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22.07.2025POR Lexi Narovatkin

Vinculum 2025 – Electrónica no coração de Mondim de Basto

A Rádio Universidade de Coimbra esteve presente na edição de 2025 de Vinculum, projeto que visa à convergência dos entusiastas da música electrónica de dança, nas suas formas diferentes, no coração de Mondim de Basto.

Dia 10

Vinculum, projeto que tinha início sob o nome Spectrum em 2018, dava início à edição deste ano na quinta feira dia 10 com um alinhamento promissor e um espaço ainda mais imersivo no coração de Mondim de Basto no sopé do  santuário de Nossa Senhora da Graça.

O recinto abria às 14h com a atuação de intróito por André Cascais, figura emblemática nas salas portuguesas desde 1999, com um primeiro estágio no underground portuense, seguido de um período de vida em Londres, que influenciou André a moldar a sua sonoridade, de forma subtil, eclética, mas inesquecível para muitos dos corpos que já fez dançar. Foi residente do Lux até 2018 e atualmente é DJ residente do Gare no Porto. A sua abertura para o Vinculum tomou sonoridades texturadas entre ritmos tecnóides, com influências do grande espetro do Leftfield, e a dança entrava em contornos introspetivos a dar aquecimento para o set seguinte por Gusta-vo.

Gusta-vo, a contar também com mais de 20 anos de carreira, e título de fundador do festival vianense Neopop, entregou 3 horas de mistura entre o House e o Techno, com alguma hibridização pelo meio que seria contextualizada pelo ambiente naturalista do recinto do festival. Gusta-vo fazia assim cair a noite do primeiro capítulo.

Também parte integrante do alinhamento do primeiro dia, entrava Carmen, com uma entrega em formato live, dedicada à modulação sintetizada, e de forma passional, levou à pista a dança em massa até à meia noite, quando entraria Cecilia Tosh, o primeiro nome internacional da noite, radicada em Berlim e residente do emblemático Tresor, entraria em substituição previamente anunciada de Newa, alteração que foi comunicada pelo festival ainda em Abril.

O registo de Techno direto seguia até à entrada Nastia Reigel para a cabine, artista, que conta também com um projeto live a incidir no Pós-Punk com o nome Rosa Damask. A sua entrada elegante e magnética começava em tonalidades mais obscuras, algo quebradas e seguia para os confins do Techno esperado pelos dançantes.

A primeira noite terminava com Human Safari um dos nomes que despertou curiosidade a muitos festivaleiros, teve um público à altura que ficou até aos últimos minutos da sua atuação, a incidir também no Techno direto. 

Dia 11

O segundo dia contava com um início de recalibração à noite anterior, tendo começo com duas horas por Dawn Dani, radicada em Braga, e dedicada à exploração sónica igualmente pessoal para si e a cicatrizar quem a ouve, entregou um início de alinhamento curativo, denso e sonhador, ouvido maioritariamente pelo público deitado, introspetivo, entre a pista e o setor com o nome Healing Area, cuidadosamente feito pela organização do festival com o propósito de recuperar e cuidar dos corpos. Até às 16h, Dawn Dani, nome artístico de Daniela Rocha, criou um momento munido de vocais delicados, ambientes entre a inquietude e a calma, linhas nas frequências baixas e ritmos disruptivos mas que ainda assim mantinham a sua coesão estética, idealmente escolhida para arrancar o segundo dia de Vinculum

Seguia-se Tauer a levar as paisagens texturadas de Daniela para uma entrada no Techno profundo, hipnótico e denso. A manutenção de ritmos mais introspectivos evoluiu de forma consistente durante a tarde.

Às 18h entrava mais uma presença vinda do Norte, em formato conjunto, Ferro da cena portuense e Voltt da bracarense, com sonoridades que saíram fora do registo esperado, com temas mais focados no Techno cru por Ferro e a versatilidade de Voltt com incidência e inspiração no grande leque que a Bass Music tem a influenciar os géneros clássicos da electrónica de dança.

A noite entrava com Holden Federico, direto de Nova Iorque, e formado em piano clássico, curador da 90’s techno redux, e foi com perícia e versatilidade que deu início ao segmento de techno que iria correr até ao final da noite passando por diferentes variações estilísticas. 

Seguiu mais uma mostra em formato live por ASEC, sediado em Berlim e com foco no Techno hipnótico, deixando um tapete de entrada para DJ Nobu, figura do underground japonês fundador das festas Future Terror, escalou o andamento com um set desafiante e de intensidade calculada. 

