Exposição “Livros Proibidos durante o Estado Novo” da BGUC rompe esquecimento
Livros como “Quando os lobos uivam” de Aquilino Ribeiro, “Novas Cartas Portuguesas” das três Marias, “Questão Agrária” de Álvaro Cunhal ou “O Quarto Dia” de Miguel Torga fazem parte da seleção. A mostra itinerante vai viajar pelas Bibliotecas Escolares de Coimbra
A exposição “Livros Proibidos durante o Estado Novo foi apresentada na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC) no dia 27 de novembro. Com curadoria da BGUG, a mostra integra as celebrações oficiais dos 50 anos do 25 de Abril e vai viajar pelas escolas secundárias do concelho de Coimbra mas tem a possibilidade de ir a mais Bibliotecas Escolares da região.
Maia Amaral, diretor adjunto da BGUC explica as motivações para a seleção de 30 obras da exposição.
Entre as 30 obras proibidas pela censura que vão estar disponíveis, em versão fac-similada, pela editora “A Bela e o Monstro”, podemos encontrar livros como, “Quando os Lobos Uivam” de Aquilino Ribeiro, “Novas Cartas Portuguesas” de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, “Questão Agrária” de Álvaro Cunhal ou “O Quarto Dia” de Miguel Torga. A circulação vai iniciar em 2024 pela Escolas Secundárias D. Maria, Quinta das Flores e D. Duarte.
Manuel Portela, diretor da Biblioteca Geral fala da importância do conhecimento da nossa História e da história da leitura.
Paulo Pires do Vale, coordenador do Plano Nacional das Artes, parceiro desta aventura de exposição itinerante, falou de como nós nos transformamos nos livros e de como a relação entre a Arte e o Livro é “tantas vezes esquecida”. A proibição “exercita o desejo de lhes pegarmos”, disse.
“Pensar os livros proibidos é também pensar um tempo e uma época e pensarmos como nos defendermos do esquecimento”, mencionou Paulo Pires do Vale, acrescentando como os livros que lemos “criam uma comunidade”.
Carlos Antunes do Atelier do Corvo que, com Desirée Pedro, é responsável pelos dois objetos que vão circular pelas escolas falou-nos de como foram concebidos dois objetos iguais, em que um dos lados tem orifícios por onde se podem visualizar as lombadas dos livros. Se uma das caixas permanece fechada, a outra pode abrir-se para desfrutar as obras que tem dentro.
Delfim Leão, vice-reitor da Universidade de Coimbra (UC) para a Cultura e Ciência Aberta, contou como o controlo da informação remonta a muito antes, deu exemplo da censura exercida por Luís XIV na definição dos livros que serviriam de base à educação do príncipe herdeiro. Por fim, o vice-reitor deu os parabéns a toda a equipa que participou no projeto.
Os livros, regra geral, não eram sujeitos a censura prévia, sendo a censura exercida após publicação, a apreensão posterior levava a que alguns livros fossem lidos de forma clandestina e passassem de mão em mão.
Segundo Maia Amaral, a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra foi a única biblioteca pública que durante o Estado Novo tinha à disposição dos leitores livros proibidos, um trabalho que espera apresentar durante o próximo ano.
Cada livro da exposição “Livros Proibidos durante o Estado Novo” tem à sua volta uma cinta impressa que permite, através de um QR Code, saber mais sobre o processo de censura da obra e ouvir o despacho que a proibiu e/ou um excerto do texto. Eis o que escreveu o censor sobre o livro “Quando os lobos uivam” de Aquilino Ribeiro.
Durante o Estado Novo, calcula-se que a censura tenham examinado entre 7 a 10 mil livros. Os motivos da proibição eram variados. Na Constituição de 1933 pode ler-se que a censura terá como finalidade “impedir a perversão da opinião pública na sua função de força social e deverá ser exercida por forma a defendê-la de todos os factores que a desorientem contra a verdade, a justiça, a moral, a boa administração e o bem comum, e a evitar que sejam atacados os princípios fundamentais da organização da sociedade“.
A exposição itinerante “Livros proibidos durante o Estado Novo”, da Biblioteca Geral da UC, tem a colaboração do Plano Nacional das Artes e da Rede de Bibliotecas Escolares da Região Centro. A mostra tem um site na Web onde pode consultar todas as capas dos livros proibidos escolhidos pela BGUC.
A apresentação da exposição foi mote para o programa “Há Vida(s) Nesta Cidade!” do último sábado e que pode ouvir no ‘podcast’ do início do artigo.