[object Object]

Balanço Queima das Fitas 2023: Despesa e receita aumentam, lucro é “incerto”

Carlos Missel destaca aumento das receitas derivado da aposta no cartaz, justificando aumento do preço dos bilhetes com a inflação. Responsável pede a grupos afetados no Chá Dançante que percebam condicionantes que afetaram a COQF e recorda que espaço escolhido para a Serenata aumenta a lotação do evento.

Terminadas as oito noites de Queima das Fitas na Praça da Canção, é tempo de balanços para a Comissão Organizadora da Queima das Fitas (COQF). No último dia de festa (não contando ainda com o Dia do Antigo Estudante, que se celebrou no sábado, dia 27), a Rádio Universidade de Coimbra recebeu, a partir do seu contentor instalado no recinto, Carlos Missel, coordenador-geral da COQF, para tentar perceber como decorreu a semana mais aguardada pelos estudantes de Coimbra.

Na sequência de uma conferência de imprensa que contou com a presença de vários órgãos de comunicação social da região, o líder de operações reafirmou o sucesso da edição deste ano, dando destaque às melhorias do recinto, às novas atividades e à ausência de problemas com o sistema cashless (que se têm repetido desde a sua implementação). Assumindo um aumento substancial da despesa (em grande parte justificado pela inflação), Carlos Missel assinala também um aumento de 200 mil euros alocados ao cartaz – uma aposta que, segunda afirma, vale a pena.

A maior atratividade da panóplia de artistas oferecida neste ano foi a principal razão que levou ao aumento do número de ingressos vendidos para esta Queima das Fitas, de acordo com o coordenador-geral. Contando com a ampliação do recinto, que permite uma lotação máxima de 25.000 pessoas (que rivaliza com as 20.000 permitidas em 2022), a média de afluência subiu das 17.500 pessoas para um número entre as 20.000 e 22.500. Para perceber estes números, precisamos de olhar detalhadamente para alguns dias: de forma clara, a noite com maior adesão é o da cabeça-de-cartaz Ivete Sangalo, que contou com pouco mais de 25.000 pessoas no recinto (apenas os 800/900 bilhetes protocolares fazem exceder a lotação estabelecida). Segundo Missel, apesar de o parque ter parecido mais composto do que aquilo que seria normal, a invulgar concentração junto ao palco principal tolda a perceção de quem assistiu.

O dia mais fraco terá sido a terça-feira do cortejo, em que apenas cerca de 14.000 pessoas se deslocaram à Praça da Canção; tirando a primeira noite, na qual cerca de 17.000 pessoas estiveram presentes, a média dos restantes dias rondou sempre os 20/21 mil. No total, terão sido vendidos 100.000 bilhetes pontuais e 10.000 gerais.

Aumento dos preços para não correr “risco de prejuízo” garante lucro que, na pior das hipóteses, será semelhante ao de 2022

As contas estão ainda por fazer e é cedo para poder avançar um resultado final. Descartada a hipótese de a festa não dar lucro, Carlos Missel reitera o impacto da inflação (que se sentiu na relação com “todos os fornecedores”), mas refere que, fruto da bilheteira, a receita também é maior. Nesse sentido, sem conseguir dar dados concretos, o principal rosto da COQF afirma que, “no mínimo, [o lucro] estará próximo dos valores do ano passado”.

Para que a Queima das Fitas tenha a sua própria sustentabilidade assegurada, o coordenador-geral afirma ter sido necessário o aumento do preço dos bilhetes (nomeadamente, dos bilhetes pontuais – a soma de todos os bilhetes pontuais para estudantes subiu 23€ para estudantes e 29€ para não estudantes desde 2021 (embora tenha desparecido o Dia da Secção de Fado – uma decisão que partiu da própria secção, tendo os grupos sido distribuídos pelo cartaz de forma a aproveitar o público dos artistas maiores – , cujo preço era mais baixo, conforme afirma Carlos Missel) -, sendo que o bilhete geral para estudantes bolseiros se manteve nos 45€). De acordo com o dirigente, o valor, que teve de acompanhar a inflação, só se manifestou nos ingressos diários, porque são uma alternativa àquele que dá entrada em todas as noites, que acaba por ficar mais acessível.

Apesar das intenções de aumentar o número de bilhetes protocolares distribuídos na presente edição, Carlos Missel explica que foi do entendimento da COQF que alguns grupos recebiam “demasiados bilhetes” e que, por isso, o valor foi reduzido. No entanto, o coordenador-geral lembra que uma discussão aprofundada só pode ser tida aquando da revisão do Regulamento da Organização da Queima das Fitas, que acontece de cinco em cinco anos.

Serenata limitada vai passar a ser um hábito, quer seja no Paço das Escolas, quer seja na Sé Velha

O evento mais polémico da Queima das Fitas 2023 foi a Serenata Monumental, cuja entrada estava limitada a 6.000 pessoas. Ainda com a Sé Velha afetada pelas obras de requalificação, a escolha do espaço acabou por recair sobre o Paço das Escolas, que, por não ter várias saídas de emergência naturais (como acontece no local habitual), viu a sua lotação limitada.

Carlos Missel considera que a solução encontrada tem “muito maior capacidade” e que “a diferença para os outros anos é que dissemos um número” de pessoas a poder estar presente. Ainda assim, apesar de ser uma tarefa complicada, o coordenador-geral admite que pode haver coisas a melhorar na forma como é feito o processo de distribuição de pulseiras que dão acesso ao espaço.

À semelhança daquilo que este ano aconteceu no ponto mais emblemático da Universidade de Coimbra, um possível regresso à Sé Velha também implicaria um controlo de acessos, de acordo com aquilo de que já foi informada a COQF. Não obstante, “a intenção será sempre voltar”.

Para quem não conseguiu entrar no Paço das Escolas na madrugada de dia 18 para dia 19 do passado mês de maio, foi instalado um ecrã gigante na Rua Larga para que todos pudessem assistir ao evento. No entanto, foram muitas as queixas de que a Serenata não se ouvia para fora da Porta Férrea – Carlos Missel responde que, para que fosse audível a todos os presentes, seria necessário “um investimento brutal” na sonorização do espaço.

Chá Dançante acaba mais cedo e com queixas de vários grupos académicos

Ao longo da Queima das Fitas, não foi só a Serenata que teve de encontrar um espaço pouco consensual para se realizar. O Chá Dançante foi obrigado a recorrer ao Pavilhão Jorge Anjinho, cuja licença para produção de ruído estava limitada até às 4h00 (é normal que se prolongue até às 4h00), condicionando a atuação de alguns dos grupos previstos para o decorrer da noite. Embora lamente o sucedido, o coordenador-geral apela à compreensão dos envolvidos e garante que a Comissão Organizadora tentou alargar a duração do evento até ao último momento.

Neste ano, o Chá Dançante ficou também marcado pela implementação de um sistema de rotatividade entre os grupos académicos a atuar (ou seja, passam a existir dois grupos da Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra (SF/AAC) e duas outras estruturas (que variam de ano para ano) a subir a palco durante a atividade). Embora não tenha sido uma medida do agrado de todos, Missel lembra que a decisão foi coletiva e que não se trata de uma imposição da COQF.

Na sequência do evento, a SF/AAC emitiu ainda um comunicado em que, entre outras queixas, refere “a agressividade e violência inusitada demonstrada pelas forças de segurança da empresa 3XL, culminando em agressões a estudantes, quer do público, quer dos grupos convidados a atuar”. Colocando-se ao lado da secção, uma vez que “nada justifica a violência”, o responsável afirma não ter conhecimento de mais situações que tenham envolvido os seguranças ao longo da festa, mas reconhece que “há momentos tensos que são difíceis de controlar”.

O coordenador-geral da COQF acrescenta ainda que “a forma como lidamos e falamos com as pessoas pode atenuar muito a situação em si”.

Alteração da data do cortejo tem impacto “menos negativo” do que o esperado

Com os concertos da banda britânica Coldplay a coincidirem com o já habitual domingo de cortejo, a Comissão Organizadora da Queima das Fitas viu-se obrigada a alterar a data da celebração para terça-feira, dia 23 (apesar da contestação do Conselho de Veteranos). Mantendo a posição de que a data do cortejo não deveria ter sido mudada, Carlos Missel reconhece que os seus receios não se vieram a confirmar e que a adesão à atividade superou as expectativas.

O responsável relembra, ainda assim, que a celebração é mais fácil de organizar ao domingo e que a modificação teve um impacto significativo na vida das famílias dos estudantes e no comércio local.

Para ouvir a entrevista na íntegra pode aceder através do link acima ou pelo nosso Spotify.

 

PARTILHAR: