Barbosa de Melo: “Estamos a falar de uma espécie de golpe de Estado que decapitou o governo”
O deputado do PSD fez uma análise do “abalo” que o sistema político português sofreu ao longo dos últimos dias. A incerteza da batalha eleitoral que se avizinha foi um dos destaques de João Paulo Barbosa de Melo.
No Observatório da passada terça-feira o espaço de comentário ficou a cargo do deputado à Assembleia da República pelo Partido Social-Democrata (PSD) João Paulo Barbosa de Melo, que refletiu sobre os acontecimentos da passada semana que levaram à queda do governo e a eleições antecipadas no próximo dia 10 de março.
“Foi um abanão do sistema democrático português”
Ao momento da entrevista, o deputado acredita que é difícil fazer um balanço daquilo que se passou porque ainda está a acontecer. Numa situação sem precedentes da vida política portuguesa pós-25 de abril (a queda de um governo com maioria absoluta por surgirem “indícios” que colocam em causa a autoridade política do primeiro-ministro), Barbosa de Melo acredita que tanto António Costa como Marcelo Rebelo de Sousa fizeram a única coisa que podiam fazer. Com novas informações sobre o processo Influencer a vir a público diariamente, o antigo presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) destaca a necessidade de preservar a dignidade do poder judicial, que considera fundamental ao sistema democrático.
Atendendo à forma como se sucederam os acontecimentos, o comentador considera que já há um vítima clara e irremediável da queda do governo: a reputação internacional de Portugal. Assumindo a necessidade de “minimizar danos”, o deputado reflete que a forma como o governo caiu deitou por terra o trabalho que o país tem tido nos últimos anos para limpar a sua imagem e acrescenta que isso pode ter consequências graves na forma como a dívida agora vai ser gerida.
“Durante os próximos meses, estaremos numa situação bizarra onde o Presidente da República vai fazer de conta que está tudo bem e que nada aconteceu”
A cerca de quatro meses das eleições legislativas convocadas pelo Presidente da República, os partidos político reorganizam-se enquanto discutem a proposta de Orçamento de Estado para 2024- proposta essa que, segundo o deputado, pode enfrentar duras críticas da oposição que depois terá de trabalhar a partir dele. Em relação ao PSD, Barbosa de Melo considera que o partido não pode “embandeirar em arco” e que tem uma tarefa complicada pela frente, apesar da queda do Partido Socialista (PS). Com um líder estabelecido (que não deve ser reconsiderado, na sua opinião, por não ser uma estratégia razoável) e com um trabalho encaminhado, deve ser mais fácil definir um “programa coerente”.
Olhando aos outros partidos, o entrevistado faz uma avaliação ponderada, considerado que se o PS estava numa posição muito frágil na passada semana, as coisas mudam de dia para dia. Com a discussão do novo líder a poder beneficiar ou prejudicar o partido (tanto faz com que o PS esteja mais frequentemente nas primeiras páginas dos jornais, como pode levar a que haja uma discussão interna que manche a campanha eleitoral), o deputado acredita que está lançado “um jogo lançado de resultado incerto”, no qual as outras forças políticas também participam e em que vão tentar seduzir o eleitorado descontente com o atual partido do arco da governação.
Pode ouvir a entrevista na íntegra no link acima ou no nosso Spotify.