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Praxe académica: “o cimento aglutinador que está a ser perdido”

A tradição praxística é um dos objetos de discussão que hoje marca a academia, mas, a par da vida académica, tem sofrido alterações profundas nas últimas décadas. Para compreender estas mudanças, a República dos Fantasmas promoveu um debate, no dia 20 de maio, na sequência da comemoração do seu 56º centenário. 

Lado a lado, estiveram presentes Joaquim Reis, o fundador da Secção de Fados da Associação Académica de Coimbra (SF/AAC), Serafim, o fundador da República dos Fantasmas, e Armando, um antigo estudante que acompanhou os primeiros tempos da praxe. A moderar o debate esteve Catarina Costa, membro do Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra (UC).

A conversa recordou os primeiros tempos da praxe, entre 1957 com o primeiro código praxístico e a crise académica de 1969. O período foi relembrado com saudade e destacaram-se as múltiplas funções da praxe, além do “gozo ao caloiro”. Foi ainda referida a importância do traje académico, que era usado com regularidade como símbolo de liberdade. A capa e a batina permitia aos estudantes sentirem-se parte de um todo, sem que a sua capacidade financeira tivesse influência. Armando, que acompanhou este tempo, revelou que ser estudante era motivo de orgulho.

O debate estendeu-se ao relembrar a segunda “fase” da história da praxe, que correspondeu ao período de luto decretado após a crise académica de 1969. De acordo com o painel de conversa, a greve aos exames e o luto académico fizeram também parte da tradição da praxis.  Joaquim Reis destaca que nesta época, não sendo abolida, a praxe viu apenas alguns dos seus aspetos suspensos, como as festas académicas e o “gozo ao caloiro”.

O terceiro momento da praxe surgiu com o fim do luto académico, após o 25 de abril de 1974, quando um grupo de estudantes formou o movimento para a restauração e reorganização da praxe académica de Coimbra. Joaquim Reis, um dos fundadores do movimento, evidenciou que a tradição regressou a alguns dos antigos moldes mas que, por influência política, foi descaracterizada e o “cimento aglutinador” da praxe foi perdido. Armando, antigo estudante, acrescentou que acompanhou diversas gerações de estudantes e que, atualmente, já não se revê no espírito académico.

Durante a conversa foi relembrado que a função da praxe é a integração e a entreajuda entre os estudantes e que estes valores têm vindo a ser esquecidos. Os oradores confessaram ainda que não concordam com alguns dos novos hábitos praxísticos.  Durante o debate foi também discutida a função das reais repúblicas de Coimbra e a sua ligação à tradição praxística.

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