Conselhos Intermédios contestam falta de acesso às contas bancárias, uso indevido das suas verbas pela DG/AAC e “falta de estratégia” do órgão
O estado da Associação Académica de Coimbra esteve em discussão no último programa Coimbra D. Questões financeiras e políticas marcaram o debate.
Fechando o ciclo do programa Coimbra D, que terminou na passada sexta-feira, dia 30, com o término da grelha de verão da RUC, João Caseiro, presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), César Sousa, secretário-geral do Conselho Cultural da AAC (CC/AAC), João Pereira, secretário-geral do Conselho Desportivo da AAC (CD/AAC) e Madalena Santos, presidente do Núcleo de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (NEFLUC), sentaram-se à mesa para discutir a situação atual da associação de estudantes mais antiga do país.
Abrindo as hostilidades, João Caseiro começou por fazer o balanço do mandato que está prestes a terminar. Lembrando o trágico falecimento do presidente Cesário Silva (que encabeçou o projeto que se candidatou em novembro passado) como principal obstáculo ao trabalho da atual Direção-Geral, o responsável acredita que o percurso dos últimos meses é feito de várias conquistas face à situação encontrada em dezembro de 2021.
Entre os pontos altos do mandato, João Caseiro destaca a distribuição de uma porção das verbas alocadas pela Universidade de Coimbra através do Contrato Programa para as secções culturais da AAC – algo que não tinha vindo a ser feito ao longo dos últimos anos e que havia sido promessa eleitoral da Lista V.
O presidente pretende ainda que, antes do fim do mandato, seja realizado o Fórum AAC: uma iniciativa que não se realiza desde o ano de 2020 e que visa aproximar as várias estruturas da casa.
Do ponto de vista político, João Caseiro elenca as ações da Direção-Geral ao longo dos últimos dez meses.
Inexistência de conta bancária dificultou trabalho dos Conselhos Intermédios
Um dos primeiros temas a ser levantado logo na primeira intervenção de César Sousa, secretário-geral do Conselho Cultural, foi a inacessibilidade dos conselhos intermédios às suas verbas ao longo dos últimos meses (algo que salienta não ser da inteira responsabilidade da atual DG/AAC). O processo, relacionado com a transição do banco Montepio para o banco Santander, acabou por, no seu entender, dificultar o trabalho das secções.
Por seu lado, Madalena Santos pede que a DG/AAC promova estabilidade na questão bancária, dado que a situação atual tem colocado entraves à promoção de atividades por parte dos núcleos. A responsável queixa-se ainda da falta de celeridade e organização da equipa liderada por João Caseiro, embora compreenda não ser esta a única questão com a qual tem de lidar a Direção-Geral.
Em resposta, João Caseiro reconhece que a DG/AAC podia ter sido mais célere em alguns momentos, mas considera “humanamente impossível” conciliar os afazeres enquanto presidente e as idas diárias ao banco, explicando que, neste momento, a conclusão do processo (já quase fechado, tanto que os conselhos já voltaram a ter acesso às suas contas) está do lado do Santander.
O Conselho Desportivo também se diz afetado, mas assinala que a sua situação não é comparável e que as secções desportivas têm outras fontes de rendimento que garantem a sua sustentabilidade.
CC/AAC queixa-se de que Direção-Geral usou dinheiro sem o seu consentimento
No decorrer de uma das suas intervenções, César Sousa revelou que as verbas das secções (que naturalmente estariam na conta do Conselho Cultural, mas que, fruto da situação bancária da casa, estavam na conta da Direção-Geral) foram usadas pela DG/AAC para “outros fins” que não aqueles a que estavam destinados. Segundo afirma, a situação já está parcialmente resolvida.
Em resposta, João Caseiro lembra que, antes das secções, existem responsabilidades a que a Direção-Geral não pode fugir. Nesse sentido, aponta que a DG/AAC é o órgão executivo financeiro da casa e que tem autonomia para não a deixar cair.
O responsável acrescenta ainda que não foram usadas verbas “com o intuito de ficar com elas” e que a Direção-Geral nunca “tentou desviar dinheiro” que não lhe pertencesse.
Para o secretário-geral do Conselho Cultural, a utilidade conferida ao dinheiro não é problemática, uma vez que também não seria pelas secções culturais que “a casa ficaria em problemas”. No entanto, o estudante de Direito condena a falta de comunicação do órgão com o conselho intermédio.
João Pereira acredita em acordo com DG/AAC para pagamento da dívida ao Conselho Desportivo
A dívida interna da Direção-Geral ao Conselho Desportivo foi também tema de conversa ao longo da discussão. Fazendo o ponto de situação, João Pereira afirma que a questão está bem encaminhada e que, até ao fim do atual mandato de João Caseiro, deve ser efetivado um acordo de pagamento a longo prazo.
O presidente da DG/AAC afirma estar ciente das suas responsabilidades neste setor. Para além da dívida já conhecida, João Caseiro dá também a conhecer uma situação que envolveu o programa “Reativar Desporto”, do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), e realça a constante comunicação com o Conselho Desportivo durante o processo.
A falta de uma “estratégia incisiva e continuada” ou uma “síndrome de saudosismo”?
Naquilo que à reivindicação política diz respeito, o painel levado a debate divide-se. Enquanto o enfraquecimento do movimento estudantil é consensual, há quem acredite que a Académica deve ser “mais” para fazer jus aos seus pergaminhos. É o caso de Madalena Santos, que, apesar de reconhecer algum esforço de mudança a esta Direção-Geral, é da opinião de que os estudantes não acreditam que têm a capacidade de melhorar as suas condições.
César Sousa confessa-se “cansado” de frequentar manifestações “simbólicas ou pontuais” sem impacto e aponta que, neste momento, a Associação Académica de Coimbra carece de uma “estratégia incisiva e continuada” que traga força ao movimento associativo.
Apesar de acreditar que a AAC deve assumir a dianteira do movimento estudantil nacional, João Pereira considera que se começa a ver algo que não era hábito nas últimas Direções-Gerais.
João Caseiro assume que a Associação Académica já não tem a força de outros tempos, mas explica que não é possível comparar os tempos de hoje com as situações de ’62, ’69 ou ’04. Para o estudante, falta uma causa tão agregadora como aquelas que mobilizaram os associados nessas épocas.
Para ouvir o debate completo pode aceder através do nosso Spotify ou clicar no link acima.