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Daniel Oliveira: “A guerra fria existiu por medo da extinção, o Estado Social existiu por medo da revolução”

“A Paz faz-se de Justiça Social”, tema da primeira de seis conversas sobre A PAZ que vão ter lugar na FEUC, trouxe ao auditório da instituição Daniel Oliveira, “um qualificador do debate público” como o designou o moderador, José Manuel Pureza.

“A paz é hoje um tema central pelo facto de a Europa viver uma guerra”, afirmou o antigo jornalista, Daniel Oliveira, ontem, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), e foi de medo que falou. Segundo o convidado, na Europa, devemos a paz longa a dois fatores: “ao medo da extinção” por via da bomba atómica que um Estado como a Rússia possui e à existência do estado Social.

Com o Estado Social alimentou-se “alguma aliança entre as classes populares e as classes médias” mas, nas últimas duas décadas, o enfraquecimento do Estado Social tem libertado fantasmas e alimentado “a criação de um caldo de crescimento para as forças que alimentam a insegurança interna que,  quase sempre, é prévia à insegurança externa”, alertou.

À RUC, Daniel Oliveira expressou o que pensa do caminho que a Europa está a seguir.

De acordo com Daniel Oliveira, a social-democracia europeia foi o sistema que melhor conseguiu o casamento com a paz. A uma pergunta do público sobre o papel da empatia no processo de paz o conferencista retorquiu não acreditar que a mesma crie modelos económicos. “As pessoas trazem em si o impulso da cooperação e do egoísmo e todas as sociedades têm de saber equilibrar os dois instintos”, disse.

Quanto aos povos, segundo o atual comentador televisivo, estão a ser retirados aos europeus instrumentos importantes.

A existência de estruturas não eleitas na União Europeia a darem vistos a orçamentos nacionais, foi mencionada como pouco democrática pelo orador. Daniel Oliveira alegou ainda que “os europeus não acreditam que podem mudar as coisas” e que, neste momento, o projeto europeu é um “projeto neoliberal”. Com as alternativas a diminuírem, resta espaço para o “protesto desesperado”, entre outras formas.

Daniel Oliveira acredita que “não há democracia europeia” e que sem Estados Nação os instrumentos para combater o capitalismo global são “muito débeis”. Para o comentador “a única coisa global é o capital”. Para o ex-jornalista, o reforço do Estado não colocou em perigo as democracias, antes pelo contrário, perante a ameaça socialista o capitalismo percebeu que tinha de se defender e criou o Estado Social.

O convidado da FEUC foi jornalista e na atualidade mantém uma coluna no jornal Expresso e participa como comentador no “Sem Moderação”, do Canal Q e no “Eixo do Mal”, da SIC Notícias. Foi fundador de blogues, da Plataforma de Esquerda, do Política XXI e também do Bloco de Esquerda. Em 2015 deixou a vida partidária.

José Manuel Pureza, professor de Relações Internacionais na FEUC moderou a conversa de dia 8 de fevereiro. O diretor da FEUC, Álvaro Garrido, abriu a sessão salientando a importância dos estudos da paz no curso de Relações Internacionais que a instituição oferece.

Dia 22 de fevereiro o ciclo “Seis Conversas sobre/para a Paz” retoma na FEUC com a diretora do Museu do Aljube. Rita Rato vai dissertar sobre “A Paz faz-se de Justiça Histórica”.

Fotografia: FEUC

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