Jornalismo Universitário vai estar em análise em Coimbra de 22 a 24 de março
Organização pretende que da discussão surja um documento com propostas que contribuam para resolver problemas como o acesso à profissão, questões éticas ou deontológicas, dificuldades de financiamento ou obstáculos na transição digital.
O jornalismo Universitário ou Académico tem passado por “vários desafios que não são discutidos no seio da comunidade e no seio da classe”, adianta à RUC Ana Filipa Pais, diretora do jornal A Cabra.
O jornal da Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra organiza o encontro com o ComUM de Braga, o Diferencial do Instituto Superior Técnico em Lisboa e o Jornal Universitário do Porto. As inscrições podem realizar-se até ao dia 29 de fevereiro.
Filipa Pais sustenta que “o jornalismo académico é quase como um estágio, não é considerado ainda uma profissão” e que apesar de os órgãos, como no caso d’ A Cabra, estarem inscritos na Entidade Reguladora Para a Comunicação Social (ERC) e de tentarem realizar o seu trabalho com “profissionalismo” ainda enfrentam especificidades próprias.
Durante os três dias do encontro, as discussões vão passar pela formação em jornalismo, sobre fechar ou abrir a profissão, as condições de precariedade, as dificuldades de inserção no mercado laboral, a transição digital, o esquecimento do papel e do analógico, entre outros temas.
A iniciativa que partiu do Diferencial, o jornal dos estudantes de engenharia do Instituto Superior Técnico, foi ao encontro do que o jornal A Cabra já sentia como necessário. Afinal, na Associação Académica de Coimbra, o jornalismo tem “um peso muito grande” e é exercido “num contexto muito diferente do resto do país” com a existência de três órgãos de informação, a Rádio Universidade de Coimbra, a TvAAC e o Jornal Universitário de Coimbra, lembra a diretora do jornal A Cabra.
A Cabra, único jornal académico que ainda imprime em papel, quer continuar a promover uma luta pela importância do jornalismo universitário, que no entender da responsável “serve como um microcosmos daquilo que é depois a profissão de jornalista”.
São diferentes os contextos, diferentes as realidades das redações dos órgãos de comunicação social académicos do país. Daí fazer sentido “conhecer vários testemunhos e conhecer as diferentes realidades dos colegas” e, mais uma vez, incentivar esta discussão sobre a profissão.
O jornal Universitário de Coimbra A Cabra, O Diferencial, O ComUM do Minho e o JUP, o Jornal Universitário do Porto, vão depois editar as conclusões e enviá-las a entidades como o Sindicato dos Jornalistas, a ERC, a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, as próprias reitorias das Universidades onde são dados os cursos de Formação em Jornalismo e Comunicação, adianta Filipa Pais.
As inscrições foram abertas “com o critério de receber apenas estudantes, jovens, membros, integrantes de órgãos de comunicação académicos” para a discussão ser “frutífera” e para surgirem “exemplos vivos de pessoas que vivem esta realidade todos os dias”, esclarece a diretora d’ A Cabra.
No entanto, a responsável clarifica que são possíveis inscrições de participantes “não estudantes do ensino superior”, apenas se recomenda que sejam membros de órgãos de comunicação social académicos.
O que serve para “revistas de núcleos, para jornais, para rádios, televisões, para ‘podcasts’”, ou seja, para qualquer “projeto de teor jornalístico que seja académico e que seja feito por estudantes ou membros da comunidade académica”.
Considerando que o encontro tem “imenso valor e imenso potencial”, Filipa Pais afirma acreditar que muitos estudantes e muitos membros de órgãos de comunicação, ”vão querer participar e vão querer vir a Coimbra e juntar-se neste momento que não é só de discussão e de trabalho, mas é também de convívio e de partilha e de conhecimento de outras realidades”.
No 5.º Congresso de Jornalistas, o tema do Jornalismo Académico foi aflorado, mas não foi profundamente discutido, por existirem muitas moções e muitos temas em debate. O Jornalismo Universitário ou Académico foi abordado pela professora, Ana Isabel Reis, da Universidade do Porto, e também por Elsa Moura da RUM, a Rádio Universitária do Minho.
Filipa Pais fez parte da redação do 5.º Congresso dos Jornalistas e deixa as emoções que sentiu no encontro: “foi também um murro no estômago porque ali estavam concentrados jornalistas e colegas muito ansiosos e vivia-se uma grande tensão e medo mesmo por aquilo que é o futuro do jornalismo”.
Filipa Pais enfatiza que o Encontro Nacional de Jornalismo Universitário se realiza também numa tentativa de “trazer para o meio académico e a comunidade de jovens que representam”, a discussão sobre o futuro. Para que os profissionais vejam de “facto uma mudança”, para conseguirem continuar a querer ser jornalistas e a terem “uma vida pessoal confortável, ter dignidade no trabalho, dignidade pessoal”.
Para a diretora do Jornal Universitário de Coimbra A Cabra, “sem informação não há liberdade”.
Fotografia: Jornal A Cabra@ Sofia Variz Pereira