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16.06.2025POR Isabel Simões

Em Coimbra ouviram-se vozes de cidadania recusarem “Tempos de Medo”

Praça 8 de Maio acolheu dezenas de manifestantes num tempo marcado pela inquietação social e pelo ressurgir de forças políticas extremas. Novos e velhos, antigos resistentes, representantes políticos locais e muitos jovens juntaram-se para reafirmar valores essenciais da democracia, da dignidade humana e da cidadania.

Reunidos num ato público de resistência, figuras do meio cultural, civil e político expressaram as suas motivações para estar na rua e não ficar em silêncio diante do avanço de ataques de extrema-direita como aquele que sofreu o ator da Barraca, Adérito Lopes.

Testemunhos, recolhidos pela Rádio Universidade de Coimbra, ilustram esta mobilização consciente.

“Quando algo de fundamental nos começa a ser roubado” – JP Janicas

Para João Paulo Janicas da Cooperativa Bonifrates, a razão de estar na Praça 8 de Maio é clara: não se pode ignorar quando direitos e valores fundamentais são postos em causa. “A história ensina-nos que quando dormimos sobre aquilo que pensamos adquirido […] corremos o risco de que isso nos seja roubado.”

Janicas acredita que ainda é possível reverter o curso dos acontecimentos através da força da razão e da humanidade, e reforça a importância de mostrar o rosto, de afirmar publicamente os valores em que se acredita. “É importante dizê-lo em voz alta e mostrar a cara.”

“A ascensão da extrema-direita não é só de palavras, é por atos” – Pinto Ângelo

Ângelo Pinto, deputado municipal também presente na mobilização, aponta diretamente para o crescimento da extrema-direita como principal motivo para agir. Para ele, este não é um fenómeno apenas retórico, mas que se traduz já em agressões concretas, em atos vingativos e ataques às liberdades individuais.

“Temos de estar presentes na rua, enfrentando sem qualquer rebusso aquilo que está a acontecer à nossa volta”, disse.

Para o deputado municipal não se trata de coragem, mas de responsabilidade. “Temos de estar todos juntos, enfrentando claramente este perigo que é real.”

“Isto não é uma guerra da cultura – é uma guerra de cidadania” – Carlos Antunes

Carlos Antunes, diretor do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, ofereceu uma visão mais abrangente: o momento que vivemos, segundo ele, tem paralelos apenas com os períodos mais sombrios do século XX como a Segunda Guerra Mundial. O ataque não é dirigido apenas à cultura ou a uma classe intelectual – é um ataque às liberdades básicas e à essência do que é ser cidadão.

“Temos de ser muito claros de que lado estamos”, afirma com firmeza.

A rua como palco da resistência

Os testemunhos convergem num ponto central: a necessidade de agir. Não há lugar para o silêncio ou para a neutralidade. Como bem sublinhou Carlos Antunes, “cada vez menos se fala em cidadãos e cada vez mais se fala em ativistas” – uma mudança que revela um esvaziamento preocupante da participação cívica quotidiana.

Protestos e reivindicações de combate ao racismo e xenofobia ouviram-se, ontem domingo em várias cidades do país. Coimbra não ficou em silêncio e manifestou-se na rua.

Nota: o artigo foi elaborado com transcrição das entrevistas e revisão de ferramentas de IA

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