Diminuição de invertebrados pode afetar toda a cadeia alimentar, diz estudo internacional
Verónica Ferreira, investigadora do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, avaliou os efeitos dos invertebrados na decomposição de detritos vegetais em ribeiros a nível global.
A RUC esteve à conversa com Verónica Ferreira. A editora associada a revistas de biologia e ecologia contextualizou o trabalho de investigação, ao detalhar os ciclos que o carbono faz, ao passar por espaços próximos a corpos da água, isto é, nas denominadas zonas ripárias.
A investigadora realça a importância do estudo internacional, no qual participaram investigadores de 7 países, devido à quantidade de folhadas, detritos vegetais que são produzidos pela floresta junto à água, presentes no território nacional.
O processo de decomposição das folhadas tem como protagonistas os decompositores microbianos e os decompositores invertebrados. O estudo internacional teve como objetivo perceber o impacto dos invertebrados na decomposição das folhadas.
A investigadora afirma que o estudo concluiu que os invertebrados têm um grande peso no processo. Por um lado, o carbono presente nas folhadas é reciclado ao ser incorporado na biomassa dos invertebrados, que posteriormente também seria consumido pelos predadores. Os invertebrados ao ingerirem os detritos vegetais, também estão a ajudar o processo de decomposição ao dividir a vegetação em bocados mais pequenos. O carbono entra assim na cadeia alimentar aquática.
O eventual desaparecimento dos pequenos animais que vivem associados às areias, pedras e plantas aquáticas dos ribeiros, em resultado de alterações ambientais induzidas pelas atividades humanas, terá um grande impacto na decomposição das folhadas, com efeitos nos ciclos dos nutrientes e do carbono, avisa Verónica Ferreira.
Por exemplo, por serem na sua maioria animais que estão adaptados a águas frias, o aumento da temperatura da água afetaria negativamente os grupos de animais, com consequências para toda a cadeia alimentar.
Este estudo, publicado na Biological Reviews, reuniu uma equipa de 13 investigadores de 8 países, que considerou 141 pesquisas que cumpriam critérios específicos, que contribuíram com quase três mil observações em ribeiros não poluídos distribuídos principalmente pela América do Norte, América do Sul, Europa, Ásia Oriental e Oceânia.
Verónica Ferreira foi a única investigadora portuguesa que participou no trabalho que efetuou uma meta-análise para avaliar quais os fatores que controlam o papel dos invertebrados no processo de decomposição de detritos vegetais.
Neste estudo, verificou-se que, a nível global, a presença de invertebrados estimula a decomposição de folhadas em média em 74%, sendo o efeito mais forte quanto maior a densidade, biomassa e diversidade de invertebrados.