Protestos no Peru retêm finalistas da FMUC
Apesar da incerteza, José Corte-Real garante que o grupo de sete jovens está em segurança. Estudantes que ficaram 50 horas dentro de um autocarro acreditam que a rede consular tem “feito pouco”.
Após tentar dissolver o Congresso, o presidente peruano Pedro Castillo foi destituído pelo Parlamento na passada quarta-feira, dia 7, dando lugar à ex-vice-presidente Dina Boluarte. Desde então, são muitos os populares que têm exigido a demissão da atual chefe de Estado e a libertação do antigo líder que, por decisão do Supremo Tribunal de Justiça, deve ficar em prisão domiciliária ao longo dos próximos 18 meses, protagonizando violentos confrontos que já resultaram na morte de 15 pessoas e levando o país a estado de emergência.
Nesta encruzilhada foram apanhados sete estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) que celebravam o término do seu curso. Depois de já ter estado uma semana de férias no Brasil, o grupo viajava de autocarro entre as cidades de Kuzco e Huacachina quando se deparou com um bloqueio na estrada que motivava uma fila de cerca de 1 km. O autocarro ainda tentou seguir no sentido inverso, mas o trânsito também já tinha sido cortado com pedras, pneus e fogueiras. José Corte-Real, um dos estudantes retidos, relata que foi obrigado a passar pelas manifestações a pé, depois de, ao contrário daquilo que se perspectivava inicialmente, ter ficado 50 horas no autocarro.
Com paragem breve na localidade de Camaná, o grupo seguiu novamente de táxi para Arequipa com a estratégia montada. O objetivo é seguir a via aérea para Lima e, a partir daí, voar em direção a Madrid. No entanto, com o aeroporto ainda fechado pelos protestos, os jovens permanecem hospedados num hotel onde podem respirar de alívio.
No entanto, José Corte-Real lembra que a situação não está estabilizada e que a qualquer o momento o imprevisto pode surgir. Nesse sentido, o estudante de medicina salienta que é importante conseguir garantir o voo o quanto antes e, para isso, refere que o grupo tem estado em contacto com a Embaixada de Portugal no Peru.
Nas redes sociais, por onde os jovens têm dado a conhecer a sua história, Rita Matos (outra das finalistas) aponta o dedo à “incompetência do Estado português para cuidar, proteger e salvar os seus”, denunciando a inação da Embaixada e do Gabinete Consular. Menos incisivo, José não deixa de apontar criticas ao trabalho de ambas as entidades que, no seu entender, podiam estar a fazer mais.
O estudante de medicina confessa que os momentos mais “stressantes” foram vividos no autocarro e que agora, estando em contacto com outros portugueses no Peru, se sente mais acompanhado. Corte Real destaca ainda que as muitas “mensagens de força” recebidas pelos amigos têm sido uma ajuda nos últimos dias.
Entretanto, a Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) também já divulgou um comunicado onde informa já ter contactado com os jovens, deixando também reparos à ação do Estado Português. O organismo deixa um apelo “às entidades competentes, nomeadamente o Ministério dos Negócios Estrangeiros, para encetarem esforços tendo em vista a procura de soluções para o repatriamento imediato e a salvaguarda última da segurança dos estudantes”.
(Fotografia publicada no Instagram de Rita Matos)