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26.11.2022POR Matilde Sabino

Coimbra assinalou o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres com protestos

Leonor Silva, membro da Brigada Fernanda Mateus, denuncia os problemas estruturais que contribuem para a violência contra as mulheres e refere o papel essencial dos protestos de rua na partilha de experiências das vítimas.

No dia de 25 de novembro, a Praça 8 de Maio encheu-se de pessoas num protesto organizado pela Rede 8 de Março. Ao som de cantos feministas e sons de tambores e pandeiretas, os manifestantes assinalaram o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres. A Rádio Universidade Coimbra (RUC) entrevistou uma das organizadoras do evento, Leonor Silva, membro da Brigada Fernanda Mateus, uma entidade que integra a Rede 8 de Março.

Leonor Silva afirma que a luta pela eliminação da violência contra as mulheres engloba todos os tipos de violência, seja física, psicológica, obstétrica ou financeira, e é uma luta interseccional. Segundo a manifestante, a Rede 8 de Março pretende representar todas as mulheres, independentemente da cor de pele e da identidade sexual. A organizadora destaca o espírito reivindicativo enraizado na tradição da luta estudantil da cidade de Coimbra. Leonor Silva reconhece que as reivindicações dos estudantes se relacionam com a luta das mulheres, no seio da universidade, principalmente no que diz respeito às queixas de assédio nas faculdades.

Apesar da igualdade entre homem e mulher estar formalizada na lei, a manifestante não verifica a sua concretização no dia a dia. Na perspetiva da entrevistada, “invisibilizar” e “ignorar o privilégio de ter uma vida sem pensar nestas questões” também é uma forma de violência. A integrante da Brigada Fernanda Mateus refere ainda que “enquanto houver uma mulher que esteja cativa e em situação prejudicial por ser mulher” estarão na rua para lutar.

Leonor Silva diz procurar a libertação do sistema que qualifica de “machista”. Para a entrevistada, a “lei não chega”, porque forma “medidas isoladas que tentam resolver problemas isolados” e não suprime a estrutura que oprime as mulheres. Na sua opinião, o problema da violência contra a mulher é uma repercussão de um sistema capitalista eurocêntrico e patriarcal.

A organizadora do protesto dá ênfase à importância de haver uma luta organizada nas ruas para mostrar às pessoas que estão presentes e em número. Leonor Silva menciona igualmente o impacto das associações se apropriarem do espaço público. Segundo a manifestante, a luta organizada é a melhor forma para se atingir mudança.

A RUC conversou igualmente com Ana Ferreira, secretária da Secção de Defesa dos Direitos Humanos da Associação Académica de Coimbra. A secção é um dos organismos que se juntou à Rede 8 de Março para ajudar na realização do protesto. A estudante acredita que a violência contra as mulheres está presente na universidade e na cidade e revela que a secção se depara quotidianamente com testemunhos de vítimas. Na visão de Ana Ferreira, Coimbra “raramente é segura para nós [mulheres]”.

Durante a tarde ocorreram protestos noutras cidades do país: Braga, Bragança, Porto, Lisboa e Vila Real. A Rede 8 de Março procura marcar presença nos lugares onde sentem que vão gerar mais impacto, de acordo com Leonor Silva.

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