Comboio apitou pela última vez entre Coimbra-A e Coimbra-B
Ativistas contra fecho da Estação Nova, trabalhadores da CP, habitantes da cidade que não quiseram perder o último comboio, políticos locais, e aqueles que viajam de comboio para regressarem a casa a partir de Coimbra-A marcaram presença na estação a que o povo chama de Nova.
Comboio apitou pela última vez entre Coimbra-A e Coimbra-B.
Comboio número 36800, rumou esta madrugada a Coimbra-B para depois seguir para a Figueira da Foz.
“Viveu-se ambiente de preocupação mas também de esperança”
Tímida, encostada a uma coluna da Estação Nova, Isabela aguarda a partida. A utente mora em Pereira e há dois anos que apanha o comboio da meia-noite e vinte na Estação Nova para chegar a casa. Isabela trabalha num restaurante até às onze e meia da noite, com Coimbra-A fechada teme que fique mais difícil o regresso depois de um dia de trabalho.
Célio Correia do Sindicato dos Trabalhadores Ferroviários foi incansável a atender os Órgãos de Comunicação Social que se deslocaram para reportar a saída do último comboio de Coimbra-A.
O sindicalista ainda acredita que com “a luta de todos” o comboio volte a circular no troço ferroviário que une as duas estações de comboios da cidade.
Segundo Célio Correia não são só os trabalhadores das bilheteiras que laboravam na Estação Nova que vão ser deslocados. Também a IP – Infraestruturas de Portugal que tutela a CP tem na Rua do Arnado trabalhadores que teme sejam transferidos para outros locais.
Um aluno universitário de História vestiu-se a rigor como no século XIX para se despedir de Coimbra-A. Para o estudante brasileiro, a existência de uma estação no centro da cidade “foi importante para o desenvolvimento de Coimbra”.
Eurídice Rocha trabalha em Timor-Leste, mas como “filha da cidade” tem o comboio na memória das suas vivências. Quando não está emigrada usa o comboio para as deslocações.
A “cidade tem de ser pensada para as pessoas e tem de ser vivida com as pessoas, não com o dinheiro, mas sim com as pessoas”, lamentou. Esteve ontem, não para se despedir do comboio que partiu de Coimbra-A, mas para dizer que “a luta continua”.
Graça Coelho, estava na Figueira da Foz e deslocou-se de propósito a Coimbra para acompanhar a saída do último comboio. Foi emocionada que nos contou estar doente e que o comboio fez parte da sua vida para vir de Formoselha trabalhar em Coimbra.
Atrasado cerca de dez minutos, o comboio rumou à Figueira da Foz, parando nas estações e apeadeiros. A viagem de cerca de três minutos entre as duas estações, será dificilmente conseguida pelos autocarros que a Metro Mondego vai disponibilizar para o transbordo, face às demoras habituais em hora de ponta na Avenida Fernão de Magalhães.
Quanto ao edifício da Estação-A que o povo conhece como Estação Nova, inaugurada a 18 de outubro de 1885, aguarda destino da parte da Câmara Municipal de Coimbra.