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AAC – Més Que Un Club

O contraste entre quem defende um respeito intransigente pelo passado e quem ambiciona ver a Académica a competir ao mais alto nível em mais uma Reportagem RUC.

No desporto, o verão coincide o final de mais uma temporada e é por isso sinónimo de balanços. Após uma época difícil para as equipas da Associação Académica de Coimbra, onde a descida da equipa principal de basquetebol foi o ponto mais baixo, é hora de repensar o modelo desportivo interno. João Caseiro, presidente da Direção-Geral da AAC, reconhece que a dinâmica associativa está a dificultar voos mais altos.

Para quem não conhece, esta avaliação pode parecer estranha. A verdade é que todas as secções da Académica estão ligadas a um aparelho “gigante” com mais de 70 estruturas coordenadas pela Direção Geral. Como intermediário, o Conselho Desportivo gere as questões estritamente relacionadas com as modalidades.

Apesar dos pontos positivos que resultam desta movimentação em bloco, as secções desportivas sentem que nos dias de hoje é mais difícil atuar assim. Quem o diz é Carlos Clemente, presidente da secção de futsal, que este ano viu a sua equipa sénior feminina subir à 1ª Divisão.

Além das secções não terem personalidade jurídica, Fabrice Schurmans, dirigente da secção de basquetebol, aponta também a instabilidade causada pelas constantes mudanças na Direção-Geral.

Contra corrente vai o secretário-geral do Conselho Desportivo. João Pereira considera que as dificuldades podem ser contornadas e aponta a digitalização como uma possível solução.

Embora compreenda a posição das secções, o presidente da Direção-Geral explica que não existe nenhum método viável que liberte todas as estruturas.

Já a constante rotação nos cargos diretivos é, segundo João Caseiro, um problema que afeta os dois lados.

Assim, a constante profissionalização do desporto parece condenar a Académica a uma posição de cada vez menor destaque no panorama nacional.

“Para tomarmos decisões estamos sempre dependentes da Direção-Geral. Penso que poderíamos encontrar uma solução que albergasse uma determinada autonomia” – Carlos Clemente

Apesar do cenário a preto e branco, há associados que não se conformam com a nova realidade da Académica.

Foi através das redes sociais que João Frazão, ex-presidente do basquetebol, comunicou uma proposta endereçada à atual direção da secção. Com o objetivo de conseguir construir um projeto capaz de regressar aos grandes palcos da modalidade, após ter caído este ano para a ProLiga, o associado seccionista quis estudar a criação de um Organismo Autónomo.

A ideia não é consensual. No entanto, depois de uma época em que a equipa principal de rugby teve muitas dificuldades em consumar a manutenção no principal escalão, Rui Loureiro, diretor-geral da secção, também vê com bons olhos a criação de uma nova estrutura.

Por outro lado, Fabrice Schurmans não partilha da mesma opinião. Para o dirigente, a Académica não pode abdicar daquilo que é.

No mesmo sentido, alinham também João Pereira e João Caseiro. Embora ambos lembrem que uma questão destas exige muito mais discussão, o presidente da Direção-Geral mostra-se reticente em relação à existência de um outro clube.

“O modelo que a AAC tem é um modelo para há 50 anos. Não funciona para ter resultados” – João Frazão

Crítico do modelo em vigor, que considera anacrónico, João Frazão afirma que a AAC não se pode continuar a pensar só como associação de estudantes.

Uma possível transição para Organismo Autónomo levanta questões de fundo e põe em causa a própria identidade da Associação Académica de Coimbra. Segundo João Caseiro, as diferentes visões definem a forma de estar de cada um perante a Académica.

Na ótica de Rui Loureiro, um hipotético Organismo Autónomo não seria menos Académica do que as secções. Nesse sentido, o exemplo do Organismo Autónomo de Futebol é paradigmático.

Criado em 1984, depois de, no período do PREC, uma assembleia magna ter ditado o afastamento da secção de futebol, que atuava profissionalmente, o Organismo Autónomo de Futebol é, para o presidente da Direção-Geral, um caso à parte.

Deste modo, a conclusão de João Caseiro é que, por respeito à história da Associação, o desporto da Académica não pode sofrer uma reestruturação que altere o seu propósito.

Entretanto, a proposta de João Frazão continua sem resposta e não há previsão de que surja um organismo autónomo desportivo nos próximos tempos.

Para uns, fica o receio de que a Académica não volte a ser capaz de atingir resultados que honrem os seus pergaminhos. Para os outros, o medo de que uma Associação que não seja aquilo que sempre conheceram.

“Se nós queremos ser outra coisa, sejamos outra coisa, não sejamos Académica” – João Caseiro

Esta é uma reportagem de Gonçalo Pina e conta com o apoio técnico de Vasco Santos. Para voltar a ouvir este trabalho, tal como todas as entrevistas na íntegra (João Caseiro, João Pereira, João Frazão, Fabrice Schurmans, Rui Loureiro e Carlos Clemente), pode aceder ao nosso serviço de podcasts em ruc.pt.

(Fotografia: João Martins)

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