Helena Freitas: “Aquilo que é hoje uma solução razoável, amanhã pode ser uma solução condenável”
As consequências da guerra, a soberania alimentar e a eliminação dos combustíveis fósseis foram alguns dos temas em destaque na conversa com Helena Freitas.
No espaço do Observatório, a convidada foi Helena Freitas, professora catedrática no Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra e atual diretora do Parque de Serralves, no Porto.
“As consequências diretas desta guerra serão, infelizmente, mais fome naqueles contextos do mundo em que a fome já é uma realidade quotidiana”
O foco da conversa esteve sempre em redor da sustentabilidade, embora as primeiras questões tenham sido direcionadas ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia – conflito esse que Helena Freitas considera como sendo uma “tragédia” para pessoas, famílias e comunidades que vivem o impacto desta guerra em primeira mão. A professora da Universidade de Coimbra refere-se à guerra como sendo altamente destrutiva e afirmando que “é um processo de destruição massiva”.
Ainda sobre a guerra que vivemos atualmente, Helena Freitas aponta algumas das consequências, sobretudo no ramo das exportações. Uma guerra acarreta sempre consequências e a professora catedrática fala no aumento da poluição e no aumento dos custos dos bens provenientes da Ucrânia, tais como os cereais ou até mesmo os pesticidas usados na agricultura. Para a atual diretora do Parque Serralves, “isto tem um impacto geral na União Europeia”.
“Vivemos num tempo em que a tendência natural é olharmos para dentro e garantir que temos capacidade para produzir a maior parte dos bens essenciais”
Ainda num contexto de guerra e de da falta de bens por que os países estão a passar, Helena Freitas prende-se com a autossuficiência e em como é necessário evitar dependências das redes e comércio internacional. Segundo a diretora do parque de Serralves, é necessário aumentar a produção para mais próximo do consumidor.
No seguimento da conversa sobre autossuficiência e dependência do comercio exterior, surge o tema da mobilidade sustentável e sobre a forma como as cidades devem agir de forma a chegar a uma civilização ecológica. Perante a redução e escassez dos combustíveis fosseis, Helena Freitas refere-se às bicicletas e trotinetes, que atualmente estão a ser um meio de deslocação usado com mais frequência nas cidades, como soluções de pequena escala, mas que ajudam a pensar a mobilidade urbana mais desligada dos combustíveis fosseis.
Dentro deste tema que engloba as cidades e a ecologia, a professora da Universidade de Coimbra considera que é importante tomar medidas a curto e longo prazo para combater as alterações climáticas.
“Temos que evoluir no sentido de eliminar de uma forma progressiva e definitiva os combustíveis fósseis”
Helena Freitas refere que cerca de “70% dos cidadãos do mundo vivem em cidades” devido à densidade das cidades é, segundo a professora catedrática, necessário implementar políticas municipais que atuem em resposta àquilo que são os problemas ambientais.
A atual diretora do Parque de Serralves conta com a força das gerações seguintes para conseguirem mais rapidamente promover a transição para uma civilização ecológica. A comentadora apela ainda à comunidade científica para que se envolva de forma ativa para encontrar as melhores soluções para os problemas que vão surgindo ao longo do tempo.
O podcast completo pode ser ouvido em 107.9FM ou em ruc.pt.