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30º Vodafone Paredes de Coura – Entrevista com Snail Mail

O norte de Portugal voltou a acolher Snail Mail, desta vez no Vodafone Paredes de Coura. No dia 16 de agosto, antes do concerto vibrante no palco secundário, Lindsey Jordan esteve à conversa com a equipa da RUC.

Lindsey, muito obrigada por nos receberes. Começamos por te perguntar um pouco sobre estes últimos meses. A verdade é que a tua vida tem sido um pouco louca e caótica, sempre em movimento. Tornaste-te um nome forte na cena indie rock e tens estado em digressão há muitos meses. Agora em digressão na Europa, depois uma paragem nos EUA, e depois terminas o ano no Japão. Como é que te manténs centrada durante estes últimos meses?

LINDSEY – “Para mim, é apenas uma questão de manter o contacto com as pessoas, mas sinto que pode ficar um pouco… interessante estar sempre rodeada de tanta confusão. Acho que tenho de me ir relembrando constantemente o porquê de estarmos aqui. O meu objetivo é dar o melhor espetáculo possível. Tenho de tirar um tempo específico para aquecer e focar-me. Tentar não beber muito, para que o espetáculo seja bom. Não sei… acho que se trata de me relembrar sempre o porquê de estar aqui, porque por vezes fica confuso e penso assim… ok, gosto de música, adoro compor música, adoro tocar música. Sim… E depois, a minha vida é muito centrada, não falo com assim muitas… só tenho quatro amigos com quem falo e mantenho contacto. E acabei de comprar uma casa no campo, no meio do nada, no Sul dos Estados Unidos. Portanto… sinto que faço tudo para me manter com os pés assentes na terra.”

 

Estás pela segunda vez em Portugal, no Norte. Especialmente neste lugar, o que achas desta atmosfera?

LINDSEY – “Adoro estar aqui! Lembro-me claramente da última vez que aqui estivemos. E por vezes, em digressão, na Europa especificamente, fico um pouco confusa porque parece que cruzamos caminhos muitas vezes, vamos para trás, vamos para a frente, passamos por Amesterdão, voltamos a passar por Amesterdão, é como… Porto lembro-me muito bem da última vez! E tivemos um dia ótimo, na verdade, a explorar a cidade. E depois, ontem à noite fomos até à beira da água e comemos um marisco fantástico e conversámos com o chefe de cozinha e tudo… bebemos uma sangria incrível. E sim, estou feliz por estar aqui! Acho que o espetáculo vai ser ótimo, temos dado espetáculos incríveis ultimamente. Acho que não vamos conseguir ver os Yo La Tengo porque é à mesma hora que o nosso, mas teria sido a banda que eu gostaria de ver. Nunca vi Dry Cleaning ao vivo, isso seria fixe. Vou tentar ver esse concerto. Ouvi Dry Cleaning na rádio a caminho para cá e nunca tinha ouvido aquela música em específico e pensei “Oh, isto é tão bom!”. Não me lembro qual era a música, mas era boa.”

 

Falando da tua setlist, normalmente apresentas o tema “Pristine” no início e no final de diferentes concertos. No contexto da tua vida como artista mais jovem, sentes a necessidade de mostrar os teus primeiros passos ao público, como fazes nos teus primeiros singles?

LINDSEY – ” É, definitivamente, uma forma de arte. Acho que esta é uma boa forma de explicar. Costumávamos sempre começar com “Heatwave”. Era um dos singles de “Lush”, por isso funcionava, as pessoas ficavam entusiasmadas. Às vezes começamos com “Valentine”, mas outras começamos com “Pristine” em festivais, porque acho que chama a atenção das pessoas. E sabes, é bom… adoro tocar músicas energéticas, as pessoas ficam entusiasmadas, por isso eu também fico entusiasmada. E acho que isso é uma forma de começar as coisas de forma positiva. Sabes, tocas uma mais aborrecida, ou uma que achas que é uma boa introdução, e vês as pessoas aborrecidas, é um mau sinal. Começo a ficar nervosa. Mas é, estruturalmente, sabes… temos uma guitarra diferente para quase todas as músicas, por isso fazemos assim. Esta guitarra está afinada assim, por isso vamos precisar dela depois desta música, mas também estruturamos tipo “Ok, aqui estão algumas mais animadas.” E depois dizemos “Aqui está uma mais calma, aqui está uma mais pop, animada, pop, calma, animada”. É como… definitivamente sente-se o que as pessoas querem, quando se olha para elas. Especialmente num festival, porque nem sempre são os teus fãs. Por isso é meio que… acho que é apenas uma questão de manter a atenção das pessoas, mas também manter o ritmo.”

