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27.06.2022POR Tomás Cunha

Perfil de Miguel Valença: Um treinador com um “ADN de futebol apoiado”

A RUC desenhou o perfil do novo mister da Académica. Adaptabilidade e proximidade com os jogadores são dois eixos fundamentais do passado de Miguel Valença como treinador

Num início de temporada marcado por mais dúvidas que certezas são várias as perguntas que pairam sobre o universo Briosa. Depois de uma temporada onde a Académica trocou de treinador por três ocasiões diferentes os adeptos do clube de Coimbra estavam curiosos para saber quem era a aposta de Miguel Ribeiro para o comando técnico da “Mágica”. A escolha recaiu em Miguel Valença, treinador de 32 anos e antigo jogador nas camadas jovens da Associação Académica de Coimbra / OAF.

A verdade é que uma semana depois da chegada de Miguel Valença a Coimbra pouco ainda se sabe sobre a nova Académica OAF 2022/2023. O jovem técnico chega à cidade dos estudantes depois de passagens no Campeonato de Portugal e na Liga 3, competição onde a Académica se vai estrear na nova temporada.

“Um treinador jovem e aberto a outro tipo de ideias com um “ADN de futebol apoiado”

Quem é Miguel Valença? Como jogam as suas equipas? Que tipo de futebol é que Miguel Valença gosta? Fizemos estas questões a quem conhece o novo “mister” academista. Miguel Rodrigues trabalhou com Miguel Valença no Oliveira do Hospital Futebol Clube e no Anadia FC, tendo pertencido à sua equipa em dois momentos distintos da carreira do novo mister academista. O preparador físico que na época passada dividiu o seu trabalho entre Anadia e o Amora, em conversa à RUC, definiu Miguel Valença como um treinador “jovem e aberto a outro tipo de ideias com um “ADN de futebol apoiado”. No entanto, tendo em conta o calendário apertado e a elevada exposição mediática do cargo de treinador da Académica, Miguel Rodrigues acredita que Miguel Valença poderá jogar um “pouco mais pelo seguro”, apostando num futebol mais assente em transições e em bolas paradas.

“As equipas eles praticam um futebol muito apoiado que tenta passar pelas três fases de construção com variação do centro de jogo com a bola procurando passar pelos corredores de jogo. Mas tem a capacidade para ter o pragmatismo”

Miguel Rodrigues

 

Miguel Rodrigues tem a experiência de trabalhar lado a lado com Miguel Valença como preparador físico. Já David Brás tem sido uma constante na carreira de Miguel Valença como jogador, tendo trabalhado com o novo timoneiro da Briosa em três clubes diferentes e em quatro temporadas distintas. Por isso mesmo, não haveria melhor pessoa para falar das ideias de Miguel Valença do que David Brás, e foi isso mesmo que fizemos. Em entrevista à RUC, o médio formado na Académica reforçou as ideias já vincadas por Miguel Rodrigues, sublinhado que Miguel Valença gosta de praticar um “futebol atrativo de posse bola.” Na opinião de David Brás as equipas de Miguel Valença têm um objetivo claro: “controlar o jogo e as equipas adversárias com bola”.

Se David Brás aponta para um jogo de posse de bola, já Miguel Rodrigues não tem tantas certezas, tudo por causa das “caras” que Miguel Valença vai ter ao seu dispor. Na opinião de Miguel Rodrigues Miguel Valença vai adaptar “o estilo de jogo em função do plantel” e tendo em conta as características dos jogadores. Miguel Rodrigues puxou a fita atrás e recordou a evolução de Miguel Valença e das suas equipas ao longo do tempo.

O antigo preparador físico de clubes como o Cultural Leonesa ou o Amora recordou que o Oliveira Hospital de Miguel Valença praticava um “futebol de contra-ataque”, destacando a evolução para um futebol mais apoiado no Anadia e no Real SC.

Os vários entrevistados salientaram a capacidade de adaptação do novo treinador da Briosa

Em conclusão, para Miguel Rodrigues tudo vai depender do plantel e das características dos jogadores, até porque como Miguel Rodrigues recorda, a prática de um tipo de jogo mais apoiado exige “mais dos jogadores” e a construção da equipa em cima do início da pré-temporada pode “condicionar” o exercício do seu modelo de jogo.

David Brás concorda com a ideia da adaptabilidade e reforça que Miguel Valença foi sempre um treinador que se foi adaptando às circunstâncias e aos planteis. No entanto, o médio de 26 anos acredita que Miguel Valença vai tender para um jogo “mais apoiado” na Académica.

David Brás admite que o orçamento é baixo, mas sublinha que a “Académica será sempre a Académica” e que por isso mesmo tem outra capacidade para atrair outro tipo de jogadores, em comparação com alguns clubes onde Miguel Valença passou. Graças a esse fator, David Brás acredita que vai ser possível atrair jogadores que permitam a prática de um jogo mais apoiado, apesar do orçamento ser baixo em comparação com alguns rivais da Liga 3.

