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30º Vodafone Paredes de Coura – Entrevista com Raquel Martins

No primeiro dia do Palco Jazz na Relva do Vodafone Paredes de Coura, a RUC sentou-se na encosta do recinto natural com Raquel Martins, para falar sobre sítios, pessoas e música.

Raquel Martins, música portuguesa dividida entre o Porto e Londres, veio estrear-se no Palco Jazz na Relva, um pódio do Vodafone Paredes de Coura inteiramente dedicado a artistas emergentes. Vive há 6 anos em Londres e não esconde o entusiasmo que é tocar com este sol e natureza nortenhos que a sua metrópole não tem.

O dia é 17 de agosto, 15 horas, e Raquel Martins sobe ao palco da praia Fluvial do Taboão juntamente com o percussionista Iúri Oliveira para apresentação do seu segundo EP “Empty Flower”.  Segundo a artista, a simplicidade deste concerto e o ambiente tranquilo  em torno do palco levaram à escolha deste duo para uma melhor conexão com o público, optando por tirar elementos que pudessem bloquear esta relação.

Partiu apenas com dezassete anos num impulso inconsciente, confessa. Na altura, esta decisão prendeu-se pela perceção da praticamente inviável vida do artista em solo português. Se o era na realidade, não pensou muito nisso. Em “piloto automático”, saiu do secundário e foi estudar guitarra para Londres. Não há limites para a liberdade, ambição ou progressão da carreira, e o conhecimento que ganha constantemente deve-se a este ritmo acelerado onde vive. Neste exercício de reflexão, Raquel Martins sente-se verdadeiramente grata e inspirada.

Desde criança que o gosto por música existia. A espontaneidade com que se entregava a esta arte desenhou desde muito cedo o seu futuro. Outra grande paixão é a música brasileira, uma base de estudo de harmonias. João Gilberto e Stan Getz foi o disco de colaboração destes dois mundos do jazz e da MPB, que lhe trazia lembranças de casa em terras frias. Por entre sons de jazz londrino, agarrou-se a este sentimento na procura da sua identidade artística.

À parte das suas colaborações com outros artistas, o íntimo da sua criação é a prioridade. Balançar duas carreiras revela-se difícil de momento, e é cada vez mais natural vir para primeiro plano em palco.

O controlo criativo do que faz levou à procura de conhecimentos de produção musical. Pressupostos da indústria musical, como a pouca presença feminina em créditos de produção, levaram a artista a conduzir a ideia clara do seu trabalho para o estúdio. A maquete inicial é produzida no seu quarto, passa pelos seus amigos músicos e regressa ao quarto.

Neste segundo EP, Raquel Martins enfrenta ainda a pressão intimidante neste ponto da criação musical, mas está consciente da sua natureza, uma insegurança inerente e construída pela sociedade. Relativamente às suas escolhas iniciais para gravação, responde que o seu processo criativo depende muito do desafio que o tema pede. Tem um gosto enorme pela base rítmica, mas procura sempre puxar a criatividade de sítios que não sejam óbvios.

A mistura de nacionalidades na sua maneira de expressão ajuda-a a balancear as suas letras no português e inglês no seu álbum futuro. O importante é que soe natural. Não houve datas previstas para este próximo trabalho, mas conversamos um pouco sobre o conceito por detrás dos últimos meses na sua música. As fases que viveu na distância levaram a artista numa jornada de descoberta do que é uma casa: um sítio, uma pessoa, um hábito. Sentimentos tangíveis a quem vive inquieto e nesta procura, Raquel Martins tem escrito sobre a sua maneira de ser e estar.

 

Todas as entrevistas realizadas no âmbito da cobertura do 30º Vodafone Paredes de Coura feita pela Rádio Universidade de Coimbra estão disponíveis no nosso serviço de podcasts, em Coberturas RUC.

Fotografia: Maria Nolasco

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