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14.08.2023POR Gonçalo Pina

Jornada 2: Talvez os deuses estejam connosco

Não é todos os dias que se pode dizer que a Académica é bafejada pela sorte. Sábado foi um desses dias.

Mesmo o adepto de futebol mais desatento e desinteressado do mundo sabe como, na Cidade de México, em 1986, a Argentina se vingou de Margaret Thatcher e de Inglaterra pela derrota na Guerra das Malvinas: através da “mão de Deus”. Essa mão, emprestada a Maradona há quase 40 anos, foi este fim-de-semana cedida (para infelicidade dos próprios) aos brasileiros – Deus é mesmo argentino e a rivalidade com o país vizinho não descansa – Vitinho e Pedro Venaque, que a usaram para desviar a bola dentro da grande área e, por duas ocasiões, ceder pénalti para a Académica já em cima do apito final. Para materializar os milagres concedidos pela entidade divina, nada mais nada menos do que outro homem da América do Sul: o Messias Juan Perea. Na Hora H, o sangue quente do nosso ‘cafetero’ gelou e fez com que as dezenas de adeptos que se deslocaram a Alverca fossem à loucura, carimbando a primeira vitória na Liga 3.

Uma parede chamada Carlos Alves e um empreiteiro chamado Tusso

Neste final de tarde de verão, vimos Tiago Moutinho como nunca o tínhamos visto antes: de sweatshirt. Olhando à estatística, na temporada passada Tiago Moutinho só variou da t-shirt / pullover num jogo em que vestiu um quispo (na deslocação aos Açores para defrontar o Fontinhas), tendo acabado expulso. A indumentária do treinador pode parecer insignificante à primeira vista, mas a verdade é que o técnico academista é um homem de opções fixas e, por isso, confesso que a mudança me fez tremer. E quem tremeu também logo desde início foi a defesa da Académica, que nos primeiros 15 minutos podia ter ficado logo a perder por 2-0. Valeu o gigante Carlos Alves, ainda à procura da primeira verdadeira oportunidade de mostrar serviço, que edificou uma verdadeira muralha entre os postes – algo que lhe viria a valer o Prémio MVP RUC.

Sem grandes alterações ao onze inicial (apenas as entradas de Aílson e Fausto por David Teles e João Victor), a Académica não mudou imenso em relação ao jogo com o 1º de Dezembro – o que, atendendo à qualidade do adversário, acabou por não ser muito positivo. Mas a verdade é que, mal ou bem, a equipa foi conseguindo conter. Para além do guarda-redes, nota de destaque para o jovem central Diogo Amaro que, a disputar posição com dois homens de barba rija, não só conseguiu manter a titularidade como parece começar a assumir-se como patrão da defesa.

Depois da asfixia inicial, a Académica conseguiu soltar-se um bocado, mas sem nunca criar grande perigo durante o primeiro tempo. No ataque, um Perea regenerado depois da jornada inaugural ainda não conseguiu encontrar um parceiro que o consiga servir da melhor maneira. Talvez não tenha sido o melhor dos jogos, mas Fausto não fez muito mais do que João Victor já tinha tentado fazer, sendo que o brasileiro ainda deu sinais de que, em outras condições, podia oferecer coisas diferentes ao plantel.

‘Remontada’ épica caída do céu

Na segunda metade, o filme foi quase o mesmo: entrada forte dos homens do Alverca com uma, duas, três oportunidades flagrantes. Mais uma vez, valeu dupla Carlos Alves / Tusso, a quem, pelo minuto 60, se juntou a barra da baliza, onde a bola embateu com estrondo. Ao passo que nos 45 minutos iniciais a equipa da casa abrandou perto dos 15 minutos, agora nem a entrada de Toki e de Teles do lado da Académica foram suficientes para que os alverquenses tirassem o pé do acelerador. Como no cinema, o mau da fita acabou por ser aquele personagem mal-amado que já esteve do lado “dos bons”, mas que na altura sempre foi um pouco esquecido e sentiu que não lhe foi dado o devido valor. Esse mau da fita, que dá pelo nome de João Lucas (quem se lembra?), aproveitou uma bola à entrada da área, armou o pontapé moinho e fez com que a bola só morresse no fundo das redes. Pelo caminho, o esférico embateu no corpo de Diogo Amaro, que não merece que a sua prestação fique manchada por este lance, e traiu Carlos Alves.

Já sem qualquer interesse em aguentar o resultado, exigia-se à Académica que pedalasse um bocadinho mais para ainda conseguir arrancar um ponto aos ribatejanos. Como em Taveiro, a resposta não foi grande coisa (o adversário também queimou muito tempo e procurou aquecer os ânimos) e, nos 20 minutos que restavam, o guarda-redes Luís Ribeiro não teve grande necessidade de intervir. Toki mexeu, sem dúvida, mas voltou a ter uma equipa com muitas dificuldades ao seu lado – nem Fausto nem João Victor (que assumiu o seu lugar) conseguiram dar muito ao ataque, Perea também viu pouco a bola e mais ninguém teve a destreza para criar algo digno de registo. Foi então já na reta final que “duas mãos marotas” – conforme escreveu o Diário de Coimbra – assumiram o protagonismo e decidiram o jogo a favor da Briosa.

Fica a faltar qualquer coisa

Os três pontos conquistados no reduto de um crónicos candidatos à subida na Liga 3 sabem bem, mas não convencem. Se Deus decidiu tirar férias perto da capital e teve tempo para ir dar uma ajuda à Académica, é importante lembrar que o passado recente do clube já nos ensinou a acreditar que nenhuma figura divina mora em Coimbra (ou então anda só a brincar connosco). O plantel ainda não está fechado, a época acabou de começar e não faz sentido que se criem demasiadas expectativas ou que se comece com o bota-abaixo nesta altura do campeonato. Dito isto, exige-se que o laboratório do Bolão surja com uma receita que não nos deixe à espera de uma intervenção vinda do céu.

A Académica volta a subir ao relvado no próximo domingo, dia 20, pelas 18h00, para defrontar o Amora. O jogo, que volta a acontecer no Estádio Sérgio Conceição, pode ser acompanhado em 107.9 FM ou em ruc.pt com os Relatos RUC.

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