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João Fontes da Costa: “Não faz sentido que a Câmara Municipal de Coimbra venha praticamente demitir-se de um plano de arborização sério”

Candidato a deputado mostra-se contra a possível exploração de lítio na região. Melhor administração das florestas que permita a vida animal nos seus habitats naturais e gestão da vegetação da cidade de Coimbra estão entre as preocupações do entrevistado, que lembra que o PAN é o partido da oposição que mais propostas conseguiu aprovar no parlamento.

Com as eleições legislativas agendadas para o próximo dia 10 de março, a Rádio Universidade de Coimbra entrevistou o candidato a deputado João Fontes da Costa, cabeça-de-lista do PAN – Pessoas-Animais-Natureza, pelo círculo eleitoral de Coimbra.

“As coisas boas demoram tempo a fazer”

João Fontes da Costa, cabeça-de-lista do PAN pelo círculo eleitoral de Coimbra, destacou a abordagem cuidadosa do seu partido na elaboração do programa para as eleições de 10 de março. “Aquilo que está no programa vai trazer soluções para coisas que preocupam as pessoas todos os dias”, referiu o candidato. Enfatizou a importância de criar um programa abrangente que inclua questões cruciais como habitação, saúde, justiça, educação, direitos dos animais, proteção ambiental, igualdade de género e direitos humanos.

O candidato salientou ainda a vontade do PAN em cumprir integralmente as propostas do programa eleitoral apresentado em 2022 e exaltou o processo de elaboração do programa eleitoral do partido para as legislativas deste ano, sublinhando que o PAN aceitou ”contributos de todos, mesmo aqueles que não eram sequer militantes do partido”.

“A nossa região tem um déficit de atenção política nos últimos anos”

O cabeça-de-lista pelo círculo eleitoral de Coimbra destacou as especificidades de sua candidatura. Apontou  a atenção política deficitária que a região tem recebido, afirmando que a mesma tem sido deixada para trás em diversas decisões.

A proposta do PAN para a região inclui “combater o acesso desigual aos cuidados de saúde primários”, especialmente em áreas geograficamente amplas como Góis, Pampilhosa, Arganil, Oliveira do Hospital, Mira e Penacova, onde a falta de unidades de saúde familiar é agravada. “As pessoas não têm culpa por estarem em zonas que estão despovoadas”, refere João Fontes da Costa. Além disso, o candidato abordou questões cruciais como a educação, propondo soluções locais para problemas nacionais, como a necessidade de creches acessíveis.

“Mentiram-nos há uma série de anos quando diziam que as propinas se manteriam porque iriam ser utilizadas para investir nas infraestruturas”

Quanto aos desafios enfrentados pelo ensino superior da cidade, João Fontes da Costa destacou que “em apenas um ano, percebemos que as rendas do alojamento estudantil aumentaram brutalmente”. Denunciou a falta de camas nas residências universitárias, sublinhando que “15 mil camas em residências para um total nacional de mais de 100 mil estudantes deslocados” não são suficientes.

João Fontes da Costa manifestou apreensão com o subinvestimento no ensino superior e com a necessidade de alterar o modelo de financiamento. Mostrou-se preocupado com a precariedade dos contratos de investigadores e docentes, e salientou a importância de um ensino de qualidade. O candidato criticou o subfinanciamento e a falta de investimento em infraestruturas, afirmando que é hora de acabar com as promessas não cumpridas em relação ao uso do valor das propinas no financiamento do ensino superior. Propôs o fim das propinas e destacou a necessidade de soluções concretas para enfrentar os desafios do ensino superior.

“O plano de arborização da cidade está em grande medida assente numa empresa, que é a Metro Mondego”

João Fontes da Costa expressou preocupação com a falta de alternativas ao traçado proposto para o metrobus. O candidato mostrou-se contra o abate de árvores, criticando a escolha economicista em detrimento da preservação ambiental. “O abate de perto de 700 árvores dentro do espaço do CHUC é do ponto de vista ambiental, inenarrável”, advoga o candidato. “As árvores têm um papel fundamental não só como um elemento decorativo, mas do ponto de vista da climatização das cidades, ou seja, vamos ter uma Coimbra mais quente”.

João Fontes da Costa denunciou a relação entre o plano de arborização da cidade e a empresa Metro Mondego: “Temos um plano de arborização da cidade que está em grande medida assente numa empresa, que é neste caso a Metro Mondego, que está a contribuir para este passivo ambiental. A plantação de árvores que está prevista está muito assente nesta empresa”.

