Mostra de Teatro Galego pretende ser “um abraço de Portugal, através de Coimbra e do Teatro à Galiza”
De 28 de setembro a 7 de outubro vão ter lugar em Coimbra, oito espectáculos, duas oficinas, duas exposições, duas leituras, uma apresentação de uma obra literária, uma feira do livro, uma masterclass e até um baile.
Quase uma dezena de instituições culturais da cidade juntaram-se à Escola da Noite e à Cena Lusófona para concretizar a iniciativa. Galiza e Portugal “estão muito próximos do ponto de vista da Língua e da História”, lembrou o produtor da Escola da Noite, Pedro Rodrigues, na conferência de imprensa que decorreu na Cena Lusófona, na última terça-feira, dia 5 de setembro.
“Encontramos na Galiza muito interesse por aquilo que fazemos […], apesar disso, continuamos a sentir que existe um grande desconhecimento em Portugal, na comunidade teatral portuguesa e no público de teatro, em relação ao teatro que se está a fazer na Galiza”, garantiu o produtor da Escola da Noite.
Interesse que, do ponto de vista de Pedro Rodrigues, deve “ser valorizado” e apontou “boas” razões para a criação da Mostra de Teatro Galego em Coimbra.
Pela cidade vão passar companhias históricas galegas com um repertório em que se revisitam “alguns dos melhores dramaturgos e encenadores galegos”. Rosalía de Castro, Vicente Risco, Emilia Pardo Bazán e Méndez Ferrin são alguns autores de textos que vão ser representados.
Uma “homenagem à Galiza” que vai passar pelo teatro mas também pelo conto de histórias, exposições, literatura e “até um baile”, porque “o teatro também é festa”, esclareceu o produtor da Escola da Noite.
“Castelão e a sua época em Coimbra” assim se chama a exposição que vai ter lugar no Centro de Artes Visuais (CAV). A mostra de fotografia quer lembrar um trabalho que devia ter estreado em Abril de 1969 no Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC) e que não estreou porque na véspera da estreia, o encenador Ricardo Salvat foi expulso pela PIDE que o foi entregar à polícia política espanhola na fronteira de Vilar Formoso.
A exposição surge por sugestão de Natércia Coimbra do Centro de Documentação 25 de Abril, outro dos parceiros da mostra, esclareceu o produtor da Escola da Noite.
Carlos Valente, arquiteto e então estudante universitário e citaquiano documentou todo o processo de criação do espetáculo tirando dezenas de fotografias que estão à guarda do Centro de Documentação 25 de Abril. A inauguração da exposição tem lugar no CAV no dia 28 de setembro, às 18h00. A 30 de setembro, sábado, o CAV recebe uma mesa redonda e a leitura de fragmentos, numa seleção de Fernando Noronha do CITAC.
O CITAC acolhe no seu Teatro Estúdio, no dia 3de outubro, uma leitura com direção de Carme Portaceli e adaptação de Fran Nuñez do Centro Dramático Galego. De forma simbólica “vão ser lembrados os momentos de luta contra o Estado Novo”, afirmou Fernando Oliveira deixando o convite à participação.
Sílvio Santos, diretor do Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) mencionou a importância da iniciativa para a instituição que dirige. A parte da Mostra de Teatro Galego que vai passar no TAGV fez parte da candidatura ao apoio à programação da Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses da DGArtes, disse.
No dia 3 de outubro, o TAGV acolhe no Clube de Leitura Teatral “4:48 Psicose, de Sara Kane” com direção de Ánxeles Cuña Bóveda, pelas 18h30. Dia 4 do mesmo mês tem lugar uma masterclass com o Sarabela Teatro, de manhã às 11 horas. Ambas as iniciativas têm entrada livre.
Textos de Rosalía de Castro sobem a palco no TAGV, no dia 7 de outubro, pela companhia Teatro do Atlântico, uma companhia com “vários prémios”.
Sérgio Cobos dirige uma oficina de dança tradicional galega no Rancho Folclórico Tricanas de Coimbra nos dias 27, 28 e 29 de setembro, uma coorganização do Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC), da Agência de Promoção da Baixa de Coimbra (APBC) e do próprio rancho.
No dia 30 de setembro acontece “Norte Sul Norte”, uma oficina e baile, entre as 15h00 e as 18h00.
Para Beatriz Marques do GEFAC é “gratificante” saber que o trabalho do Organismo Autónomo da Associação Académica de Coimbra inspira eventos, uma vez que “a Galiza é um lugar bastante rico culturalmente mas é também um lugar com uma cultura muito singular”. Todo o legado que foi ficando em Trás-os-Montes tem influência na Galiza, adiantou.
Em relação ao baile, Beatriz Marques lembrou que “também no corpo ficam as memórias”.
Para Assunção Ataíde, presidente da APBC, Coimbra “tem tudo para ser o centro do país e da Europa”, com a coprodução das três oficinas de dança galega, pretende atrair famílias à baixa da cidade e à Rua do Moreno onde reside o Rancho Folclórico Tricana do Mondego de que o senhor Manuel Silva é anfitrião.
Rancho das Tricanas de Coimbra há 85 anos no mesmo sítio mas que está a passar dificuldades, uma vez que o grupo não tem condições financeiras para cobrir os 100 mil euros pedidos pelos proprietários pela venda do prédio.
Pelo Teatro-estúdio da Bonifrates na Casa Municipal da Cultura vão passar histórias “Males que vêm por bem” por Cândido Pazó no dia 29 de setembro às 19 horas e “Complexo de Édipo” com Quico Cadaval em 6 de outubro, à mesma hora.
João Maria André da cooperativa Bonifrates realçou a importância do diálogo intercultural e de como através da Arte se pode concretizar a troca de conhecimento entre “culturas diferentes” mas que “estão próximas”. Para o encenador e autor de livros filosóficos, “o diálogo intercultural também se realiza através dos afetos que nos põem em contacto com os outros”.
Jacobo Sutil, presidente da AGADIC, a Axencia Galega das Industrias Culturais lembrou o trabalho do Centro Dramático Galego que vai cumprir 40 anos. O responsável saudou o apoio institucional da Câmara Municipal de Coimbra e da APBC à Mostra de Teatro Galego em Coimbra.
O presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), José Manuel Silva lançou o desafio de no futuro decorrer uma mostra de Teatro português na Galiza. A Câmara Municipal apoiou no ano passado a publicação da antologia de Teatro Galego pela Cena Lusófona.
São várias as colaborações anteriores entre a companhia profissional sediada no Teatro da Cerca de São Bernardo e congéneres da Galiza.
Francisco Queirós, vereador responsável pela Biblioteca Municipal de Coimbra também marcou presença na conferência de imprensa assim como Cristina Freitas em representação do Centro de Documentação 25 de Abril.
Pode consultar o programa da Mostra de Teatro Galego em Coimbra aqui.
Fotografia: CMC