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Coimbra, cidade do mundo, refletiu sobre si mesma no coração da Alta
Que cidade queremos? Mais densa, mais azul, com mais espaços verdes, passeios largos, mais resiliente, mais saudável e também mais inclusiva, em que “ninguém fique para trás”, foram algumas das sugestões deixadas pela primeira conversa do ciclo “Transcontinentalidade”.
A Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC) promoveu no último sábado uma conversa informal sobre Coimbra, na Casa Costa Lobo, na Rua dos Coutinhos, 22. A ideia para o momento de conversa partiu da APBC, com a colaboração de Gonçalo Furtado da Faculdade de Arquitetura do Porto.
Assunção Ataíde, presidente da APBC, explicou à RUC o objetivo do ciclo de conversas em que insere esta primeira.
O encontro contou com a moderação de Gonçalo Furtado e teve como oradores José António Bandeirinha, Marina Montezuma Vaquinhas, Regina Pinto e Rosa Ferreira. Cada um refletiu em torno do imaginário e da realidade urbana da cidade de Coimbra, como contou Assunção Ataíde.
Marina Vaquinhas da Escola Superior de Enfermagem preocupa-se com a saúde comunitária das populações. Do seu ponto de vista, a cidade devia dar resposta à agenda 2030 das Nações Unidas, em 11.º dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) tem a ver com tornar as cidades mais resilientes, mais saudáveis e também mais inclusivas, para que ninguém fique para trás.
A especialista chamou a atenção para um ODS pouco conhecido, o 18.º, que se prende com a empatia ativa pela vida e a proteção da mãe natureza. A alimentação, a água e a qualidade do ar que respiramos são fundamentais para “termos uma cidade mais saudável”, disse.
A docente da Escola Superior de Enfermagem lembrou também a questão da obesidade e do excesso de peso dos portugueses. Portugal é um dos países com menos atividade física. A existência de espaços ao ar livre para a prática de exercício é por isso fundamental.
O aumento da esperança de vida também exige adaptação da cidade para permitir mobilidade segura aos mais idosos. “A nossa calçada é bonita mas escorrega”, explicou.
José António Bandeirinha, docente do Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), salientou para a RUC a importância do “pensamento” para projetar as cidades.
“O stress social pode alterar o equilíbrio” afirmou Rosa Ferreira, docente do Departamento de Engenharia Química da FCTUC. A investigadora explicou que quando estamos em stress a quantidade de oxigénio que chega às células fica condicionada pelo que o stress “faz mal e deve ser evitado”. Daí a importância de uma boa respiração com ambientes limpos e com espaços verdes nas cidades.
Segundo a docente há estudos que identificaram pessoas centenárias, muito acima do normal, em certos locais do mundo, porque vivem vidas simples com grandes redes de partilha. O desafio que colocou e que apelidou de “sonhador” será “fazermos de Coimbra “uma cidade azul”, numa alusão à cor do oxigénio no estado líquido.
Já Regina Pinto da Coimbra Mais Futuro, especialista em coesão territorial, considera que “não podemos trabalhar só a cidade” e que “o espaço rural é cada vez mais importante”.
Lembrou que a União Europeia tem como objetivo ter, até 2030, 25 por cento de agricultura biológica. Para o país e o Baixo Mondego conseguirem atingir essa meta, será necessário estar junto dos agricultores a trabalhar a mudança. Afinal, o Baixo Mondego exporta grão e milho mas faz produção intensiva de milho para alimentação animal, explicou.
Convencida do envolvimento dos cidadãos na “causa pública”, Regina Pinto levantou a importância de “trabalhar os temas de forma articulada” e de garantir que “o cidadão seja envolvido nas decisões das políticas públicas”.
À margem da iniciativa, José António Bandeirinha reforçou a importância de o poder político, para além de decidir e “estar aberto ao ponto de vista dos cidadãos”, promover auscultação simples e aberta “para pensar a cidade como um todo” .
Na sessão, o docente do Departamento de Arquitetura da FCTUC abordou a questão da cidade e da sua complementaridade. “Nunca houve alternativa à cidade, houve complementaridade”, disse José António Bandeirinha.
O arquiteto identificou espaços na cidade que “não estão a servir para nada” e que é preciso “organizar melhor”. Houve um tempo em que “as freguesias urbanas” do coração de Coimbra chegaram a albergar 35 mil habitantes. Hoje, o arquiteto está certo de que “não terão mais de três mil”. “Há necessidade de habitar a cidade e libertar o campo para quem goste de viver lá”, sugeriu.
Para o arquiteto, Coimbra já teve intensidade de vida urbana e é crucial não voltar a monofuncionalizar como aconteceu no Polo I da UC em que se perdeu a vida urbana da Alta. “Quem faz densidade urbana são os arquitetos”, pelo que “não há que ter receio” de promover a densidade da cidade, reiterou.
A conversa do último sábado insere-se no ciclo “Transcontinentalidade” e tem como objetivo fomentar a reflexão, o debate, o estabelecimento de paralelismos e a troca de ideias em torno dos imaginários e realidades urbanas de quatro continentes – Europa, América, África e Ásia.
José António Bandeirinha resumiu para a RUC o essencial da auscultação de sábado.
Do público presente vieram perguntas e também algumas perplexidades. Alguém identificou “a existência de várias Coimbra que não dialogam entre si”. Na cidade dos estudantes, muitos não ficam uma vez que “não há emprego”, lamentou-se. Coimbra “é uma cidade de passagem em que estamos constantemente a conhecer pessoas novas e pessoas que vão embora”, foi outro dos argumentos ouvidos.
Ainda assim, esteve presente alguém que viveu grande parte da vida nos Estados Unidos da América, chegou em janeiro para passar uma semana, mas ainda não conseguiu partir. A dificuldade tem sido encontrar uma casa na baixa da cidade para viver. Se numa praça lhe dizem que há excesso de barulho, noutra há falta de segurança.
Após o debate foi inaugurada a exposição de fotografias, de autoria de Gonçalo Furtado “Europa 1.1 Portugal Coimbra 2011_2021”, no espaço recentemente requalificado da Taberna da Ti Ermelinda, na Rua Fernandes Tomás, 59.
Fotografia: Município de Coimbra
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