Gonçalo Leite Velho: “Os parceiros de eleição dos estudantes são os professores, não as reitorias”
O Observatório de 3 de maio contou com a presença de Gonçalo Leite Velho, professor do Instituto Politécnico de Tomar e antigo presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup).
O sindicalista partilhou um pouco da história do SNESup, que foi fundado em 1989, como sindicato independente. A organização foi criada para dar reposta às reivindicações específicas do ensino superior, que não eram respondidas pelos outros sindicatos de professores, menos especializados e menos focados no ensino superior
Inquirido sobre os benefícios de pertencer ao SNESup, Gonçalo Leite Velho comparou o sindicato à Associação Académica de Coimbra, que também tem como missão defender os seus estudantes.
Explicando que um sindicato é fundamental para que as pessoas se profissionalizem, o antigo presidente do SNESup diz que o pior que aconteceu em Portugal foi a politização e instrumentalização dos sindicatos. Para Gonçalo Leite Velho, os sindicatos são fortes quando conseguem fazer valer a sua força em avanços legislativos e negociações com as entidades patronais.
Relativamente às principais conquistas do SNESup, o antigo presidente destaca dois momentos.
O mais antigo aconteceu há cerca de dez anos, quando conseguiram impor ao governo da altura um conjunto de alterações aos estatutos da carreira docente que na altura foram instituídos. Foi também por essa altura que se conseguiu que os professores do ensino superior tivessem direito a subsídio de desemprego.
A conquista que Gonçalo Leite Velho destaca mais recentemente foi o acabar com a ideia de que bolsas de investigação são uma forma adequada de financiar a ciência.
Apesar destas conquistas, o antigo presidente do SNESup ainda identifica muitas causas por que lutar, como o combate à precariedade no ensino superior, o aumento do financiamento das instituições, e as revisões do RJIES (Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior) e dos estatutos da carreira docente.
Quando questionado sobre o que é preciso mudar no RJIES, Gonçalo Leite Velho fala em “democracia, democracia, democracia”. Para o professor, as universidades são hierarquias muito verticais e pouco equilibradas democraticamente. O antigo presidente do SNESup defende que os estudantes devem ter maior direito de participação no governo da suas instituições de ensino e que devem saber que “os seus parceiros de eleição são os professores, não as reitorias”.
Gonçalo Leite Velho falou ainda dos desafios enfrentados durante a pandemia COVID-19, considerando que “a pandemia foi o maior desafio que o ensino enfrentou nas últimas décadas” e que “à conta da pandemia, o ensino superior esteve à beira de desaparecer”.