[object Object]
01.08.2022POR João Ribeiro

CRÓNICA RUC: O REGRESSO DO SUPER BOCK SUPER ROCK – DIAS 14, 15 E 16 DE JULHO 2022

A RUC esteve presente no regresso (in)esperado do Super Bock Super Rock nos passados dias 14, 15 e 16 de Julho, após uma mudança de última hora do Meco para o Parque das Nações.

 

Após um hiato de aproximadamente três anos de SBSR, o aguardado regresso à Herdade do Cabeço da Flauta e à Praia do Meco teve de ser inesperadamente adiado por mais 1 ano, devido ao estado de emergência ativado a nível nacional devido ao risco de incêndios florestais que ocorreu durante a mesma semana. Perante a adversidade, a organização viu-se obrigada a desmontar todo os palcos existentes no Meco e reorganizar todo o festival (desde logística entre artistas, alimentação, palcos, etc.) no Parque das Nações, utilizando desta forma a Altice Arena (Palco SBSR), e a Sala Tejo (Palco EDP/Somersby) como espaços indoors de concertos, e o palco LG by Rádio SBSR.FM como único espaço outdoor, para esta vigésima sexta edição do festival.

 

— 14 de Julho —

 

Iniciámos o primeiro dia de festival num dia que mereceu agradecer a todos os deuses a mudança de localização, pois os concertos dentro das salas permitiram aproveitar de forma bem mais fácil, sem os festivaleiros terem de derreter com o calor que se fez sentir ao longo destes três dias de verão.

 

Começando com Los Bitchos pelas 19h45, a banda londrina que tocava na Sala Tejo um rock repleto de western – dirigido pela melodia da guitarra elétrica de Serra Petale – apresentando músicas do seu álbum de estreia Let the Festivities Begin! lançado no iníco do ano. Podemos descrever o seu género de música como um “pôr de sol de cumbia instrumental psicadélico”. Nada melhor para inicar o festival e desengatar o pé de dança com a ajuda do essencial patrocínio de uma Super Bock bem fresquinha. Seguimos para a Arena, onde nos esperavam os já bem conhecidos deste público, Metronomy. A banda formada em 1999, continua forte e a dar muitos sinais de vida! Com Joseph Mount na voz, Oscar Cash nos teclados, Anna Prior na bateria, Michael Lovett e o carismático Olugbenda Adelekan no baixo, meteram todo o público a entoar uma enchente de clássicos tais como Reservoir, The Look ou Love Letters, assim como muitas músicas do seu mais recente Small World lançado este ano. Uma indietronica alegre e sempre capaz de colocar um sorriso na cara das pessoas que a ouvem, cantam e dançam.

 

De seguida, assistimos às Hinds, projeto de indie/garage rock originário de Madrid e criado em 2011 por Carlotta, Ana, Ade e Amber. Este quarteto poderoso (que inicialmente tinha designado o grupo de Deers) passou por músicas dos seus 3 álbuns Leave Me Alone (2016), I don’t Run (2018) e The Prettiest Curse (2020) que foram ganhando a confiança do público e despertaram mais uma onda energética, do mesmo modo da corrente existente até o momento no dia.  Ainda tivemos tempo para ouvir um pouco de Todd Michael “Leon” Bridges no palco SBSR, o artista natural de Atlanta, Georgia, um pouco adormecido mas sempre com o seu talento, R&B e soul bem presentes durante o concerto. O cantautor já nomeado para quatro grammies agradou o público com a sua leveza e banda que o acompanha em palco.

 

Terminamos este dia com mais uma “surpresa” em forma de re-confirmação, de seu nome Sports Team. Após a sua presença no Super Bock em Stock em novembro de 2021 na Avenida da Liberdade – tendo aí sido igualmente umas das melhores surpresas do festival citadino – voltaram a surpreender e a explodir na Sala Tejo. Alex Rice que dá a voz a este projeto de rock alternativo criado na Universidade de Cambridge, agarrou no seu mic e suporte, desceu do palco, e passou cerca de meia hora a cantar juntamente do público, o que levou à criação de vários momentos repletos de energia, mosh, e até a um abraço caloroso do mesmo ao segurança, momento aplaudido como se de uma coroação se tratasse. Apresentaram músicas dos seus dois álbuns Deep Down Happy e Gulp!, com stamina interminável, fazendo lembrar umas duradouras pilhas duracell.  Certamente um projeto que iremos ainda ouvir falar bastante nos próximos anos, pois muitas coisas boas se esperam desta banda!