 

Também és conhecida pela composição e escrita de músicas. Num pequeno exemplo: “Mr Death wants my baby now / Felt the crowd was wrong to claim you / Won’t they ever quiet down? / Someone’s daughter adorned in flames / Drag me with you to Nirvana, baby / Take me all the way”. Isto é da “Headlock”, a terceira música de “Valentine”, o teu último álbum. Podes falar-nos um pouco sobre este verso e o que significa? Um pouco sobre te perderes numa relação e não outra pessoa, mas também sobre perderes a independência?

LINDSEY – “É isso mesmo! Essa é uma leitura muito boa. O álbum é todo sobre… Não posso entrar em muitos detalhes porque é tão… é muito pessoal e complicado. Mas é isso que a música significa, perder-me numa relação. O verso, “filha de alguém adornada em chamas” é como se eu estivesse a dizer “A mãe dela sabe que ela vai para o inferno?”. Porque é horrível. Era essa a vibe. Quer dizer, é sobre mim, é sobre ela. A música é sobre suicídio e sobre sair de uma relação em que estás tão abalada no final e tão afastada de ti própria… Nunca tinham interpretado essa música corretamente à minha frente, isso foi fixe, foi espetacular! E sim, é sobre quando as coisas que te fazem são perdidas, não fica nada. Sabes, se te envolveres em coisas estranhas o suficiente, não sobrará nada e não haverá literalmente nada para além da morte.”

 

Vale a pena o risco de transpor as tuas emoções para a escrita de música?

LINDSEY – “Às vezes sim. Acho que vale a pena. Há coisas específicas em que penso, não quero expor a “dirty laundry” de ninguém. Por isso tento manter as coisas o mais vagas possível, nas letras, para não ter de entrar diretamente numa discussão com uma ex. Sabes? Não quero que a vida de alguém fique estragada por causa da minha forma de contar a história nas letras. E também, “Ben Franklin” é tipo “às vezes odeio-a, só por não seres tu”. Houve algumas pessoas que pensaram que era sobre elas e foi uma conversa terrível. E eu disse, “Bem, agora tenho de te dizer que havia outras raparigas na cena”. Ninguém com quem eu estivesse numa relação, mas na altura estava a sair com várias pessoas, por isso tive de dizer “Tenho de falar contigo sobre como havia outra rapariga. E também tenho de falar contigo sobre o facto de ainda gostar da minha ex”. Simplesmente não gosto de ter essas conversas, mas não sei… preferia ter de ter essas conversas do que ter letras que não significam nada. Isso torna-se aborrecido. E eu penso assim “Bem, se isto não for importante para mim, não será importante para mais ninguém”. E depois, tocar as músicas é… por isso penso que a parte das letras de mergulhar profundamente na alma é realmente importante para mim. Trata-se de manter um equilíbrio. Não estou a tentar dizer nomes.”

 

À parte da composição e escrita da tua música, também produziste o teu último álbum, “Valentine”. Este interesse pela produção, procuravas mais controlo sobre o produto final?

LINDSEY: “Completamente. Quando “Lush” saiu, estava ainda na escola. Apercebi-me que existe uma série de coisas que um artista tem que fazer. Tens que ser diretor de vídeos, um connaisseur de arte para perceber como funciona uma capa de álbum.  Isto surpreende-me até hoje. À medida que o tempo passa, ganhei experiência e apercebi-me que gosto muito de ter controlo sobre como as coisas soam. Quando lidas com engenheiros ou produtores com grandes egos, lidas por exemplo com oportunismos nos créditos da produção. Eu sei o que quero, por isso comecei a produzir Logic, como programar percussão e sintetizador… Não o fiz completamente sozinha, mas tenho mais espaço mental e tempo para pensar no que realmente interessa.”

 

Quais são as tuas expectativas para este concerto em Paredes de Coura?

LINDSEY – ” Espero que seja o melhor concerto dos Snail Mail de todos os tempos! Acho que vamos arrasar. Tocámos alguns sets realmente bons. O nosso primeiro na Europa foi um pouco complicado, soámos terríveis! E, depois, o segundo foi muito bom. E agora este é o terceiro e estamos com um bom ritmo, por isso penso assim: Vamos fazer deste terceiro concerto, algo muito bom. Três é um bom número e dormimos bem. Dormi treze horas na noite passada, estou entusiasmada por estar com esta brisa no ar. Comi um marisco delicioso ontem à noite. Deram-nos uma garrafa de vinho com a minha cara e o meu nome. Espero mesmo que seja o melhor concerto de todos os tempos!”

 

 

Todas as entrevistas realizadas no âmbito da cobertura do 30º Vodafone Paredes de Coura feita pela Rádio Universidade de Coimbra estão disponíveis no nosso serviço de podcasts, em Coberturas RUC.

Fotografia: Maria Nolasco

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