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“Lojas Históricas de Coimbra”: Obra aborda vidas de “Resistência” apresentadas com emoção
No coração da Baixa de Coimbra, entre ruas antigas e fachadas com décadas de vivência, nasceu o projeto que promete eternizar as histórias de vida de comerciantes que, em muitos casos, se dedicaram ao ofício desde a infância até à idade maior.
A iniciativa partiu de Sara Reis e de Ana Filipa Fonte, duas ex-alunas de Jornalismo da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC). Durante a apresentação do livro, não faltaram emoções, lágrimas, sorrisos e uma sentida homenagem à resiliência dos comerciantes que marcaram o momento.
Como afirmou uma das autoras: “Estas são histórias de força, de coragem, de pessoas que começaram a trabalhar ainda crianças, muitas vezes sozinhas em Coimbra, sem apoio familiar”. São histórias de força, disseram.
Entre os testemunhos que mais impressionaram estão os de comerciantes como a Dona Celeste, mas as autoras fazem questão de não destacar nomes. “Seria injusto. Todas as histórias têm valor. Há quem tenha dado continuidade a negócios familiares após a perda de pais ou maridos, mantendo vivo um legado com enorme dedicação.”
Mais do que sustento, para muitos destes comerciantes, manter a loja aberta é também uma forma de proteger quem os acompanhou ao longo dos anos. “Não trabalham por eles, mas pelos funcionários que se tornaram família”, sublinha uma das autoras.
No entanto, nem tudo é nostalgia. As dificuldades são reais e sentidas: a baixa foi esvaziada pelos centros comerciais, as chamadas “lojas âncora” desapareceram e não regressaram. Ainda assim, os protagonistas destas histórias já não procuram soluções.
“Estão resignados, viveram tantas transformações – do pós-guerra ao 25 de abril, do ‘boom’ dos anos 80 ao impacto do digital – que agora, simplesmente, aceitam.”
A adaptação ao digital é outro desafio. As gerações mais velhas, embora conscientes da sua importância, nem sempre a dominam. São sobretudo os filhos, que herdaram os negócios, que hoje procuram serviços de comunicação nas redes sociais, como os que Ana e Sara prestam.
A obra, que levou cerca de oito a nove meses a ser produzida, resulta de anos de proximidade com os comerciantes. Como explicou Adriana Reis, irmã de Sara, “foi um projeto vivido com muita intensidade, mas ninguém conhecia as histórias completas antes da publicação”. Até a família foi surpreendida, embora tenha apoiado incondicionalmente o processo.
O docente da FLUC, João Figueira, coordenador do projeto, participou na apresentação do livro resumindo para a RUC o valor da obra: “Este livro é um registo precioso da história oral de Coimbra, um documento da mudança social, económica e educativa do país. É um retrato de heroísmos anónimos, contados com emoção e afetos”.
Quanto ao futuro? A meta será uma nova publicação, segundo João Figueira a sair ainda antes do Natal. Na apresentação participou o jornalista Cabral de Oliveira que trouxe memórias de pessoas e vivências que o tempo levou mas que permanecem no coração de alguns e que o livro tão bem descreve.
A edição pertence à Mar da Palavra, as fotografias a Filipe Montes. O livro foi apresentado ontem na Feira do Livro de Coimbra e a sessão encheu o Auditório Luís de Camões.
Fotografia: Câmara Municipal de Coimbra
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