 

— 15 de Julho —

 

Dia 15, sendo curiosamente o dia em que menos concertos se viram, aqui tivemos o melhor concerto deste festival (devemos dizer, de longe..?). Antes de lá chegarmos, fez-se ouvir Samúel Úria. O músico português natural de Tondela, ofereceu um belo espetáculo aos presentes na Sala Tejo. Repleto de canções de rock, amor e baladas, passou pelos marcos da sua discografia e principalmente pelo seu mais recente Canções do Pós-Guerra lançado em 2020,  tendo terminado com Lenço Enxuto, onde admitiu ao público o momento especial que ali se viveu, onde todos cantaram a música em uníssono.

 

Chegavam as 22h00 da noite, deslocámo-nos até à Altice Arena. Estava prestes a começar (após um compasso de espera e palpável ansiedade do público) um espetáculo indescritível, iniciando-se com o lento deslizar de duas enormes cortinas azuis escuras. Antón Álvarez Alfaro aka C. Tangana, não subiu a palco pois já se encontrava sentado numa das várias mesas de jantar que se encontravam postas e servidas, assim como todos os músicos do seu projeto acompanhados por um bem composto conjunto de cordas no background. O rapper iniciou a sua carreira em 2005 após o lançamento do tema Él Es Crema, e desde então tornou-se produtor e lançou Ídolo em 2017 e o sucessor El Madrileno em 2021, com o qual atingiu sucesso planetário –  visível, palpável, sentido, vibrado e merecidíssimo. Na sua música sente-se a versatilidade das raízes latinas, do flamenco, da música cigana, reggaeton, pop, rap e hip hop. Sem descurar nenhum destes estilos e com um leque de várias vozes igualmente deliciosas que o acompanhavam (estas, já sem auto-tune), numa história cantada, falada, sempre com uma guitarra de cordas de nylon e instrumentos de cordas a marcar a navegação como se de ondas se tratassem, e assim, elevar a todo um novo nível a definição de espetáculo ao vivo. O champanhe foi aberto, o barman serviu, os brindes foram feitos, e todo o público que enchia a Arena cantava (sem falhas, devo escrever) todas as palavras das suas músicas com o possível ar ainda existente nos pulmões. Entre cantar e dançar, assim se passou uma hora, literalmente mágica. Obrigado C. Tangana, por este tão doce momento!

 

Ainda em estado de choque com o que se tinha acabado de presenciar pouco tempo antes, assistimos de seguida a Daft Funk Live! e Hot Chip. O grupo londrino de synthpop também continua vivo e a dar cartas, composto pelos seus dois principais creativos, Alexis Taylor e Joe Goddard e restante banda Owen Clarke, Al Doyle e Felix Martin.

 

— 16 de Julho —

 

Assim chegamos ao último ato do SBSR, dia 16 de julho. Neste sábado solarengo, foi possível assistir a mais concertos que por sua vez iniciaram mais cedo. Começamos com Ganso, o projeto cool de indie rock e que faz parte da coletiva portuguesa Cuca Monga, apresentou um concerto muito agradável a todos os presentes. Até Gino (O Menino Bolha) teria apreciado este concerto! Pouco depois, começa o primeiro concerto do dia no palco SBSR – Local Natives. Esta banda já conta com várias presenças pelos festivais portugueses tendo acumulado assim uma plateia de fãs pontuais e sempre assíduos. Formados em Los Angeles, Califórnia, já contam com quatro álbuns de estúdio e um EP. O seu mais recente álbum Violet Street repleto de energia positiva, guitarras que rasgam, vozes sólidas e ritmos sólidos, deu para aquecer a pista da Altice Arena.

