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Comissão Independente do CES confirma “padrões de assédio e abuso de poder” na instituição

CES mostra preocupação com as vítimas e procura evitar futuras situações. Estudantes manifestam-se contra o assédio e abuso sexual. Boaventura Sousa Santos diz não se rever nos resultados da Comissão Independente.

Na passada quarta-feira, dia 13 de Março, realizou-se uma conferência de imprensa no Centro de Estudos Sociais para dar a conhecer os resultados das alegações de violência sexual e assédio investigadas pela Comissão Independente.

O relatório da comissão independente regista 32 pessoas como denunciantes, 78 % das quais mulheres. Foram também identificadas 78 denúncias referentes a 14 pessoas denunciadas, das quais 64 % mulheres e 36 % homens.

As denúncias apresentadas correspondem a 28 % sobre assédio moral, 19 % assédio sexual, 8% abuso sexual, 27% abuso poder e 18% de outras categorias.

Na carta aberta do Centro de Estudos Sociais (CES), a instituição declara “o seu repúdio e indignação pelas práticas de assédio e abuso moral e sexual e de abuso de poder cometidas por investigadores/as do CES” e pede desculpa a todas as vítimas.

Durante a conferência, o diretor do CES, Tiago Santos Pereira, assume a responsabilidade pelos atos cometidos visto que aconteceram dentro da instituição mas reforça que houve um conjunto de mudanças institucionais tais como: a criação do código de conduta e a criação da comissão de ética.

O representante explicita também que como instituição não podem suspender nenhum dos denunciados sem instaurarem um processo disciplinar mas que essa possibilidade está a ser avaliada e que essa decisão está também dependente de outros fatores envolvendo a associação CES.

Tiago Pereira continua o seu discurso dizendo que esta decisão deve ser discutida na assembleia do instituto.

O diretor do CES afirma que há duas preocupações no momento, que são valorizar as vítimas mas também trabalhar dentro do quadro legal existente e tentar evitar que as situações pelas quais passaram aconteçam de novo.

Relatório da Comissão Independente aponta padrões “de abuso de poder e assédio por parte de algumas pessoas que exerciam posições superiores na hierarquia do CES”. O documento vai ser enviado ao Ministério Público para averiguar se existe quadro penal a ser aplicado.

Tiago Pereira mostra que é também necessário implementar um conjunto de medidas, de forma organizada, de modo a englobar mais estudantes na instituição.

No fim da conferência, um grupo de estudantes, de forma espontânea, manifestou-se pela causa contra o assédio. Os estudantes colaram cartazes com frases como “Não voltem a nos silenciar”  e “Sempre foi assédio” e gritavam a seguinte frase “Mexeu com uma, mexeu com todas”. Os envolvidos na manifestação procuram falar com o representante do CES mas não obtiveram sucesso.

Em entrevista à Rádio Universidade de Coimbra, Damas Morais, um aluno de mandarim da Universidade de Coimbra, diz que o CES não deu a devida seriedade ao caso e que estava apenas preocupado com a imagem da instituição.

O estudante afirma que afastarem Boaventura Sousa Santos do cargo que tinha, não citarem os nomes das pessoas envolvidas no relatório e não tratarem as vítimas como tal, mas como alguém que se sinta vitimizado demonstra “não quererem resolver o problema”.

Boaventura Sousa Santos enviou nota às redações onde declara ter esperado da parte do CES um esclarecimento que “pusesse fim ao clima de suspeição”.

Diz também que os resultados da comissão independente evidenciam situações de abuso de poder nas quais ele não se revê visto que essas situações foram praticadas ao longo do anos por membros de posições superiores do CES e que ele não faz parte de nenhum deles desde 2010.

Boaventura dos Santos Sousa termina dizendo que espera que este processo sirva de exemplo para o futuro.

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