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12.11.2022POR Matilde Sabino

Semana à Sexta: situação das mulheres no Irão sob a perspetiva de uma iraniana

O Irão vive uma onde de protestos após, no passado dia 13 de setembro, a jovem Mahsa Amini ter sido presa por parte da “polícia da moralidade”, por não estar a usar o véu islâmico de forma correta, acabando por morrer três dias mais tarde. Naghmeh Ivaki esteve presente na Rádio Universidade de Coimbra para falar sobre a liberdade das mulheres iranianas.

O programa Semana à Sexta do dia 4 de novembro contou com a presença da professora iraniana do Departamento de Engenharia Informática da Universidade de Coimbra, Naghmeh Ivaki, para discutir a situação das mulheres no Irão.

De acordo com a Iran Human Rights, os jovens são os principais protestantes. Naghmeh Ivaki explica que as gerações mais novas se sentem impelidas a reconquistarem a liberdade outrora presente no país, dado que foram criadas pelas gerações que precederam a revolução. De acordo com a professora, os jovens comparam a sua realidade e aquela que os seus pais e avós viveram e distinguem as diferenças em termos de direitos. Também, Naghmeh Ivaki acredita que os jovens se destacam pelo “conhecimento deles sobre eles próprios, sobre o país em que estão a viver e sobre o que esta a acontecer no mundo.” As redes sociais são uma porta para o resto do mundo e o acesso facilitado que as gerações mais novas têm a músicas, livros e filmes de outras culturas, traz-lhes mais conhecimento, na opinião da entrevistada.

A professora iraniana entende que “esta revolução vai levar à vitoria”. Naghmeh Ivaki reconhece que os atuais protestos são diferentes dos outros: as mulheres estão a liderar as manifestações e os homens saem à rua por elas, porque as querem livres. Face à obrigação do uso do véu islâmico no país, a entrevistada defende que a escolha de roupa é individual e um “direito muito básico para o ser humano”. Naghmeh Ivaki crê que o problema não é o hijab nem a religião islâmica, mas a opressão que é exercida nas mulheres iranianas para se cobrirem e a praticarem o islamismo. A ativista discorda com a decisão de França em proibir o uso do hijab nas universidades, porém assume compreender a proibição de se tapar a cara por completo com a burka, por razões de segurança. Naghmeh Ivaki relembra que os protestantes iranianos não estão contra o uso do hijab nem se opõem à religião islâmica, apenas militam pela liberdade de escolha.

Questionada sobre o papel que os agentes internacionais devem assumir perante a situação, Naghmeh Ivaki recorda que “quem vai levar esta revolução ao fim são as pessoas e quem deve decidir sobre o futuro do país são as pessoas que estão a viver dentro do Irão”. Contudo, a professora afirma que as ações da comunidade internacional são essenciais e que devem manifestar a sua desaprovação face aos recentes acontecimentos. A entrevistada está convicta de que “não é só bom para o Irão, é bom para o mundo porque cada vez mais nós temos de tomar a nossa posição para apoiar a democracia e a liberdade das pessoas, e das mulheres, neste caso em específico”. Entre expulsar embaixadores iranianos e suspender ações políticas e económicas entre o Ocidente e o Irão, Naghmeh Ivaki propõe algumas medidas a serem executadas pelos agentes internacionais de forma a demonstrarem o seu apoio ao povo iraniano.

A professora de engenharia informática indica que os iranianos sentem-se orgulhosos da sua nacionalidade, independentemente de residirem dentro ou fora do território. Segundo Naghmeh Ivaki, o orgulho do povo é fruto da cultura iraniana, nomeadamente literária, que consomem desde pequenos. A ativista lamenta a imagem fascista e terrorista que o mundo tem do Irão e declara haver “muitas coisas bonitas e ninguém sabe sobre elas.” A entrevistada explica que no Irão, as mulheres são incentivadas a prosseguirem os estudos e que “em geral, a cultura persa nunca realmente distinguiu entre homens e mulheres para irem para a Universidade”.

A professora iraniana constata que “a cultura está a ficar globalizada” e que face à emigração colossal, cada vez mais as pessoas escolhem onde querem viver. Naghmeh Ivaki alega que pessoas de outras culturas devem ser integradas no país que as acolhe e que não podem ser vistas como um problema. A entrevistada defende que a solução para existirem países mais pacíficos, passa por “respeitar e dar liberdade” e refere que “temos que repensar sobre os políticos que temos para aproximar as pessoas e culturas em vez de distingui-las e separá-las”.

Fotografia: Sapo

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