Sobre o metrobus, o candidato reconheceu possíveis benefícios, especialmente na melhoria da mobilidade suave com autocarros elétricos de via dedicada. No entanto, expressou desacordo com o encerramento da estação de Coimbra A, considerando-o um grave erro que poderia ter sido evitado se a cidade tivesse um controlo mais assertivo sobre o destino dos transportes públicos.

Em relação à gestão que será feita, após o término do tempo de vida das futuras baterias utilizadas pela Metro Mondego nas suas composições, João Fontes da Costa destaca a importância de estender os princípios de economia circular ao sistema de mobilidade do Mondego. O candidato planeia por isso abordar o tema no futuro junto da administração da Metro Mondego.

“Mesmo que alguns candidatos a primeiro-ministro digam que nós temos uma das maiores reservas do mundo de lítio, não quer dizer que essa riqueza não traga outro tipo de pobreza. Estamos fartos que se analise o crescimento económico, esquecendo as externalidades negativas”

João Fontes da Costa é contra os projetos de mineração de lítio no distrito de Coimbra. Expressou preocupação com impactos ambientais e sociais, provenientes da mineração a céu aberto, como a afetação da biodiversidade, coberto vegetal e poeiras prejudiciais à saúde. “Não podemos dizer que o PIB cresceu pela venda do lítio ou por termos a cadeia de produção do lítio aqui e depois ignorarmos todo o passivo ambiental que deveria ser abatido a este crescimento (…) Mas o valor económico tem que se sobrepor ao valor ambiental? O valor económico tem que se sobrepor à qualidade de vida das populações? No nosso entender, claramente não”, defendeu o candidato a deputado.

No âmbito desta matéria, João Fontes da Costa criticou as consultas públicas realizadas exclusivamente online numa zona de populações envelhecidas, com literacia digital mais baixa. No ponto de vista do cabeça-de-lista do PAN a solução passa por alternativas tecnológicas ao lítio, como o hidrogénio. Sublinhou a necessidade de investir em pesquisa para desenvolver tecnologias sustentáveis, evitando a sobre mineração de recursos e promovendo um desenvolvimento económico equilibrado.

“Nós somos completamente contra a caça desportiva (…) há formas de controlo das populações (de javalis) que não passam por essas soluções extremas”

O cabeça-de-lista do PAN por Coimbra não tem dúvidas quando o tema é a caça desportiva. Para João Fontes da Costa nada justifica este tipo de prática. O candidato rejeita a possibilidade da caça desportiva ser um meio para controlo das populações de algumas espécies animais. Para João Fontes da Costa é preciso ir à origem do problema para o resolver convenientemente: “O aproximar dos javalis das populações tem a ver com o facto de eles estarem a ser expulsos do seu habitat natural, porque as florestas não estão bem geridas, temos problemas com certeza ao nível de toda a sua cadeia alimentar nas zonas onde eles naturalmente deveriam estar”.

O PAN tem denunciado as montarias de javalis e veados que nos últimos tempos têm assolado a Serra da Lousã: “Três montarias em poucas semanas vão dizimar o grupo de veados que temos nesta serra, que é um património de todos”, ressaltou o entrevistado.

João Fontes da Costa aponta a urgência de uma mudança na legislação que não permita este tipo de práticas. Critica a falta de sentido moral destas atividades de caça, mesmo quando são legalmente aceites, e apela a que haja uma gestão florestal eficaz: “A nossa posição é clara. Com meios adequados, fazer o retorno destas populações (animais) aos seus locais de procriação e de alimentação, e garantir que uma gestão de floresta adequada consiga resolver também estes problemas. Não estas soluções drásticas (caça) e muito menos para gáudio daqueles que as fazem”.

“Continuar a votar nos mesmos partidos pensando que vai haver alguma solução não faz sentido”

João Fontes da Costa destaca a importância de eleger um deputado pelo seu partido em Coimbra, argumentando que isso ajudaria a resolver questões relacionadas com problemas que os partidos do chamado arco do poder não têm conseguido resolver.

“Nós já conseguimos provar que, com uma força parlamentar só de uma deputada, conseguimos ter alavancagem para garantir propostas que são importantes para toda a gente. (A possibilidade de) termos um grupo parlamentar mais alargado só vai dar mais razão a esta ideia”.

O candidato sublinha a capacidade do PAN apresentar soluções concretas para vários problemas. “Um deputado do PAN eleito por Coimbra iria consolidar esta ideia de que teríamos a capacidade de impor a defesa das causas que são, na verdade, de todos. Não são causas do PAN, são causas de todos nós. Nós não inventámos causas nossas. Nós estamos a defender causas que são efetivamente de todas as pessoas”.

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