República Solar Des Kapangas está em risco de desaparecer
Repúblicos que habitam o imóvel dizem ser visitados várias vezes por potenciais compradores e confessam estar a lutar por uma casa “que não tem condições”. Repúblicas da cidade já só contam com 15% do subsídio anual alimentar concedido pelos SASUC.
A República Solar Des Kapangas está em vias de ser vendida. Ana Reis, representante da República, adiantou à RUC que os arrendatários receberam um e-mail de uma advogada cujo cliente estaria interessado em adquirir o imóvel. No entanto, a estudante afirmou que não se trata da primeira vez que os habitantes da república veem a sua morada em risco.
Com a entrada em vigor do Novo Regime de Arrendamento Urbano (NRAU) em Portugal, em 2012, o mercado de habitação alterou-se e as rendas antigas passaram a poder ser atualizadas. Desde então, Ana Reis afirma que tem vivido num clima de inconstância: “É uma ameaça com que uma pessoa vive desde que entra numa República”, confessou a arrendatária.
Apesar de já terem reunido com um advogado em regime pro bono, a estudante sente que “não existem apoios reais” para as Repúblicas.
Repúblicas como a dos Fantasmas ou a Rapó-Táxo, que passaram por situações similares, pediram apoio financeiro à autarquia para adquirirem o imóvel em que funcionam, evitando assim uma ação de despejo. Questionada sobre auxílio proveniente de fontes externas, Ana Reis admite que a República Solar Des Kapangas “não conta com a ajuda de ninguém”. “Neste momento estamos a lutar para comprar uma casa que não está em condições”, rematou a estudante.
Repúblicas já só podem contar com 15% do subsídio anual alimentar concedido pelos SASUC
No final da entrevista, Ana Reis teve ainda tempo para discutir um problema pelo qual passam, atualmente, todas as Repúblicas: o subsídio anual de alimentação, fornecido pelos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC) está a chegar ao fim. Já só resta 15% do financiamento consagrado aos produtos alimentares, uma fina fatia que terá de ser dividida por todas as repúblicas. Os SASUC deixaram o apelo para que a divisão dos fundos seja definida pelas repúblicas de forma equitativa, já que, segundo um e-mail enviado às Repúblicas e Solares de Coimbra, é algo que não se tem verificado. Para Ana Reis, esta divisão é algo que “não faz sentido”.
A habitante da República Solar Des Kapangas admite ainda que já foi feito o pedido aos Serviços de Ação Social para que o excedente do subsídio do ano passado seja aplicado este ano. “Queremos comer sem pensarmos que temos de ter cuidado com o que vamos comer” confessou a estudante.
Ana Reis admitiu ainda estar para breve uma ação de reivindicação nas cantinas da Universidade de Coimbra por parte das Repúblicas da cidade.