Filme-ensaio de Leonor Areal exibe as primeiras imagens em movimento de Fernando Pessoa
Leonor Areal estreou hoje em Coimbra o seu novo filme “Onde está o Pessoa?”. Obra cinematográfica divulga as primeiras imagens em movimento de várias personalidades do século passado, tendo como protagonista Fernando Pessoa.
Em entrevista à RUC, Leonor Areal revelou mais detalhes acerca daquele que é o filme que exibe as primeiras imagens em movimento de Fernando Pessoa, que estreou hoje na Casa do Cinema.
Este filme-ensaio, intitulado “Onde está o Pessoa?”, parte da obra «Assistência no Teatro da República na festa do maestro Blanch», de 1913. Esta segunda obra consiste numa gravação da saída da assistência de um concerto sinfónico, numa tarde de domingo. A audiência sai do teatro e depara-se com uma câmara que os filma. As reações e relações com a câmara são bastante diferentes.
Entre outras coisas, a cineasta explicou em que consiste um filme-ensaio: um filme que procura desenvolver diversas ideias e interpretações, que possam ser discutidas posteriormente, neste caso dando atenção e discutindo o filme original e a identificação das várias personalidades que são reconhecidas, sendo a principal Fernando Pessoa.
O objetivo da obra de Leonor Areal é que o ensaio audiovisual reflita sobre a relação dos indivíduos com a câmara de cinema, “reproduzindo o percurso de descoberta e análise destas imagens de arquivo.” A ideia desta obra surgiu quando a investigadora viu o filme original, de 1913: ao ver a multidão que saía do teatro e as parecenças que elas tinham, como o uso do chapéu e do bigode, e devido ao conhecimento que a cineasta tinha acerca da vida de Fernando Pessoa, Leonor Areal tentou procurá-lo e encontrou-o no meio de tantas outras personalidades da época. A investigadora assume que, muitas vezes, Pessoa passou mesmo à sua frente e não o via, pois “não era exatamente como esperava”, afirmando que pode acontecer o mesmo aos espectadores.
A cineasta de “Onde está o Pessoa?” explicou como foi o processo de criação do filme e como decorreu a descoberta das personalidades. O processo de criação demorou cerca de um ano. A investigadora revela ainda que teve de ver o filme original “fotograma a fotograma” e acompanhar, detalhadamente, o movimento das pessoas e a sua reação ao observarem a câmara que os gravava. Foi através da comparação dos fotogramas parados com as fotografias das personalidades, que Leonor Areal as conseguiu identificar.
O filme foi selecionado pelo Festival Il Cinema Ritrovato, maior festival mundial dedicado à divulgação da história do cinema, para ser exibido na pré-abertura da edição de 2024. Apesar do reconhecimento, a cineasta revela que o que lhe dá mais satisfação é o filme ser bem recebido pelo público e poder partilhar a sua descoberta com os outros.
Leonor Areal deixa ainda o desafio aos telespectadores de procurarem Fernando Pessoa nas imagens do trailer, antes de verem o filme, e assim terem uma primeira perceção daquilo que será a experiência de ver a obra cinematográfica.
Para além das sessões de exibição do filme que se vão seguir ao dia de estreia, na próxima terça-feira, vai haver uma sessão especial no mesmo local às 21h30, com Leonor Areal e os professores de literatura e pessoanos António Apolinário Lourenço e Diego Jimenez.