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“Café Bonheur” de Matéi Visniec, uma “obsessão pela busca da felicidade”, estreia na Escola da Noite

Autor romeno radicado em França estreia-se como encenador no Teatro da Cerca de São Bernardo. De 9 a 30 de novembro, Matéi Visniec, autor de cerca de 40 peças de teatro, dá-nos uma visão da sociedade consumista ocidental

“A lavagem cerebral corta o cordão umbilical que nos liga ao animal selvagem esquecido em nós”, anuncia o ator em cena em Café Bonheur.

Uma cena desenhada por Andra Badulescu cenógrafa, figurinista e artista plástica. A peça musicada por Claudiu Urse contém extratos de vídeos de Mircea Cantor que nos transportam para paisagens por vezes assustadoras. São pequenas histórias, fragmentos que nos alertam para aqueles que oferecem um “serviço de restauração emocional”.

Matéi Visniec escolheu a coreógrafa Marina Andrei para transformar atores como Ana Teresa Santos, Igor Lebreaud, Maria Quintelas, Miguel Magalhães e Ricardo Kalash em bailarinos de um cabaré “político e poético”.

“Café Bonheur”, não é uma comédia. Trata-se antes duma reflexão sobre a não-aceitação do que a sociedade atual nos impõe – o consumismo desenfreado, a moda ou ideias e comportamentos que têm como finalidade transformar-nos em autómatos bem comportados.

A título de exemplo da alienação atual, o autor menciona as redes sociais que roubam o tempo dos jovens para os transformar “num sujeito da sociedade de consumo e da indústria do divertimento”.

Matéi Visniec nasceu em 1956 na Roménia. O autor encontrou na literatura o espaço de liberdade que o “realismo socialista não lhe permitia”. Ao tornar-se autor proibido no seu país natal no regime do ditador Ceausescu, o escritor partiu para  França que o acolheu como refugiado político. Esteve durante 32 anos, até 2022, como jornalista na Rádio França Internacional (RFI).

À semelhança do que escreveu George Steiner, Matéi Visniec procurou mapear no título da peça a importância de uma “Europa feita de cafés”, locais onde se trocam ideias e muitas revoluções nasceram. “Em todos os lugares da Europa temos estes lugares especiais”, disse à Agência Lusa e à RUC após o ensaio para a imprensa.

Habituado a deixar liberdade absoluta aos encenadores dos textos que escreve, na primeira vez como encenador dum texto seu, começou por esquecer que tinha sido o autor.

Os textos da peça que estreia quinta-feira, dia 9 de novembro, às 19h00, no Teatro da Cerca de São Bernardo, fazem parte do livro “Teatro decomposto ou o homem-lixo”, publicado pelas Éditions L’harmattan em 1996.

A dramaturgia em estreia no Teatro da Cerca de São Bernardo mantém-se atual. A tão falada Inteligência Artificial (IA) não foi esquecida e faz parte duma das cenas finais intitulada “IA ou a felicidade”.

A dramaturgia de Matéi Visniec não é desconhecida na cidade. A convite da Escola da Noite, o público de Coimbra já pôde assistir em 2020 às pecas teatrais “Palhaço, Velho, Precisa-se” e “A mulher como campo de batalha”.

Café Bonheur tem sessões às quarta e quinta-feira, às 19h00, sexta e sábado, às 21h30 e aos domingos, às 16h00. O preço dos bilhetes varia entre os cinco e os dez euros.

Locução de José Miguel Martinho e Fotografia de ensaio: Escola da Noite©Eduardo Pinto

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