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24.01.2024POR Isabel Simões

Coração do jornalismo bateu forte durante quatro dias no cinema São Jorge em Lisboa

Jornalistas reunidos em congresso aprovaram realizar uma greve geral “pelo fim da precariedade, por melhores condições para o exercício da profissão”

Sete anos depois do último congresso, jornalistas reuniram em Lisboa de 18 a 21 de janeiro e decidiram lutar “para salvar o que ainda resta do jornalismo”. Foram várias as moções que chamaram a atenção para os baixos salários, horário desregulado, falta de diálogo nos temas a abordar, redações “exauridas” e profissionais jovens a abandonarem a profissão, por falta de condições para a exercerem.

“A crise está entranhada em todas as redações”, relata a moção aprovada por unanimidade e aclamação. O documento “retirou a menção a uma paragem durante o período eleitoral da proposta original”, esclarece o sítio da Internet oficial do 5.º Congresso.

Fica agora a cargo das estruturas sindicais a marcação do dia de greve geral e de, em simultâneo, promover uma manifestação nacional.

Em painéis sobre ética da profissão, condições de trabalho, saúde-mental dos profissionais, autocensura, formação e ensino, acesso à profissão fizeram-se ouvir testemunhos, muitos, de problemas e dificuldades no exercício da profissão que todos consideraram “essencial para a democracia.”

“O jornalista deve ser um democrata radical” – João Figueira

“O jornalismo e a valorização da democracia” foi o tema escolhido pelo professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), João Figueira apresentar ao congresso.

O professor da FLUC entende que se “estamos sempre a fazer a ligação entre jornalismo e democracia, significa que o jornalismo tem de estar sempre do lado da democracia”.

Para João Figueira, a prática do jornalismo de interesse público, que tem como missão o esclarecimento dos cidadãos para que eles de forma esclarecida formem opinião, exige um conjunto de princípios e de valores. O professor da FLUC adiantou competências necessárias ao exercício da profissão.

O Congresso mostrou-se preocupado com a “qualidade do jornalismo praticado“ e com as escolhas editoriais das direções dos órgãos de comunicação social.

A “cacofonia de informação” que existe em muitos órgãos foi uma das preocupações apontada pelo professor da FLUC. O jornalismo que se faz tem de ser discutido com os diretores porque são eles os responsáveis pelas escolhas, enfatizou.

“Extrema direita utiliza valores e frustações que estão na sociedade” – Natália Viana 

“Extrema-direita e o jornalismo”, foi um dos painéis que levou mais jornalistas e discussão à sala Manoel de Oliveira do cinema São Jorge.  Natália Viana, cofundadora e diretora executiva da Agência Pública e Miguel Carvalho, jornalista freelancer, foram os convidados  do painel moderado por Maria Torres da Silva, da Universidade Nova de Lisboa.

Natália Viana alertou para “o uso profissionalizado da mentira como arma política” no Brasil, ao tempo de Bolsonaro e mesmo depois de Lula ter ganho eleições, uma vez que os bolsonaristas continuam nas redes sociais “a criar realidades e factos alternativos”. “A imprensa teve que se adaptar porque era usada”, esclareceu a diretora executiva da Agência Pública.

“Muitos foram lá parar [ao Chega ] porque andamos todos a falhar com eles há muito tempo” – Miguel Carvalho

Miguel Carvalho, um dos jornalistas que tem publicado sobre o Chega em Portugal, esclareceu que os militantes do partido abrangem todas as classes sociais, não há só polícias ou guardas prisionais como militantes. Há também professores, desde o Ensino Básico à Academia, informou o jornalista, Prémio Gazeta de Imprensa de  2022.

“Saber distinguir muito bem, e com firmeza também, aquilo que é a retórica do discurso político e do discurso político extremista da direção do Chega e do seu núcleo duro, daquilo que é a base eleitoral do próprio partido”,  foi uma das recomendações que deixou a quem vai cobrir a campanha eleitoral do Chega.

Segundo Miguel Carvalho, a estratégia de ‘marketing’ político do Chega também tem passado pelas redes sociais com a criação de autenticas “milícias digitais”, à semelhança do que tem acontecido com Trump, Bolsonaro e com Javier Gerardo Milei na Argentina.

“Sermos absolutamente intransigentes e vigilantes na forma como, parte daquele discurso, é antidemocrático e anticonstitucional até, e não difundi-lo”, foi outra das recomendações do jornalista.

“Se não fosse o João não estava aqui” – Maria Flor Pedroso

O 5.º Congresso dos Jornalistas evocou os jornalistas falecidos. João Mesquita, que Iniciou a atividade em finais da década de 1970, no semanário Voz do Povo, e que escreveu no jornal da região As Beiras, para além de vários jornais nacionais, foi um dos homenageados.

“Homem íntegro, frontal, vertical, exigente, generoso, angustiado com o seu tempo” – José António Teixeira sobre Mário Mesquita

Mário Mesquita, político fundador do Partido Socialista, deputado na Assembleia da República, jornalista e professor, fundou o Curso de Jornalismo na FLUC, foi outro dos homenageados.

Pode saber mais sobre o 5.º Congresso dos Jornalistas aqui.

Fotografia: Tiago Sousa | Universidade do Algarve

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