços têm que ser rentáveis para assegurar o bem-estar da Casa. A instituição é sem fins lucrativos, mas não sobrevive apenas das suas sinfonias. Se na vila de Taveiro, festa sem Filarmónica não é festa, o financiamento tem que estar presente e direcionado para aumentar as condições de trabalho dos músicos. A sede mantém- se a mesma desde 21 de abril 1919, o dia em que celebrou os seus 50 anos. Hoje, com o triplo da idade, a sua requalificação e reabilitação é o próximo projeto não artístico da Filarmónica União Taveirense. “Um dia havemos de ter um grande auditório e melhores instalações para a Escola de Música.” Esperava José Tapadinhas, antigo presidente da Filarmónica União Taveirense, já em 2009.

As conquistas da Filarmónica não param por aqui e é em fevereiro de 2023 que num concerto único a Banda vai visitar o Centro Cultural de Belém. Afinal de contas, uma Casa que trabalha todos os dias para levar a cultura às pessoas, não fica perdida no tempo.

Uma reportagem da autoria de Matilde Sabino, com a técnica a cargo de Vasco Santos. A música ficou nas mãos ( e no sopro) da Filarmónica União Taveirense.

Fotografia: FUT