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12.04.2023POR Gonçalo Pina

Críticas da oposição não influenciam aprovação de protocolo que garante concertos dos Coldplay

Vereadores do PS e da CDU apontam que aspetos do protocolo não dependem da votação e criticam “desrespeito” pelo órgão autárquico. José Manuel Silva considera que negócio é o “melhor de sempre” para a região e prevê retorno entre os 20 e os 100 milhões de euros.

O acordo para a realização de quatro concertos dos Coldplay nos próximos dias 17, 18, 20 e 21 de maio, que virá a ser assinado pela promotora Everything is New, pela Associação Académica de Coimbra / Organismo Autónomo de Futebol (AAC/OAF) e pelo Município de Coimbra, foi esta terça-feira aprovado em reunião da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) com votos a favor de todos os vereadores eleitos pela coligação Juntos Somos Coimbra e com o voto contra de Francisco Queirós, da Coligação Democrática Unitária (os responsáveis do Partido Socialista recusaram-se a votar a proposta).

Com a previsão de cedência de espaço a partir do próximo dia 1 de maio, de isenção de taxas para a promotora e de um financiamento direto de 440 mil euros (110 mil euros por cada um dos concertos), o documento tem feito correr muita tinta ao longo das últimas semanas, uma vez que, de acordo com o contrato de cedência do Estádio Cidade de Coimbra que foi firmado com a AAC/OAF em 2004 (renovado pela última vez em 2019), todos os proveitos são para o clube de futebol. No entanto, José Manuel Silva, presidente da CMC, destaca o encaixe financeiro de que beneficiam os setores da hotelaria e da restauração, estimando uma receita global entre os 20 e os 100 milhões de euros para a região (caso cada um dos espectadores dos concertos dispenda 500€ na visita à cidade, então o encaixe rondaria o valor máximo apontado pelo autarca).

O presidente (assim como o vice-presidente Francisco Veiga, responsável pela pasta do Turismo, que tratou da negociação e que introduziu o ponto da ordem de trabalhos) realça ainda a projeção mediática internacional que o evento traz à cidade, deixando críticas à visão “pequena e acanhada” de quem não aprova o acordo firmado.

Oposição levanta dúvidas sobre investimento e recorda contenção de custos em outras áreas

Do outro lado da barricada, foram muitas as críticas ao acordo que vai ser estabelecido (embora todas as partes tenham reconhecido vantagens em trazer o conjunto britânico à cidade). Na sua intervenção, Hernâni Caniço, vereador eleito pelo Partido Socialista, salienta o descontentamento da população (indica que 80% dos conimbricenses não concorda com a vinda dos Coldplay) e questiona os benefícios dos eventos no longo prazo.

No mesmo sentido, Francisco Queirós, único representante da CDU, afirma não compactuar com a ação do município que, no seu entender, está a contribuir para o lucro da promotora Everything is New. O vereador não compreende ainda o valor oferecido depois de, em outras ocasiões, José Manuel Silva ter usado as condicionantes financeiras resultantes da guerra na Ucrânia como causa para falta de investimento em outros campos.

Na resposta, o presidente da Câmara Municipal de Coimbra lembra que o dinheiro alocado à realização dos concertos não provém da área da cultura, mas sim do turismo, pelo que reafirma que a taxa turística aprovada em Assembleia Municipal no passado mês de fevereiro é fundamental à realização deste tipo de eventos. Na ótica do autarca, as críticas ao investimento municipal não fazem sentido quando comparadas com o negócio realizado por ocasião da Super Especial do Rali de Portugal 2022 – altura em que foram investidos 630 mil euros -, cujo retorno é incomparável.

No decorrer da sua intervenção, a vereadora Carina Gomes, do Partido Socialista, questionou José Manuel Silva acerca do critério que conduziu à determinação do valor de 440 mil euros. Por seu lado, o responsável explica que foi a melhor oferta que a autarquia conseguiu apresentar, de modo a superar as outras cidades interessadas.

Antes da votação, o presidente acrescentou também que os contornos extra financeiros do negócio são muito semelhantes àqueles que envolveram os concertos de Andrea Bocelli em 2021 – a reparação / substituição do relvado, caso seja necessária (José Manuel Silva adianta que vão ser usadas “técnicas inovadoras” para tentar proteger o tapete do Estádio Cidade de Coimbra), fica a cargo da CMC, enquanto a promotora fica encarregue de tratar da pista de tartan. Quanto às receitas de bilheteira previstas para a Everything is New e à verba a receber pela AAC/OAF, o autarca preferiu não se pronunciar.

PS apelida votação de “farsa” e recusa-se a participar

Tanto os vereadores do PS como o vereador da CDU condenaram a forma como o processo foi conduzido pela coligação Juntos Somos Coimbra, que apenas trouxe o protocolo a votação a 19 dias do arranque dos trabalhos. Como tal, conforme aponta Carina Gomes, os eleitos pelo segundo partido mais representado no executivo decidiram não ser parte ativa da votação (Regina Bento chegou mesmo a sugerir que os vereadores se ausentassem da sala, mas José Manuel Silva entendeu que não seria necessário).

No final, em declarações à RUC, José Manuel Silva afirma que a justificação dada pela vereadora é apenas um “falso argumento”, dado que não existem diferenças para a posição do Partido Socialista entre a votação do acordo ter sido feita com 19 dias ou com 3 meses de antecedência. O autarca salienta que a lei foi cumprida e que, por isso, não faz sentido falar em “simulacro de democracia”.

(Fotografia: Twitter @coldplay)

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