Carlos Clemente: «Desde 2020, a Secção de Futsal da AAC nunca recebeu um cêntimo da Direção Geral»
O presidente da Secção de Futsal deixou críticas à DG/AAC e ao reitor da UC e admitiu “ir-se embora” caso não tenha capacidade de criar um escalão júnior rapidamente.
No dia 12 de Maio, a Rádio Universidade de Coimbra esteve à conversa com o Presidente da Secção de Futsal, Carlos Clemente. A subida da equipa de futsal feminino à 1ªDivisão, os obstáculos ao desenvolvimento da equipa, os entraves a nível financeiro e infraestrutural e as expectativas para a modalidade a nível nacional foram alguns dos temas abordados.
«[O jogo frente ao Gondomar] foi uma vitória muito saborosa»
Em destaque na entrevista, esteve a recente promoção da equipa de futsal sénior feminino para a 1ª Divisão. A subida ficou consumada no confronto com a equipa nortenha, com um 2-1 para os estudantes. No entanto, o presidente considera que este não foi um fator decisivo visto que, mesmo que o jogo resultasse em derrota ou empate, o futuro da Briosa já estaria traçado.
O constante empenho e esforço da equipa traduz a sua vontade de vencer e de se afirmar, referiu o entrevistado.
«A Diana é um grande exemplo para o futsal […] a nível nacional»
Apesar do sucesso desportivo, Carlos Clemente considera que o clube sempre se viu como uma «entidade formadora de talentos», que tem conseguido enfrentar as adversidades da crise pandémica. Referiu que a formação dos mais jovens foi fortemente prejudicada, enquanto que os atletas seniores tiveram que se reinventar e aumentar os seus esforços. Sublinhou ainda que 80% dos atuais treinadores são atletas seniores, fator essencial para a subida de divisão da Académica.
Relativamente à jogadora Diana Silva, melhor marcadora a nível nacional, o presidente considera que todas as suas conquistas se devem ao trabalho e treino árduo. Refere que a jogadora dos estudantes foi uma das que deu tudo pelo sucesso da equipa, junto com outras colegas que, mesmo lesionadas, pretendiam participar nos confrontos. Carlos Clemente atribui-lhes a responsabilidade pelos «resultados satisfatórios» que se começaram a revelar após as vitórias contra o Maia e Povoense, outros dois candidatos à promoção.
«Temos de ser mais acompanhados e compreendidos, porque representamos a AAC»
O presidente assume que uma das principais preocupações é a dos recursos monetários, sendo que, com a chegada à 1ªDivisão, existem «outras características financeiras». É importante que se saiba «o que pensa a Associação Académica para a modalidade» e «como é que as entidades da cidade podem ajudar» porque a falta de investimentos e infraestruturas demonstra-se prejudicial para a formação dos atletas de alta competição.
Ao longo da entrevista, Carlos Clemente divulgou as dificuldades que a secção de futsal enfrenta perante a falta de comunicação e de tomada de decisões por parte da Direção Geral da AAC, que se tem verificado como um verdadeiro entrave ao desenvolvimento do clube. Por outro lado, apontou que apenas as equipas de rugby e futsal jogam na divisão “dos grandes”, sendo portanto merecedoras de especial «acompanhamento e compreensão», dado que «representam a AAC e a cidade de Coimbra».
«Lamento que o Sr. Reitor não conheça a realidade desta casa»
Perante as recentes declarações de Amílcar Falcão, o presidente salientou que a entrega dos pavilhões desportivos, por parte da Universidade de Coimbra e da Câmara Municipal (CM), ao processo de vacinação, foi feita sem que as secções fossem ouvidas e sem a apresentação de soluções para a prática das modalidades. Mesmo com a recente descentralização na gestão dos pavilhões escolares, dos quais a CM passou a tomar posse, não se verificou uma resposta positiva para os clubes, visto que a secção de futsal se mantém, há mais de um ano, sem resposta perante uma futura utilização dos mesmos.
Assim, sendo os materiais e infraestruturas insuficientes, torna-se difícil para a equipa formar um escalão júnior, apontou o presidente da Secção de Futsal. Sendo esta uma ambição antiga da secção, e do próprio presidente, Carlos Clemente assumiu mesmo demitir-se caso não seja formado um escalão júnior o mais rápido possível: «O problema não é nosso. É da Direção Geral».
«Os jovens têm que sentir algo de diferente na Académica»
Apesar das expectativas serem baixas, as ambições continuam a ser muitas. Carlos Clemente admite que só depois da reunião pedida à DG/AAC será possível definir metas de trabalho para todos os escalões. O dirigente exige respostas perante a gestão das instalações desportivas, de forma a conhecer os assinantes dos protocolos que cimentaram os obstáculos à Secção de Futsal. A incapacidade de formar os mais jovens faz com que estes, em treinos da seleção durante o escalão juvenil, saiam para os grandes clubes, criando uma verdadeira “fuga de cérebros” na Académica.
«Pena que em Coimbra não se pense assim. Quero que a cidade responda para valorizar o futsal feminino!»
O presidente refletiu ainda sobre as diferenças de tratamento entre desporto feminino e masculino, bem como a sua evolução individual. Apesar de considerar que existe uma lacuna ao nível do mediatismo e investimento no futsal de mulheres, afirma com toda a certeza que esta não é uma realidade dentro da secção, onde «tudo é igual por igual». Entende que pode haver uma justificação para essa diferenciação, visto que os masculinos são campeões europeus e mundiais, mas reitera que o futsal feminino tem evidenciado grandes evoluções.
Perante a ambição do futsal feminino português atingir o nível 1, na contagem da Fifa, Carlos Clemente refere que é preciso «trabalhar, trabalhar, trabalhar», de forma a alcançar uma boa posição no Campeonato Europeu, uma disputa que tem «pernas para andar».