Sistema tático? “Pode alternar”

E o sistema tático? Vamos ver um 4x4x2? Um 4x3x3 ou uma linha de cinco defesas? Neste ponto, David Brás jogou à defesa e sublinhou que Miguel Valença tem mudado de sistema tático ao longo da carreira. Para o médio-centro formado na Briosa o mais importante é o plantel absorver as ideias de Miguel Valença “independentemente do sistema tático”.

Miguel Valença pendurou as botas aos 29 anos, tendo desde então focado a sua atenção na carreira de treinador. Antes disso, Miguel Valença jogou nos campeonatos nacionais em equipas como a Naval 1º de Maio ou na UD Nogueirense, clube onde na temporada 2010/2011 iniciou a carreira de treinador (na altura no escalão de sub11 do clube de Nogueira do Cravo). Entre 2010 e 2018, Miguel Valença foi acumulando a experiência de treinador nas camadas de jovens de vários clubes (União de Coimbra, o Cernache ou o “seu” Nogueirense), com a carreira de guarda-redes.

Miguel Valença jogou na formação da Académica até aos sub15

Pelo meio, Miguel Valença estudou na Escola Superior de Desporto de Rio Maior, tendo estudado “treino desportivo”. Um percurso que apesar da tenra idade já vai longo e que culmina com a chegada a Coimbra. Para Miguel Rodrigues este percurso dá outra “bagagem” a Miguel Valença, sendo o casamento de dois meios distintos: o meio académico e o meio do futebol como jogador (da prática). Este “casamento” dá na opinião de Miguel Rodrigues uma melhor capacidade de filtragem no momento de tomar decisões, seja em treino, seja em jogo.

Miguel Valença já vai no quarto clube da carreira, depois de passagens por Oliveira do Hospital, Anadia e por fim, Real Sport Clube. Uma experiência que contrasta com a idade apresentada no cartão de cidadão, apenas 32 anos. A juventude do novo mister da Académica possibilita na opinião de Miguel Rodrigues ter uma relação “mais próxima com os jogadores”, o que permite que os jogadores “ganhem confiança”.

E qual é a visão do atleta? Será que a opinião do balneário é a mesma? David Brás não tem dúvidas. Para o antigo médio do Oliveira do Hospital Miguel Valença consegue chegar aos jogadores de “uma maneira mais empática”, criando dessa maneira uma relação “diferente com os jogadores”.

“A Académica tem carinho, mas tem o reverso da medalha: tem pressão extra. É preciso pensar um jogo de cada vez.”

David Brás

E como é David Brás vê a chegada de Miguel Valença a Coimbra? Para o médio que passou quase uma década ao serviço da Briosa (entre OAF e Secção de Futebol), a missão de Miguel Valença “não vai ser fácil”. David Brás admite que na Académica há “pressão extra” e que por isso mesmo acredita que Miguel Valença vai procurar preparar a sua equipa “jogo a jogo”. Já Miguel Rodrigues sublinha as dificuldades financeiras do clube, algo que pode condicionar o trabalho do novo treinador da Académica / OAF na sua perspetiva.  Apesar das condicionantes financeiras, Miguel Rodrigues acredita que o antigo treinador do Real SC está pronto para enfrentar estes desafios. Para tal, é preciso que a direção de Miguel Ribeiro dê tempo a Miguel Valença, alerta o antigo preparador físico do Anadia.

“Sonho jogar no Estádio Cidade de Coimbra perante os seus adeptos, perante a Mancha Negra. Será difícil dizer que não (a uma proposta).”

David Brás

Segundo os últimos rumores a direção de Miguel Ribeiro já segurou cinco reforços: Benny, Diogo Ribeiro, Pepo, Marco Grilo e David Teles. Outro dos nomes falados é…David Brás. Perguntámos ao antigo médio do Oliveira do Hospital o que aconteceria se o telefone tocasse. A resposta foi rápida. “Será difícil dizer que não”, rematou David Brás. O jogador que trabalhou várias vezes com Miguel Valença recordou o seu passado ligado à Académica e admitiu mesmo que jogar no Estádio Cidade de Coimbra perante os adeptos da Briosa é um “sonho”.

“Os adeptos da Académica não podem esperar resultados fáceis. Construir um plantel do zero não é fácil! Portanto, mais importante do que querer resultados imediatos é dar tempo ao treinador para impor as suas ideias, limar as ideias que têm de ser limadas porque a longo prazo será positivo para o clube. Se todos juntos, equipa sénior, técnica, direção e adeptos puxarem para o mesmo lado, será aí a base do reerguer da Académica.”

David Brás

Até ao momento uma coisa é certa: a pré-época da Briosa começa a 11 de Julho, com os dias 8 e 9 a serem dedicados à realização dos exames médicos. Até lá é expectável ver muitas novidades no universo Academista que poderá acompanhar em www.ruc.pt e nas nossas redes sociais.

 

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