A noite iria fechar com o holandês Talismann, a atuação mais pesada da noite e aquela que até ao momento teve um expoente máximo de público, os entusiastas pelo Techno Industrial e mais acelerado tomaram conta das secções da pista. Para alguns festivaleiros, Talismann seria o ato mais esperado, para outros, a intensidade seria demais, mas não faltaria espaço no recinto para o repouso dos corpos. 

Dia 12

À semelhança dos segmentos iniciais dos dias anteriores, as duas da tarde do 3º capítulo iriam iniciar de forma igualmente calmante, pela dupla portuguesa Ruaar, dupla composta por Pedro Rebelo e Hugo Bastos, numa viagem eclética e interiorizante de abertura do 3º dia do festival, ritmos tecnóides imersivos com influência de Downtempo, tornavam a paisagem do Vinculum um cenário bonito.

Seguia-se com entrada na cabine, Sepypes, nome artístico de Luís Ferreira, com duas horas de Techno denso, foco nos ritmos lentos que progressivamente fizeram levantar a pista, sem descontar os estados hipnóticos característicos deste tipo de abordagem.

Às 19h entrava um dos destaques do festival, Sybil, DJ sediada no reino unido, saía completamente do registo esperado, introduzindo a pista com uma seleção à volta da Bass Music e do Breakbeat, e rapidamente trouxe as horas seguintes envoltas em cadência de Trance, foi um dos momentos de dança mais intensos e funcionou enquanto aquecimento do que viria a tomar lugar até ao último dia de festival.

O segmento que durante as horas seguintes iria cuidar da pista seria composto por Backbone, um dos fundadores do festival, Shed, fundador da editora Soloaction Records, em atividade desde 2004, Norbak em formato live, nome artístico de Artur Moreira e co-fundador da editora portuguesa Hayes junto com VIL, Cravo, Temudo e ENKO. Akua repetente do festival desde o ano passado seguia a Norbak e a noite iria fechar com James Ruskin. Este segmento iria andar por diferentes variações do Techno, apreciado pela gama de entusiastas que tanto o procurava, oscilando entre o clássico e o contemporâneo sem desistir da sua cadência vibrante.

Dia 13

No domingo chegava o último momento do festival, seria um dos mais esperados, especialmente pelo alinhamento de luxo, que nos meses de antecipação levava à compra de bilhetes e marcações de viagens para Mondim de Basto.

O dia começava com Amulador, outra figura emblemática nas pistas portuguesas e programador do Gare, a dar início com um segmento focado em paisagens relacionadas ao Ambient, seguindo para temas ritmados intimamente ligados ao Techno. O set seguinte acontecia ao encargo de James Grouper, nome artístico de Tiago Costa e uma das figuras que organiza o festival desde a sua conceção. Navegou entre texturas hipnóticas, mais lentas, sem perder o fôlego de quem já se encontrava de pé para a dança.

Tiago Costa deu algumas das suas palavras à Rádio Universidade de Coimbra, numa entrevista conduzida por Lexi Narovatkin acerca da sua experiência e pensamentos enquanto uma das forças motrizes do evento.

O restante alinhamento estava programado com Upsammy, Forest Drive West, KIA  e Garçon, no entanto, por motivos alheios à RUC, KIA não pode estar presente, pelo que os sets de Upsammy e Forest Drive West se estendiam numa hora a mais cada. 

Upsammy, DJ e produtora e criadora holandesa trouxe a que foi talvez a atuação mais carregada de energia do festival inteiro, a sua perícia em ritmos viajantes pela Bass Music e Breakbeat, temas análogos ao Trance e Drum and Bass rapidamente culminou em 3 horas incansáveis nos 160. Uma das entregas mais impressionantes do festival e um dos nomes mais brilhantes atualmente na produção e mistura de música electrónica.

À semelhança de Upsammy, outro nome frequentemente mencionado e tocado na emissão da RUC, Forest Drive West, subia à cabine. O londrino puxou a sua perícia durante 3 horas de set que trasladariam num registo mais calmo ao que foi o de Upsammy mas igualmente hipnótico e cuidadosamente misturado, a passar entre Dubstep, Techno, Leftfield e com um toque final de Jungle e Drum and Bass, Joe Baker, nome real do DJ e produtor, foi mais uma das pérolas neste último dia. 

A noite iria fechar às mãos de Garçon, um dos nomes, juntamente com Agonis, por trás da editora Amenthia Recordings, e trazia um final tácito aos ouvidos de quem estava presente, passando por temas progressivos e hipnóticos fecharia à chave de ouro o último dia de Vinculum 2025. O seu tema de encerramento contou com o DJ entre o público, fora da cabine, momento no qual se testemunhavam picos de emoção na audiência e relatos de lágrimas num zénite que iria finalizar a viagem sonora de 4 dias. 

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