 

De seguida, deslocámo-nos pela primeira vez ao palco LG by Rádio SBSR.FM, motivados pela presença da dupla portuguesa de belas vozes que cantam em sintonia harmoniosa entre guitarras acústicas ou elétricas, as Golden Slumbers – composto pelas irmãs Catarina (voz do projeto Monday) e Margarida Falcão (também conhecida em Vaarwell). As suas vozes agradam qualquer ouvido, ainda melhorado com o sol no horizonte que começava a descer. Mais uma vez para dentro do fresquinho da Arena, mais uma maravilha para os nossos ouvidos. Pelas 19h25, sobe a palco a cantora cabo-verdiana nascida em Havana, que cresceu entre o Senegal, Angola, Alemanha e ainda Cabo Verde. Sim, falamos da belíssima Mayra Andrade. Artista que já conta com cinco álbuns de estúdio lançados e uma série de colaborações na manga. Após se ter fixado em Paris em 2004, apresentou-se num dos mais consagrados bares de word music o Satellite Café e começou a encantar o povo por aí fora, até se estabelecer em Portugal em 2016. Foi o primeiro concerto do dia em que se sentiu o público ao rubro, a dançar em sintonia com a sua música de raíz na world music, pop, reggae, funaná, batuku e koladera, e dedicando o concerto a todas as pessoas que sofrem ano após ano devido aos fogos florestais e a todos os que ajudam a salvar vidas.

 

Mantemo-nos brevemente por mais um tempo no palco SBSR até ao início do concerto dos Capitão Fausto & Martim Sousa Tavares, porém aqui o som não se apresentava nas melhores condições, sendo difícil ter a perceção por completo do ensemble dirigido pelo Maestro Martim Sousa Tavares assim como dos instrumentos da banda, algo também devido à acústica da Arena. O piano de Tomás Wallesntein iniciou ternorosamente com Amor, a Nossa Vida e até se ouviu uma versão de Recomeçar do cantor brasileiro Tim Bernardes, com quem o grupo de Alvalade já fez uma colaboração. Ao longo do concerto foram apresentados vários arranjos delicados e com vibes tropicais, já lá vão os tempos de distorção deste grupo de rapazes crescidos! Começando a cair a noite, e às 21h50 começa Son Lux na Sala Tejo. O grupo nova-iorquino de música experimental e post-rock composto por Ryan Lott, Rafiq Bhatia e Ian Chang (que ainda este ano compôs a banda sonora  para o filme de ficção científica Everything Everywhere All At Once) apareceu altamente introspectivo e sem querer dar muito nas vistas – contudo, conseguiram surpreender com as suas canções cheias de sentimento, emoção e profundidade tocada de forma despida entre vislumbres de um teclado, bateria e guitarra por entre uma densa névoa violeta.

 

Estamos prestes a queimar os últimos cartuchos do SBSR, e não poderia ser de melhor forma do que com Foals. A banda formada em Oxford há cerca de 17 anos, encabeçada pelo incansável Yannis Philippakis, proporcionou-nos a festa ideal para o término do festival. Uma Arena ao rubro com músicas carregadas de magnetismo, tais como Mountain At My Gates ou Providence, sem descurar todos os clássicos já conhecidos como My Number, Spanish Sahara e Two Steps, Twice, com a qual terminaram o concerto. Os efeitos visuais ajudavam na festa, que deixou o público bem cansado pela quantidade de saltos e mosh pits ao longo de uma imponente hora e meia. E agora sim, chegamos ao último concerto,  desta vez com o francês Yoann Lemoine conhecido por Woodkid. Este ofereceu-nos, sem dúvida, os melhores efeitos visuais do festival. Repletos de criatividade, sci-fi, temas universais e bastante exploratórios acompanharam todos os hits desde Iron, Run Boy Run ou The Golden Age com a presença do ensemble a oferecer mais uma textura sonora que fazia a cama às músicas de Yoann.

 

Apesar de um ou outro concerto perdido (tais como Jungle DJ Set ou Tourist) quer seja pelas mudanças de horários que ocorreram no próprio dia ou por cancelamento do artista, completámos assim a vigésima sexta edição do Super Bock Super Rock no Parque das Nações, no qual devemos dar os parabéns à organização pela capacidade de superar a adversidade ao conseguir montar o festival num espaço  de dois dias, que valeram por muitas horas de boas memórias. O rock está vivo, e super!

 

Crónica e Fotografias por: João Ribeiro

PARTILHAR: