Inauguração de mural evoca luta estudantil, emoções fortes e liberdade
No mesmo dia em que a palavra foi rejeitada no passado, a mesma foi hoje celebrada. Discurso de Marcelo Rebelo de Sousa foi interrompido para dar a palavra a manifestantes.
Foi inaugurado esta tarde um novo mural em homenagem ao 17 de abril de 1969. A cerimónia de inauguração contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, Alberto Martins, antigo presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC), principal protagonista do dia hoje celebrado, do reitor da Universidade de Coimbra (UC), Amílcar Falcão, do vice-presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), Francisco Veiga e do atual presidente da AAC, Renato Daniel.
Após uma breve introdução e depois de se fazer ouvir o fado de Coimbra com atuação do grupo “Presença de Coimbra”, que esteve envolvido nas lutas estudantis entre 1968 a 1974, o tema “Trova do Vento que Passa”, antecedeu Renato Daniel, presidente da AAC, que abriu a sessão de discursos com início às 14:20h da tarde.
Com foco na óbvia homenagem ao seu antecessor, Alberto Martins, o atual presidente da AAC discursou também contra o “populismo e contra os discursos fáceis” apontando para a educação como uma arma a ser utilizada contra os mesmos.
Seguiu-se o vice-presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), Francisco Veiga, que, em jeito de narrador, contou um pouco da história das lutas estudantis na cidade de Coimbra.
Francisco Veiga, realçou a importância do dia 17 de abril de 1969 para a democracia nacional, destacando o papel que este teve como antecessor do 25 de abril de 1974.
O vice-presidente da CMC, felicitou Alberto Martins cujo legado, num exemplo dado por Francisco Veiga, deu a possibilidade a estudantes que se manifestavam num discurso anterior do presidente da República, de interromperem o mesmo.
Deixou ainda sublinhada a instabilidade que se faz sentir no presente, e deixou uma mensagem em estilo de aviso.
Após uma primeira tentativa de interrupção das cerimónias, por parte de alguns manifestantes pró-Palestina que se encontravam presentes, o reitor da UC, Amílcar Falcão iniciou o seu breve discurso.
Amílcar Falcão assinalou também a importância da “palavra” para uma democracia, garantindo que esta é também necessária para o bom funcionamento de qualquer instituição, tal como é a Universidade de Coimbra.
Tal como o vice-presidente da CMC, o reitor da UC assinalou a atualidade que as lutas de 1969 ainda têm nos dias de hoje.
Alberto Martins, antigo presidente da AAC, protagonista do dia 17 de abril de 1969 e principal homenageado nas cerimónias do dia de hoje, destaca que, este dia “é sem qualquer dúvida uma data histórica nos anais da Academia e da sua universidade.”
“Eu era a Academia de Coimbra, uma geração, a pedir a palavra por uma causa justa.”, foi assim que o “presidente eterno” relembrou o momento em que se opôs ao antigo presidente da República, Américo Thomaz.
Emocionado e entre aplausos, Alberto Martins enumerou os nomes dos oito dirigentes estudantis que foram suspensos e proibidos de frequentar as aulas por decreto governamental e que motivaram ainda mais a luta dos estudantes.
Por fim, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, viu a palavra a ser-lhe dada. No entanto o seu discurso não se iniciou sem antes, os manifestantes pró-Palestina que se encontravam no local, interromperem de novo a cerimónia.
Pedindo a palavra, o grupo de estudantes viu-lhes assim ser dada uma oportunidade de a usar, pelo Presidente da República, que, após uma pequena intervenção de uma manifestante ao microfone, iniciou então a sua própria.
Marcelo Rebelo de Sousa relembrou que “Portugal, desde sempre, defendeu tal como as Nações Unidas, o direito da Palestina a um estado independente”, o Presidente da República destacou também a posição portuguesa que tem apoiado um cessar-fogo imediato.
Foi também enumerado as diferentes tomadas de posição do governo português sobre o estatuto da Palestina nas Nações Unidas.
O Presidente da República felicitou Jorge Sampaio assim como o homenageado do dia, Alberto Martins, agradecendo-lhe pelos seus sacrifícios em prol da luta estudantil. Bem-disposto, Marcelo Rebelo de Sousa fez ainda uma piada sobre a lógica contra-democrática de chamar “presidente eterno” a Alberto Martins, num dia em que a democracia é então fortemente assinalada.
Após uma viagem sobre os vários aspetos e episódios das lutas estudantis das décadas de 60 e 70, o chefe de estado, deixou um agradecimento profundo ao antigo presidente da Associação Académica de Coimbra.
O mural em celebração do histórico 17 de abril de 1969 foi realizado pelos artistas c’Marie e Egrito e foi assim inaugurado na rua Padre António Vieira.