Maria de Lurdes Craveiro: “O museu pode ser um espaço de protesto”
A sustentabilidade e a digitalização nos museus, assim como o papel dos espaços culturais em contexto de guerra, foram alguns dos tópicos abordados por Maria Lurdes de Craveiro.
No dia 18 de maio assinala-se o Dia Internacional dos Museus, promovido pelo Conselho Internacional de Museus, que sugeriu, para 2022, o tema “O Poder dos Museus”. Neste sentido, a docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e diretora do Museu Nacional Machado de Castro, Lurdes Craveiro, foi a responsável pelo espaço de comentário do Observatório desta quinta-feira.
“[O museu é] um espaço onde, a partir de um percurso de reflexão, questionamento podemos verdadeiramente reconstituir o mundo que nos rodeia e nós próprios”
De acordo com Maria de Lurdes Craveiro, o poder dos museus não passa só pela promoção da “felicidade na observação” das peças que se encontram no museu, mas “extravasa a muitos níveis essa visão contemplativa”. Para a professora da FLUC, uma vez que uma das missões do museu também é formação, os museus têm a capacidade de “ajudar a redirecionar comportamentos, atitudes e imprimir uma carga positiva no âmbito da sociabilidade”.
Voltando-se para a questão ambiental, a professora da FLUC afirma que o Museu Nacional Machado de Castro faz o possível para contribuir para a sustentabilidade, nomeadamente no que toca ao consumo energético, utilização do papel e no “equilíbrio com a natureza, edificada ou não”. Embora indique que esta preocupação não está ainda “na consciência ativa de cada um de nós”, Lurdes Craveiro reconhece que se trata de “um processo em curso”.
“O digital é um setor que, neste momento, no universo dos museus, palácios e monumentos nacionais, é muito frágil e tem ainda muito caminho para andar”
A professora menciona que uma das debilidades dos museus consiste na expansão da digitalização, visto que é uma área que ainda “não é possível de modernizar”. A responsável considera que “as dotações orçamentais na área da cultura não são aquelas que nós desejaríamos que fossem”, e, por isso, é difícil avançar mais neste campo.
Apesar dos entraves que tem encontrado, Lurdes Craveiro reconhece a importância de investir na digitalização para que seja possível divulgar o museu para fora dos seus limites físicos. Segundo diz, o processo de digitalização “possibilita ao cidadão em Nova Iorque ou em Tóquio chegar ao Museu Nacional Machado de Castro”.
“O papel dos museus em contexto de guerra pode ser um apelo à paz”
Debruçando-se sobre qual deve ser o papel dos museus num contexto de guerra, a diretora afirma que, para que seja possível “lutar contra a animalidade que se encontra dentro do próprio ser humano”, os espaços museológicos assumem uma importância fundamental no “combate às batalhas”. De acordo com Maria de Lurdes Craveiro, a atuação das estruturas deve passar sempre por “apelar à paz e ao equilíbrio”.
A entrevista na íntegra pode ser ouvida através do link que se encontra no topo do artigo.